sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Por que queremos comemorar o Halloween e não o Dia dos Mortos?


Por Bernardo Aurélio

Sabe uma coisa que me incomoda? Não é somente o fato de estarmos criando uma tradição do Halloween no Brasil, não sou xenófobo a esse ponto, adoro a cultura norte-americana ou britânica, assim como também curto a arte oriental e tudo mais... O que me incomoda é muito simples: o Halloween é dia 31/10 e nós não tínhamos praticamente tradição nenhuma com essa data, mas a estamos cultivando quando poderíamos buscar reverenciar uma data muito mais próxima de nossa realidade: o dia de finados, que é dia 02 de novembro, bem pertinho desse dia das bruxas.

É claro que no Brasil há bruxas e todo esse folclore de vampiros e lobisomen, mas, inevitavelmente, quando uma menininha se fantasia de bruxa ela acaba vestindo roxo e um chapéu pontudo daqueles com o qual não vejo nenhuma identificação com nossa cultura. O que me incomoda é perceber que existe um certo esforço para que um dia crianças em todo o Brasil se fantasiem e vão de porta-em-porta pedir doces ou travessuras sem saber o real significado desse ato. Eu não sei o real significado desse ato! E nem me importo em saber... O que me incomoda é saber que já existe no Brasil uma cultura profundamente enraizada de visitar os mortos no dia 02 de novembro. Existe um ritual forte e tradicional que não foi inventado aqui no nosso país nas últimas décadas, mas é secular. Nosso dia de finados é fruto de uma cultura colonial e católita, por isso também a data é tão forte no México, que é um país muito mais próximo de nós do que os EUA.



Tenho certeza que no México, ali coladinho com a Américo do Norte, não se comemora o Halloween. Eles comemoram el dia de los Muertos! Que coisa legal! E eles comemoram mesmo! É uma grande festa e movimenta um mercado imenso, afinal: o culto aos mortos é também um culto a criaturas folclóricas e à identidade de seu povo. Se precisamos fazer uma festa para o terror no Brasil e vender aranhas de borracha e dentes de vampiro, vamos fazer isso do jeito brasileiro. Vamos festejar nosso tradicional dia dos finados! Cuidado! Pois as almas estão sempre nos observando...

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Núcleo de Quadrinhos lança obra adaptada de conto de Machado de Assis

Professos e alunos no dia do lançamento de "O Imortal".

Por Bernardo Aurélio

No último dia 14 de outubro de 2014 o Núcleo de Quadrinhos do Piauí (NQ) lançou o livro "O Imortal". Trata-se de uma parceria entre o NQ, o CEMTI Didácio Silva (do Dirceu II) e a Secretaria de Educação do Piauí.


Membros do NQ na ocasião do lançamento

A obra é fruto de uma oficina de 5 meses de duração. O objetivo era ensinar aos alunos como funciona a linguagem das histórias em quadrinhos (HQs) para depois praticá-las na adaptação de uma obra de domínio público. Não era nosso objetivo ensina-los a desenhar, esse exercício caberia a outro momento, ou mesmo a toda a vida de produção de um artista: estamos sempre aprendendo a desenhar. Mesmo porque, quase toda criança desenha. Queria focar na técnica da linguagem, não na do desenho. 



Escolhi o conto "O Imortal" de Machado de Assis porque é uma obra de fantasia, quase ficção científica, o que julguei como um atrativo para despertar o interesse dos alunos.

Nós lemos e re-lemos aquele conto. Criamos o visual dos principais personagens. Adaptamos o texto e criamos os esboços/layouts das páginas que seriam desenhadas. Desenhamos, arte-finalizamos, letreirizamos. Fizemos a capa. Tudo isso durou 5 meses, em encontros semanais aos sábados. Alguns alunos foram saindo (tudo bem, é normal), outros permaneceram até o fim! 56 páginas de quadrinhos. Uma obra!




O professor do CEMTI Patrício ajudou muito na coordenação do curso e, principalmente, na parte final, articulando com a SEDUC para conseguirmos a impressão do livro. Edjofre (funcionário da SEDUC) e Alano (secretário) aceitaram desde o princípio a ideia e não demorou para conseguirmos mandar rodar o livro.

Na ocasião do lançamento, falei de três coisas importantes que justificam esse tipo de projeto:
1) Foi o primeiro contato de 20 alunos da rede pública com um texto do Machado de Assis;
2) Esses alunos aprenderam uma linguagem com a qual podem se expressar e até contar suas próprias histórias, a partir de então;
3) Esses alunos, de 10 a 16 anos, eram agora autores com uma obra publicada.




Alunos autografando na ocasião do lançamento.

Não diria que o valor destes três itens é incalculável, porque na verdade sai até barato (inclusive um projeto para levar esse tipo de oficina para outras escolas está sendo preparado e esperamos ser tão bem recebidos como fomos com respeito à questão da impressão), mas a verdade é que o ganho para o Estado, para os alunos, para a arte, para o ensino e para as HQs no Piauí é muito grande. Não é pequeno mesmo! Tenho outras duas obras publicadas (Foices & Facões e Por Dentro do Máscara de Ferro) que são importantíssimas pra mim, mas considero "O Imortal"  muito mais significativo para a o Piauí. 


Diretora da escola (Tatá), Ssecretário de Educação (Alano), Diretor da Regional, Edjofre Coelho, professor Patrício e eu.

Ver os alunos de pouco mais de 12 anos arrodeados de gente querendo seus autógrafos, saber que pelo menos 3 mil pessoas serão atingidas diretamente com essa publicação e que podem atingir outras 3 mil pessoas se a revista for repassada para outros, e se professores utilizá-lo em sala de aula será multiplicado novamente esse alcance. Isso é, realmente muito gratificante. Obrigado a todos!

Veja aqui vídeos que foram feitos sobre esse projeto. Um feito pela SEDUC outro pelo projeto Imagine na Copa

E aqui tem uma matéria feita pelo programa Mosaico.