domingo, 7 de dezembro de 2008

O Fantástico Paradigma Indiciário e Previsão do Futuro nas Histórias em Quadrinhos

O Fantástico Paradigma Indiciário e Previsão do Futuro nas Histórias em Quadrinhos
Por Bernardo Aurélio

Resumo: Os quadrinhos a muito tempo apresentam-se de forma engajada no mundo político-econômico em que se vive devido a utilização dos paradigmas venatório e implícito para construção de uma realidade em seus textos. Neles são encontradas informações sobre a existência de uma concreta “Mão Invisível” que controla o mercado global e da atual construção de um instrumento de segurança para a perpetuação de seu poder, o Big Brother.

Palavras-chave: Quadrinhos, Paradigma Indiciário, Previsão do Futuro, Mão Invisível e Big Brother.

É bem verdade que com o movimento da escola novista e dos Annales o campo dos objetos de pesquisa para os historiadores se expandiu bastante. O recurso ignorado antes, de utilização das mentalidades e da produção da cultura de massa possibilitou o estudo, ainda que tímido, das Histórias em Quadrinhos (HQ’s) como fontes históricas. É somente devido a esta expansão que este trabalho pôde ser realizado.

Apesar da fantástica concepção de mundo encontrado na enorme maioria das HQ’s, as revistas de super-heróis, gênero mais consumido no mercado americano, com uma ciência mais próxima da magia que da razão, com super-seres voando em todos os cantos da Terra, há muito tempo elas apresentam-se de forma engajada em sua concepção da sociedade, da economia e da política. Este engajamento parte de um princípio básico de percepção da realidade. Essa percepção, claro, precisa ser aguçada e aprofundada. Desta necessidade, autores de quadrinhos, da mesma forma que historiadores, ou pesquisadores sociais, constroem um conhecimento embasado em fatos e não somente em suas percepções de mundo. Entretanto, existe uma capacidade de compreensão de uma realidade a partir de detalhes invisíveis aos olhos de leigos, isto devido, principalmente, a um fator conhecido pelos historiadores como paradigma venatório e paradigma implícito, ou indiciário, de acordo com Carlo Ginzburg: “Ambos (venatório e implícito) pressupõe o minucioso reconhecimento de uma realidade talvez ínfima, para descobrir pistas de eventos não diretamente experimentáveis pelo observador” (GINZBURG. 2003, p.152, 153). Este “reconhecimento” e “pistas” permitem ao pesquisador não apenas ter uma noção mais ampla da realidade como também pode chegar a prever acontecimentos possíveis ou perceber fatos esquecidos.

ginzburg

O paradigma indiciário baseia-se, de acordo com o estudo de Ginzburg, na capacidade do pesquisador concentrar-se em detalhes da mesma forma que um detetive estuda um crime, procurando pistas como fios de cabelo, ou quando um médico analisa os sintomas mais minuciosos para determinar qual doença atinge seu paciente. “O que caracteriza esse saber é a capacidade de, a partir de dados aparentemente negligenciáveis, remontar a uma realidade complexa não experimentável diretamente” (p. 152).

Muitos escritores de HQ’s possuem esta característica e, a partir dela, podem produzir estórias ambientada em um passado possível, um presente desconhecido ou um futuro provável. Um exemplo disto pode ser encontrado no personagem Flash Gordon, de Alex Raymond, que com suas aventuras espaciais, desde 1934, quando fora criado, serviu como antecipação no desing de futuro e serviu inclusive como estudo para a Nasa:


Ao folhear as páginas de A Conquista do Espaço, um livro editado pela NASA, encontro uma informação tão curiosa quanto surpreendente: os cientistas de Houston, velhos aficcionados dos comics, encontraram em Flash Gordon, a solução para meia dúzia de problemas sérios, em matéria de navegação espacial...
O melhor exemplo é a pistola que o primeiro astronauta americano usou para se locomover no espaço sob controle. A idéia surgiu da leitura de uma das primeiras aventuras de Flash Gordon, publicada muito antes da elaboração do projeto Apolo1 (MOYA. 1977).


