terça-feira, 30 de setembro de 2014

Sin City – A dama fatal é muito bom

Ave!, Eva é Ava.

(Leia sem medo. Nada comprometedor)

Assisti recentemente ao novo Sin City. Que filme, heim? Não resisti e no dia seguinte fui até meu armário, peguei os 7 volumes publicados pela Devir. Dei uma folheada para relembrar e tentar fazer uma comparação. Li algumas páginas. Impressionante. Miller parece escrever e desenhar como se estivesse gravando em pedras. Irretocável. E que adaptação de Dama Fatal! Tirando alguns detalhes, apenas para tornar a história mais fluida no cinema, e até melhorando o efeito visual de algumas cenas que o audiovisual proporciona: como os carros rodeando Marv, como se fossem seus pensamentos, na cena de abertura do filme.

Pense numa porrada doida!

Enquanto assistia, reconheci facilmente algumas cenas espetacularmente adaptadas para a telona, como Ava pulando do trampolim e escorregando gentilmente para dentro da piscina, que ficaram gravados em minha memória de quando li o álbum, mas também fiquei angustiado porque não reconhecia as outras histórias que compuseram o filme. Na primeira adaptação, usaram A Grande Matança, Assassino Amarelo e A Cidade do Pecado (além do conto “O cliente tem sempre razão”, que é a abertura do filme), histórias que focam em Dwigth, Hartigan e Marv, respectivamente. As outras 4 edições publicadas no Brasil são: A Dama Fatal, A Noite da Vingança, De Volta ao Inferno e Balas, Garotas & Bebidas. Essa continuação para o cinema tem como base, obviamente, A Dama Fatal, narrando a história pregressa de Dwight, ou seja, conta uma história anterior ao que vimos no primeiro filme, que tem também outras duas histórias, além do curta “Mais uma noite de sábado” (sequencia de abertura).

Poker.

As histórias que me inquietaram durante o filme, porque não as reconheci, é uma sobre jogos de Poker com o Senador Roark (pai do Assassino Amarelo) e outra que mostra a vida de Nancy, a dançarina apaixonada por Hartigan, como se fosse a continuação direta daquilo que vimos no filme anterior. Ora! Essas histórias não foram desenhadas por Miller! Ou pelo menos não foram publicadas por aqui, até onde eu sei. Corrija-me quem puder! O fato é que são também muito boas histórias, e eu conseguia visualizá-las em 2D, nanquim e preto & branco em alto contraste.

Hartigan e Nancy.

Algumas das mudanças mais sentidas foi a troca de alguns atores. Dwigth não é mais Clive Olwen (mas tudo bem, isso nunca seria um problema, se você conhece os quadrinhos). Miho também mudou, o que parece ter agradado a maioria. A falta mais sentida é a ausência de Michael Clark Duncan como Manute, mas tudo bem, arrumaram também um ator à altura do personagem, não incomoda tanto.



É um filme irreal, com seus exageros maravilhosos, exalando hormônios e fumaça. Recomendo muito. Vá assistir com a namorada, porque minha mulher disse que é até um filme romântico.




Obs: Ainda há muita coisa daquela cidade baixa que não foi adaptada para os cinemas. Esperando um terceiro filme, de volta ao inferno, e que não demore tanto para acontecer.

Tchau!

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Entrevista com Solda

Dando continuidade a minha sequencia de entrevistas sobre o Salão de Humor do Piauí, que começou com o prefeito de Parnaíba Florentino e depois com o cartunista Klevisson Viana, chegou a vez de Luiz Antonio Solda. 

Essa entrevista foi realizada dia 15 de novembro de 2013, em Parnaíba, durante o período do 30º Salão de Humor do Piauí. Aproveitem!



Bernardo Aurélio: Solda, primeiro eu gostaria que você se apresentasse e falasse um pouco sobre suas origens.
Solda: Bom, eu sou paulista, de Itararé (em Teresina tem um bairro chamado Itararé, não tem? Coincidência!), moro em Curitiba desde 1965 e há quarenta anos que eu trabalho em jornais. Trabalhei em todos os jornais de Curitiba, menos um. Trabalhei em muitas agências de propaganda, artes gráficas. 40 anos de carreira, né! Eu adotei um nome que não é um pseudônimo, “Solda” é meu sobrenome. Muita gente quer botar o nome completo, mas eu tenho um tio chamado Luiz Solda. Então me chamo só Solda, mesmo.

