Colheu mostra da água de onde costumava banhar-se na infância. Vestia um traje de proteção, pois a medida ainda era indicada.
Quando saiu da cidade para iniciar estudos em biologia, o local não era mais ponto de encontro para amenizar tardes quentes. Com o gradual crescimento do comércio, percebeu em suas visitas rotineiras, que a água se tornava turva, parada, fedorenta.
O resultado dos testes que fazia não procurava o vírus. Atestava, porém, o evidente. Talvez nem tudo voltasse ao normal, mas a barragem parecia renascida.
Ninguém à vista. Despiu-se. A pandemia já passara. A roupa protocolar seria descartável em pouco tempo.
Nua, mergulhou para um banho de nostalgia, vigiada pelos olhos de curiosos escondidos por trás das frestas das portas e janelas das casas e comércios fechados ao redor.
(Bernardo Aurélio, quarentena, 2020)
Durante a quarentena, o banco Itaú lançou alguns editais de incentivo à cultura. Em um deles, era preciso escrever um conto de, no máximo, 800 caracteres. Este foi o que eu escrevi e com ele fui premiado. Muito obrigado!