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Raymond não descobriu como contornar certos problemas de navegação espacial, afinal ele era especializado em desenhar quadrinhos, mas anteviu, mesmo em relação aos conceituados funcionários da NASA, quais seriam os melhores métodos e medidas para se locomover no espaço. Perguntar como ele chegou a esta conclusão remete a uma simples resposta: a construção de um paradigma indiciário voltado para a capacidade de prever o futuro. De alguma maneira, os mínimos detalhes da vida de Raymond, vivendo sua vida, experimentando determinados conhecimentos adquiridos diariamente, juntando informações e objetivando em seguida para criar seu Flash Gordon, tudo lhe possibilitou perceber algo ainda não notado pela maioria.

Falar de previsão do futuro pode parecer absurdo em qualquer ambiente acadêmico. Entretanto, o principal objeto de estudo da história, o passado, possui suas controvérsias. Segundo Marc Bloch:

(...) a própria idéia de que o passado, enquanto tal, possa ser objeto de ciência é absurda. Como, sem uma decantação prévia, poderíamos fazer, de fenômenos que não tem outra característica comum a não ser não terem sido contemporâneos, matéria de um conhecimento racional? (BLOCH).

Carlo Ginzburg também corrobora com esta dificuldade do fazer histórico:

Ora, é claro que o grupo de disciplinas que chamamos indiciárias (incluída a medicina) não entra absolutamente nos critérios de cientificidade deduzíveis do paradigma galileano. Trata-se, de fato, de disciplinas eminentemente qualitativas, que tem por objetivo casos, situações e documentos individuais, enquanto individuas, e justamente por isso alcançam resultados que tem uma margem ineliminável de casualidade... A ciência galileana tinha uma natureza totalmente diversa, que poderia adotar o lema escatológico individuum est ineffabile, do que é individual não se pode falar...Tudo isso explica por que a história nunca conseguiu se tornar uma ciência galileana (GINZBURG. 156)

Como preferem usar os historiadores, a capacidade de “antevê” os fatos é seriamente discutida por autores consagrados do campo histórico, como Eric Hobsbawm:

(...) passado, presente e futuro constituem um continuum. Todos os seres humanos e sociedades estão enraizados no passado – o de suas famílias, comunidades, nações ou outros grupos de referencias, ou mesmo de memória pessoal – e todos definem sua posição em relação a ele, positiva ou negativamente. Tanto hoje como sempre: somos quase tentados a dizer “hoje mais que nunca”. E mais, a maior parte da ação humana consciente, baseada em aprendizado, memória e experiência, constitui um vasto mecanismo para comparar constantemente passado, presente e futuro. As pessoas não podem evitar a tentativa de antever o futuro mediante alguma forma de leitura do passado. Elas precisam fazer isto. Os processos comuns da vida humana consciente, para não falar das políticas públicas, assim o exigem. E é claro que as pessoas o fazem com base na suposição justificada de que, em geral, o futuro está sistematicamente vinculado ao passado, que, por sua vez, não é uma concatenação arbitrária de circunstancias e eventos. As estruturas das sociedades humanas, seus processos e mecanismos de reprodução, mudança e transformação, estão voltadas a restringir o numero de coisas passíveis de acontecer, determinar algumas das coisas que acontecerão e possibilitar a indicação de probabilidades maiores ou menores para grande parte das restantes (HOBSBAWM, 1998).


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Hobsbawm nos confirma que a “memória pessoal” de Alex Raymond foi fator fundamental para que ele pudesse antever o futuro através da leitura de seu próprio passado, de suas experiências e processos comuns da vida consciente. Perceber que certos artistas, ao contarem uma estória, utiliza-se dessa bagagem social, dessa percepção de mundo para criarem um cenário plausível num tempo qualquer, é compreender que esse criador, ignorando ou não o fato, utiliza-se do poder desse paradigma indiciário e da capacidade de antevê o futuro que nos falam Ginzburg e Hobsbawm.