BA: Pessoal diz que o Salão do Piauí não quebra porque você vem soldar aqui há mais de 10 anos...
Solda: Pois é! Uma coisa estranha porque em 2002, eu acho, o Albert tem duas ex-mulheres em Curitiba e quatro filhos, e eu sou muito amigo deles. Aí teve uma época que eu tive depressão profunda em Curitiba, eu não falava com ninguém, mesmo. O Albert tentava falar comigo e não conseguia. Um dia ele ligou eu atendi. Eu pensei: “Pô! O que é que esse cara queria comigo?”. Ele disse que precisava falar comigo sobre o Salão do Piauí (que eu já tinha ouvido falar, né!). Ele foi pra Curitiba visitar os filhos e nós marcamos um encontro num bar e nós conversamos e começou a rolar as coisas.



BA: Isso foi da primeira vez que você veio?
Solda: Foi. Mas eu já conhecia ele do Pasquim. Ele havia publicado algumas coisas no Pasquim. Foi através do Pasquim que nós nos conhecemos, e através dos filhos dele.

BA: Você também publicou no Pasquim?
Solda: Sim, mas muito pouco.



BA: O Albert chegou a morar um tempo no Rio e muita gente diz que o conheceu pela redação do Pasquim...
Solda: Eu nunca estive no Pasquim. Mandava pelos Correios (naquele tempo não havia internet). Eu conheço todos eles, o pessoal do Pasquim. Às vezes eu ia pro Rio, encontrava um. Às vezes eles vinham para Curitiba, eu encontrava outro, Millor, Jaguar e tal...

BA: Como você começou a trabalhar com desenho?
Solda: Esse negócio de desenhista, eu creio, que todo mundo que lida com arte, com cultura assim, com música, por exemplo, ele tem uma tendência natural, já nasce com aquilo. Não tem uma faculdade que forme chargistas. Tem uma faculdade de jornalismo! Lá em Curitiba, por exemplo nós temos um jornalista que tornou-se chargista porque estava fazendo jornalismo. Ele pensou: “olha só...”. Então, eu desenho desde criança. No ginásio, por exemplo, eu fazia trabalho pros amigos, eles me pagavam o lanche e tal. Quando eu fui pra Curitiba eu já desenhava e eu arrumei emprego de auxiliar de escritório na rede ferroviária federal, que tinha uma revista chamada Correio dos Ferroviários, cujo editor era um cara entendido de histórias em quadrinhos, Denizar Zanelo Miranda, que tinha uma coleção fantástica de gibis. Eu mandei um desenho pra ele e ele se interessou, pediu desenhos pra mim. E como a revista não tinha verba, ele me pagava do próprio bolso. E foi indo, foi indo, foi indo... Ele também tinha uma coluno no jornal e começou a publicar meus desenhos, aí a coisa rolou.



BA: Esse trabalho com Denizar foi o primeiro trabalho profissional?
Solda: Foi! E veja só, ele pagou do bolso dele, porque a revista não tinha verba. E foi gozado porque a revista Correio dos Ferroviários era uma mescla assim, que era pra ser de informações pra rede e tal, e tinha essa parte, mas era menor. O negócio dele era fazer uma revista cultural pros ferroviários. Uma coisa fantástica, pra época: 1969, eu acho...



BA: E como foi que você começou a participar de Salões?
Solda: Eu ganhei o Salão de Piracicaba 3 vezes. Eu sou da mesma fornada do Angeli, do Laerte, do Glauco. Depois que a gente ganhou duas, três vezes, a gente passou a fazer parte da comissão de seleção, dos jurados e tal. Depois eu falei: “não quero mais participar de salão de humor”, porque a gente fazia charge contra a ditadura e, em Piracicaba mesmo, eles pagavam a passagem, a gente ficava em hotéis luxuosíssimos, comia da melhor comida. Eu falei: “Isso é uma ironia, cara. A gente tá combatendo o sistema que oprime o povo, e a gente tá lá desse jeito!”. Não que eu fosse contra as pessoas que fizessem isso, mas era uma maneira deles levarem os caras pra lá. Mas eu não gostei, então decidi não participar de salão onde houvesse dinheiro envolvido.