A invasão norte-americana ao Iraque em 2003, ou mesmo em 1991, é outro exemplo de que os quadrinhos, na construção de suas ficções, anteciparam-se sim, ao fatos do mundo real. Na estória intitulada Superpoder (Superman: Superpoder. nº 05. Ed. Abril. Dez, 2000. Pág. 99-162.), um novo super-herói chamado apenas de “Mark” alia-se a personagens clássicos como Super-Homem, Batman e Mulher-Maravilha no grupo conhecido como Liga da Justiça (LJ). Desejando fazer mais que salvar algumas cidades de assaltos a bancos, ou outras atitudes heróicas do tipo, banais por assim dizer, decide realizar algo mais importante em relação ao mundo e, mesmo contra a opinião de todos seus aliados, invade um país fictício do Oriente Médio chamado Kirai com a intenção de depor um governador tirano do poder, salvando todo seu povo e levando-os à liberdade. Não é difícil encontrar fatos semelhantes em outras revistas (Liga da Justiça, O desenho da TV: Na Estrela Perdida, nº 03, Ed. Panini. Abril, 2003 (nos EUA, em maio de 2002).pg.15), mas o exemplo mais incrível é a de uma estória publicada originalmente em 1990 (Justice League Quarterly # 1), também em uma revista da Liga da Justiça (Publicado no Brasil apenas em agosto de 1992, na revista LJ nº 44. Editora Abril), onde, em uma reunião de representantes das maiores empresas do globo, “(d)as pessoas que movem nossa nação e o mundo”, são definidas metas para se produzir e patrocinar um grupo de super-seres denominado Conglomerado, que estaria sobre inteira tutela destes homens.

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O Conglomerado seria utilizado como um grande empreendimento de relações públicas, pois a atual sociedade, que responde tão instintivamente a imagens, enxerga os heróis como símbolos da verdade e justiça. Nada melhor para limpar o nome de empresas capitalistas pintadas por muitos como “vilões do mundo”, responsáveis pelas desigualdades e misérias ao redor do globo. Pois bem, uma das tarefas que o grupo recebeu foi, com a desculpa de instaurar um governo democrático, intervir em uma pequena ilha da América Central, controlada por um ditador megalomaníaco, mas fica claro a existência de motivos econômicos. Em comparação ao Iraque, geograficamente é diferente, mas, ideologicamente, não. Tanto na realidade quanto na ficção se utilizaram de argumentos políticos de salvação e libertação nacional e de instauração da democracia para invadir militarmente determinados países que não agradavam aos EUA ou a certas facções de sua economia.

Não é exatamente com a intenção de buscar provas do paradigma indiciário e da capacidade de antevê o futuro dos escritores de quadrinhos que se pretende trabalhar aqui. Isso é apenas importante para que se dê credibilidade às futuras revelações. É a respeito deste grupo de empresários que se reunira para formar o Conglomerado que será discutido a partir de agora... É bem sabido que certas indústrias de base, como siderúrgicas e petrolíferas, detém um enorme poder no mundo simplesmente por serem fundamentais no estilo de vida contemporâneo. O final do século XX configurou-se com o surgimento de um novo tipo de indústria: a da informação, da comunicação, considerados por alguns como o quarto poder do Estado. Esses empresários, industriais, seja de qual forem suas áreas, representam uma enorme influência para a sociedade, principalmente devido ao fato de estarem no topo, em um nível global, da cadeia de consumo. Sobre este grupo, pode-se citar a minissérie em duas partes A Mão Invisível.

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A respeito do título, pode-se dizer que “Mão Invisível” é o nome dado à tendência abstrata da produção e consumo mundial, ou seja, é algo intangível que empurra o mercado. Na minissérie (publicada em setembro e outubro de 1998, pela editora Abril) nos é apresenta um fantástico mundo incrivelmente real onde esta mão invisível realmente existe. Concretiza-se na figura de pessoas como as que foram apresentadas em Conglomerado, ou seja, o grupo dos mais ricos, poderosos e influentes empresários que, em reuniões comuns, como quaisquer outras que se conhece, decidem no que devem ou não investir, onde o planeta Terra representa um leque de variedades e determinam o que se irá produzir e consumir nos próximos anos. Ou seja, eles são a “tendência” concreta.

Tudo é bastante explicado, principalmente o fato da impossibilidade de um grupo como este ter surgido de maneira natural ou em pouco tempo. Muito pelo contrário, suas origens remontam o nascimento do sistema monetário, o que já conta cerca de 500 anos, e a centralização dos Estados Nacionais no século XVIII, com a eventual união da burguesia com nobreza. Fica claro que esta “mão” não é o Estado, mas se encontra acima dele (ver anexo, fig 5).