BA: O Albert chegou a depor na polícia em Teresina por conta dos desenhos. Tu teve algum problema parecido?
Solda: Tive. E foi em 2011! Eu era chargista do jornal Estado do Paraná. Na ditadura eu também já publicava, né? Mas eu não tinha medo. Era uma coisa que a gente tinha de fazer. Não existe humor a favor. Eu só tinha medo do Comando de Caça aos Comunistas, eles mandavam um folhetim pra você, dizendo: “Você é o próximo, seu filho da puta” e tal, “Cuida bem da tua família”, sabe? Então eu ficava com receio. Mas agora eu tenho medo do politicamente correto. Foi por causa disso que me meteram o pé-na-bunda no jornal. Eu fiz uma charge sobre o Barack Obama, e eu usei o termo “república das bananas”, que foi criado por um humorista americano em 1956, referindo-se a Honduras, e a partir disto, espalhou-se por toda a América Latina. E quando Barack Obama esteve aqui eu fiz uma charge. Ele era candidato, eu andava com uma camisa dele que um amigo havia trazido de Nova Iorque: “Yes we can”, né? Eu acreditava que haveria mudança. Mas aí quando ele chegou no Rio, interditaram uma grande área, até os ministros tinham de tirar o sapato... Daí o Barack Obama vai ter um almoço, vai comer uma comida típica e banana! Um macaco deu uma banana [fez o gesto levantando o punho] pro Barack Obama. Daí, todo mundo que olhou a charge achou que eu era racista. Eu fui investigado pelo Ministério Público, fui absolvido e fui intimado pela polícia federal.



BA: Quer dizer que durante a ditadura tu não teve problema?
Solda: Não! Mas pelo politicamente correto eu fui mandado embora do jornal.
Eu tenho um site que vai chegar a 5 milhões de acessos. Eu sempre botei fotos de amigos. A menina que cuida da Gibiteca de Curitiba é uma negra lindíssima, uma pessoa maravilhosa, a Maristela. Uma negra fantástica e eu gosto muito dela. Se eu boto uma foto ao lado dela no site as pessoas ficam dizendo: “Olha aí!  Agora fica querendo se passar como amigo”.
Eu sou, por exemplo, contra o dia da consciência negra. Porque aí você teria de fazer o dia da consciência amarela, parda...  Você sabe? Deviam criar o “Dia Nacional da Consciência Pesada”. Aí limpava a barra de todo mundo!
O racismo existe. É velado mas existe, poxa! E parte dele vem dos oprimidos, dos negros, dos transgêneros...

BA: E o Salão de Humor do Piauí você conheceu dessa visita do Albert a Curitiba?
Solda: Ele foi lá e eu só conheci quando cheguei aqui. Lá no Sul tem horário de verão, né? Eu cheguei aqui em 2003 e a primeira coisa que tinha de fazer era dar uma entrevista ao Bom dia Piauí. A entrevista era na praça e com o horário de verão, eu pensava que tinha aqui, eu cheguei cedo e pensei “porra, que coisa fantástica!”. Tava tudo montado já, os trabalhadores passando de bicicleta, os alunos rindo... As pessoas estavam no Salão, já! Era muito cedo, 5 ou 6 horas da manhã e já tava todo mundo lá se divertindo. Eu fiquei deslumbrado! Porra! Isso é fantástico! As pessoas não tinham que sair do trabalho, voltar pra casa, tomar banho, botar uma roupa (que talvez eles nem tenham) e ir pra um lugar que talvez eles nem sejam admitidos.



BA: As pessoas costumam comparar o Salão daqui com o de Piracicaba, perguntando qual o mais importante, o maior... Qual a sua opinião sobre isso?
Solda: Olha, eu nem sei. O Salão de Piracicaba tem 40 anos já, mas é uma coisa mais lá do sul, entende? Embora concorram pessoas de outras partes do mundo, os convidados de lá são de lá mesmo. Também não acho nada, eles tem direito de fazerem o que quiserem. Aqui tem gente de todo o mundo, né? Tem muita gente distante. Porque o Paraná tá tanto aqui? Mas sabe o que é que é? O Albert me paga a passagem, a Fundação paga pra eu vir até aqui, me hospeda, porque eu fico muito feliz em dar oficina. Eu me sinto recompensado porque as oficinas que eu dei em Teresina, o olhar das crianças dizendo “que coisa!”... Em princípio, eles não querem desenhar. Eu pergunto por que? Porque eles querem levar o papel pra casa. Aí eu sempre dizia: “Olha, vocês desenham aqui, depois eu requisito pra fundação um bloco de papel chamex pra cada um e uma caixa de lápis de cor”. E eles ficavam felizes.

BA: Um das diferenças que eu percebi, conversando com os convidados, é que tem essa coisa do Salão na rua e dos convidados trabalhando. Parece que é o grande diferencial do Salão do Piauí com o de Piracicaba. Porque os outros salões não fazem isso?
Solda: Pra falar a verdade, eu não vou a Piracicaba desde 1979, então eu não sei exatamente o que está acontecendo por lá. Eu vejo na internet, tem o site do Salão, mas é que nem o site do Salão daqui, não tá bem atualizado. Mas eu creio que eles devem fazer isso também. É uma coisa tão fácil.



BA: Você vem desde 2003 ao Salão do Piauí. Já faz 10 anos. Quais são as melhores experiências que você tem com o evento?
 Solda: Como eu sou lá do Sul e o Piauí é o terceiro estado mais pobre do Brasil, né cara? Eu fiquei impressionado com a receptividade do povo. É muito gentil. Os adolescentes de Teresina tem um vocabulário maior que os adolescentes do sul. E eu nunca dei autógrafo na rua em Curitiba, em Teresina eu dei autógrafo. “Você é o Solda?” E também pela participação das pessoas, a comissão que organiza o Salão é toda formada de universitários, todos conheciam pessoas de Curitiba, a Helena Clout, o Paulo Leminski...

BA: Qual a lembrança ruim do Salão?
Solda: O ruim do Salão foi o ano passado. Houve um esvaziamento completo. Pra quem já esteve aqui há dez anos, era fantástico! Imagino como era isso em 1982. Devia ser uma loucura total. Ano passado houve um esvaziamento que deixou muita gente chateada. E outra coisa, quando o Silvio Mendes era prefeito, tinha uma exposição minha na avenida Frei Serafim, era eu, Jaguar e um artista plástico de Teresina. O prefeito de Teresina havia dado autorização pra montar a tenda lá. Quando foi de manhã o Albert recebeu um telefonema de que o prefeito havia determinado que fosse retirado a exposição. Mas retirada de forma violenta. Chamaram o lixo da cidade e arrancaram a exposição de lá, jogaram em cima do caminhão. Destruíram, praticamente, a exposição. Custou dinheiro! Removeram por causa da reforma que havia sido feita na avenida. Mas o prefeito havia autorizado a exposição. Segundo me consta, ele havia autorizado.
                Também tem uma coisa: Minha ligação com Teresina tem muito a ver com Torquato Neto. Porque eu também sou poeta, desenho, pinto... Mas eu já conhecia o Torquato e ele chamava a cidade de Tristeresina e tal. E depois eu constatei que era só o Torquato que achava aquilo. Ele e o pessoal dele. Não existe uma Tristeresina. Existe uma “Alegresina”. Mas aqui em Parnaíba é mais agradável porque tem vento. Em Teresina, a única exigência que eu tinha com o Albert é que ele me desse toalhas, apoiadas no ombro, pra enxugar o suor. É muito calor!

BA: Já que citou Parnaíba, porque trazer o Salão pra cá? Por que da mudança depois de 29 edições?
Solda: A pessoa mais indicada pra falar disso é o Albert, mas eu acho que foi o esvaziamento do Salão passado. Todo evento tem um pique, permanece lá em cima por um tempo, depois vai descendo. Qualquer coisa! Em Piracicaba também houve isso, mas eles deram uma guinada depois. Eu creio que foi isso. E, chegando aqui, foi muito triste porque as pessoas não tavam sabendo. Não houve divulgação da maneira como devia ser feita. Aqui não tem transporte coletivo. Não tem ônibus, cara! Como é que as pessoas ficam na praça se a última van, que é o transporte da cidade, é as dez horas da noite. Os universitários daqui saem 10min pras 10h pra não perder a van. As aulas vão até mais tarde, mas eles tem de sair 10min pras 10h senão eles perdem a van! Isso é inadmissível.

Solda com outros convidados, na noite de Parnaíba.

BA: Você acredita que pode dar certo aqui em Parnaíba?
Solda: Eu creio que sim. Havendo divulgação, mas devido a infraestrutura da cidade, a falta de transporte coletivo, é uma coisa que vai demorar, viu cara! Veja quem mora na periferia! Porque a classe média não interessa absolutamente o humor, algumas pessoas sim, mas quem a gente quer atingir mesmo é o povo. Nosso objetivo é o povo, porque quem precisa saber das coisas e se manifestar é o povo. A classe média já está devidamente estabelecida, não quer que mude nada.

Cartaz do 30º Salão. Por Solda.

BA: O Albert falou de colocar o Salão à ferro e fogo em Parnaíba. E falou muito do turismo cultural. Então todas esses questões passam por esse problema. Como fazer turismo cultural numa cidade como Parnaíba?
Solda: Sim. Veja bem, hoje é feriado [15 de novembro de 2013]. Todo mundo ontem já saiu de Teresina pra ir pro Delta. Eles não veem aqui pra ver o Salão. Vieram fazer turismo. Quando podiam ficar um dia aqui e depois ir pra lá. Mas eles não sabem.