Nessa minissérie, em relação aos homens que secretamente armavam planos para dominar a nova economia liberal nascente, lê-se:


Para alcançar seus fins, nenhum meio, nem o mais odioso estava fora de cogitação. Mas sua mais poderosa arma veio de uma idéia, a noção do livre comércio, popularizada por seu mais ilustre divulgador, Adam Smith. A noção de que mercados poderiam ser automaticamente manipulados por uma ‘mão invisível’ foi o disfarce perfeito para seus projetos. Eles estavam tão tomados por esta idéia que adotaram a ‘Mão Invisível’ como seu nome oficial e assim são conhecidos desde então. (LABAN, 1998. n. 1, p. 8)


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De uma forma ou de outra, abstrata ou não, a Mão Invisível existe e se a historia tradicional ignora o fato de que ela possa ser concreta ou intensamente atuante, não se deve simplesmente ignorá-la. É notório o saber de quê o que não se conhece, a informação entre linhas, o não revelado, são de fundamental importância para a compreensão do quadro histórico em todos os lugares no mundo. De certo que, como o título deste artigo coloca, o que se está estudando aqui sãos as possibilidades fantásticas que autores de quadrinho podem conceber através através de deduções lógicas e perceptíveis, mesmo que sejam incapazem de provar. Portanto, acreditemos na fantasia de que a Mão Invisível é concreta e presente a todo instante.

A Mão Invisível detém, então, um grande poder de controle e ordem global, e para se manter nesta posição privilegiada é preciso que se construa artifícios de perpetuação do poder. Não é preciso, entretanto, muito estudo para se perceber que o mundo atual configura-se na procura da segurança e manutenção do status quo partindo do simples exercício da observação. Quando se entra em ônibus, supermercados, postos de gasolina e até mesmo, bancas de revista, é comum se encontrar cartazes vistosos com a frase: “Sorria! Você esta sendo filmado”. Até mesmo ruas movimentadas, avenidas ou campos de futebol, áreas de grande aglomeração de gente, são hoje vigiadas por lentes de câmeras de vídeo.

“Se queres uma imagem do futuro, pense numa bota pisando um rosto humano – para sempre” (O’Brien, in 1984, de George Orwell). Esta frase, de conhecida obra, nos remete a um mundo onde sua sociedade é, a todo instante, observada e controlada pelo olho do Big Brother (BB). O Estado subjuga seu povo e, vigiando-lhes a todo momento, consegue manipulá-los e manter-se no poder, impedindo qualquer manifestação ou rebelião ainda em suas mais primárias origens. Desta forma, os que estão em cima nunca cairão.

O que se observa na contemporaneidade é um estágio inicial na construção do BB, onde o poder se encontra dividido em vários interesses privados, mas com as mesmas metas colocadas no livro de George Orwell, de observação, segurança e perpetuação do privilégio. Ou seja, ainda não existe um ponto para onde convergiriam todas estas informações captadas pelas lentes em inúmeros pontos das cidades. Ainda não existe o Grande Irmão.

Desta forma pode-se chegar à conclusão de que o Big Brother, como o já se vivencia hoje, em seu processo de instalação, é um instrumento que a Mão Invisível, ou pequenos empresários, utilizam para manter-se em sua posição, sem eventuais perigos, pois ele impede, inibe o homem de qualquer atividade fora-da-lei.

Numa pequena estória, de apenas 8 (oito) páginas, intitulada Vigilante, publicada pela editora Opera Graphica, na revista DC Comics Vertigo nº 10, em maio de 2003, é apresentado um mundo catastrófico em um futuro bastante próximo onde a sociedade observa-se a si própria e esquece do mundo a sua volta, não se dando conta que, acima deles, um grupo os observa observando (ver anexo, fig 6).
Numa cena em que o protagonista conversa com uma garota através de um monitor de televisão (interessante que eles são vizinhos, moram no mesmo prédio, mas não tem contato carnal, preferem o vídeo), é colocado o seguinte diálogo:

– Você andou saindo? Todos estão ocupados observando uns aos outros. O que é mais incrível é que alguém ainda esteja tentando se relacionar. Quer dizer, quem se importa com isso?
– Já faz um mês que não saio. Tem muita coisa acontecendo por aqui. Quase fiquei sem comida.

(...)

Já te falei da Jane, a mulher que me observa? Ela tem me olhado desde antes da revogação do direito da privacidade. Nos tempos em que ele era legal, ela viu umas portas muito esquisitas. Uma vez ela estava navegando ao acaso e começou a observar um homem estranho (...) Numa outra vez acabou observando uma sala que ficava sempre escura, um breu total, exceto por um vão de porta que deixava passar uma luz Branca e intensa. Havia uma figura na porta, apenas uma silhueta (...) Não teve como dar um close. A única coisa que acontecia era que, de vez em quando, a figura saia e fechava a porta (...) Ela se sentia como se estivesse olhando para algo muito grande e estranho para ser realmente visto.
(SHEPARD. 2003, p. 4-5)


O protagonista conclui a conversa dizendo que:

...[a figura era] o destilado irredutível do universo, o impulso básico do cosmos de observar a si próprio, de se definir no fim das contas e se consumir no processo. Quando todos estiverem, finalmente observando a todos, tudo irá desaparecer. Esse é o sentido de toda a falta de sentido (SHEPARD. 2003, p. 6).

Dessa forma, a estória mostra um retrato caricatural de nossa sociedade. E o que é uma caricatura, senão o exagero de uma realidade? É apresentado um mundo em que as pessoas observam-se uns aos outros e que existe algo acima delas, discreto e misterioso, o que poderia ser a própria Mão Invisível. Nas gravuras das páginas e nos diálogos encontra-se transfigurada a alienação do povo, que, tão preocupado em suas individualidades de observar e ser observado, esquece-se da condição do mundo. As ruas em volta do prédio onde moram os protagonistas está um caos e eles não ligam (ver anexo).

Um outro exemplo mais conhecido da utilização do Big Brother nos quadrinhos é “V de Vingança”, escrita pelo inglês Alan Moore e desenhada por David Lloyd. Esta obra foi originalmente criada no início da década de oitenta e teve uma recente adaptação para o cinema, em 2006. Em V de Vingança a Inglaterra é governada por um poder ditatorial que usa a mídia de várias maneiras para controlar e vigiar a população. Interessante observar que o governo é dividido em várias seções, existe, por exemplo, os “agentes dedos”, que são policiais. De certa forma, é possível notar a presença do conceito da Mão Invisível no governo utilizando seus dedos para policiar a população.

v de vingana

Pode-se afirmar, com toda certeza, que a mão invisível existe, talvez da forma que a revista demonstre, talvez apenas como uma tendência abstrata, mas é por isso que se reafirma que a realidade dos quadrinhos é fantástica, surpreendente e, acredite, crível. É importante que fique claro que não se deve relacionar a produção dos quadrinhos com a futurologia, até mesmo porque as ciências humanas não aceitam este conhecimento como válido. O que as HQ’s fazem são representação de um tempo passado ou presente e previsões fictícias com embasamento no real para o futuro, utilizando-se dos paradigmas venatório e implícito. Ao mesmo tempo que também não se deve esquecer que os quadrinhos se propõe unicamente a ser um veículo de comunicação de massa e arte, consubstanciando-se como literatura iconográfica. De certo que, sabendo de tudo isto, o texto colocado nos balões e os desenhos dos quadrinhos são totalmente suscetíveis a erros, simplesmente pelo fato de serem produções humanas.

Assim sendo, a mão invisível e o Big Brother podem, perfeitamente, não se apresentarem como as HQ’s os abordam, mas isso, sobre maneira, não diminui o significado da produção quadrinhística a respeito deles. O simples fato de se encontrarem informações ou indícios, “pistas”, como diria Ginzburg, de suas existências nos quadrinhos é, por demais suficiente para considera-las a uma análise mais detalhada.

Bibliografia:

GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. IN Mitos, emblemas, sinais: Morfologia e História. 1ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

HOBSBAWM. Eric. Sobre história: ensaios. São Paulo: Cia. das Letras, 1998

BLOCH, Marc. Apologia da História ou Oficio de Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2001.

MOYA. Álvaro. Shazam!. São Paulo: Perspectiva, 1977. 3ªed. p. 48.

Fontes:
ARCUDI. Jonh; EATON. Scott. Superman, nº 5. São Paulo: Abril, 2000.

NICIEZA. Fabian; DELANEY. Jonh. Liga da Justiça, nº 3. São Paulo: Panini, 2003.

GIFFEN. Keith; MATTEIS. JM de. Liga da Justiça, nº 44. São Paulo: Abril, 1992.

LABAN. Terry; ILYA. A Mão Invisível, nº 1 e 2. São Paulo: Abril, 1998.

SHEPARD. Lucius; WESTON. Chis. DC Comics Vertigo, nº 10. São Paulo: Opera Graphica, 2003.

Um comentário:

Pikachu Sama disse...

Cara, meio pertubador saber que somos parte de uma maquina que nao nos deixa enxergar que depois da janela com grades, existe chuva caindo.... gostei muito do artigo, prinpalmente pela visao das H.Q´s, veleu!!!