BA: Dentro desta perspectiva, qual a importância do Governo do Estado para realizar um evento como esse?
Solda: O governo tem o dever de ajudar os eventos, porque nós pagamos os impostos. Então o que a gente quer é que esse dinheiro seja devolvido pra nós e uma forma é patrocinando eventos públicos. Se o Frank Aguiar tem 3 milhões pra fazer um filme sobre ele (e ele tem direito de fazer isso) nós também temos o direito de ter o retorno desses impostos que a gente paga.

BA: O Albert criou a Fundação Nacional de Humor para gerir o Salão de Humor. Tirou esse evento das mãos do Estado. Que acha disso?
Solda: Olha, todo mundo em Curitiba fica surpreso quando falo de Fundação Nacional de Humor. Eles dizem: “onde fica isso?”. Eu digo: “Em Teresina”. “Fundação Nacional de Humor em Teresina?!? Não pode!” [risos].
Eu acho que o Albert descobriu uma forma de se desvencilhar de alguns aspectos burocráticos da melhor maneira possível.

BA: Os salões geralmente são gratuitos. Um salão não gera renda pra financiar outro salão. Até porque quem patrocina normalmente é o Estado. Como é que funciona esse mercado da cultura para esses salões?
Solda: Eu tenho algumas ideias sobre isso mas não conversei com ninguém sobre isso. É preciso conversar com o Albert. Cada cartunista que participa do evento poderia criar uma obra, um desenho, que pode ser vendido e revertido em benefício para a Fundação Nacional de Humor. É uma forma de arrecadar dinheiro. Se você pegar um desenho de cada um! Além de você vir para o Piauí, trabalhar, participar de debates, fazer oficina, você doa alguma coisa: desenhos, livros. Todo nós doamos livros. A FNH tem uma biblioteca exclusiva de cartunistas.

BA: Algumas pessoas comentam que o Salão veio pra Parnaíba por problema de má organização, problemas administrativos. Culpam o Albert Piauhy por significar demais o Salão. O grande “nó”, o problema do Salão, hoje, é o Albert Piauhy?
Solda: Olha, ele não me explicou os motivos do porquê veio pra cá, mas eu creio que foi o esvaziamento. Mas pode ser também, não sei...

BA: Gostaria de deixar o espaço para você colocar algo mais que que eu não tenha perguntado.

Solda: Como você é uma pessoa envolvida, eu sinto falta de histórias em quadrinhos no Salão de Humor. Porque existe um movimento forte, você sabe disso. Não sei porque não existe quadrinhos aqui. Tirinhas. É uma coisa que deveria ter. Porque aqui tem o cordel e tem o Klévisson com os quadrinhos dele. Uma coisa fantástica. 

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Entrevista com Klevisson Viana

Seguindo a linha de publicações que farei nas próximas semanas, trago a segunda entrevista que fiz durante o o 30º Salão Internacional de Humor. Dessa vez, minha conversa com Klevisson Viana, um dos convidados que esteve em Parnaíba durante o evento. Gravamos no dia 14 de novembro de 2013.



Nossa conversa é sobre as origens dele, sobre políticas culturais e sobre o Salão de Humor. Aproveitem!



Bernardo Aurélio: Primeiro, vamos fazer as apresentações, como você pode se apresentar?
Klevisson Viana: Eu nasci na zona rural, no município de Quixeramobim, que é importante na região central do Estado do Ceará, sendo que o acesso para a cidade de Canindé era bem mais viável do que o propriamente para a sede do município de Quixeramobim. Geralmente são municípios muito grandes e a zona rural maior ainda e eu vivi na zona rural e só vim ter contato com televisão aos oito anos de idade e com as histórias em quadrinhos também, mas de certa forma eu já tinha um interesse muito grande pelo desenho: uma coisa que já nasceu comigo, porque eu ia visitar um primo do meu pai que era vaqueiro e as paredes do alpendre da casa dele eram cheias de cenas, de desenhos, ele tinha por hábito registrar cenas do cotidiano dele, como os homens primitivos faziam nas cavernas. A vida cotidiana dele com o gado ele registrava nas paredes da casa dele. Era uma coisa muito interessante isso, e aquilo era muito marcante pra mim. Ele era uma pessoa muito querida na comunidade e esse dom, esse talento que os sertanejos, as pessoas de lá, não compreendiam muito bem, mas aquilo alí já tocava meu coração muito cedo. Eu despertava para aquelas imagens.
                A minha mãe fazia um trabalho de bordado e ela pegava aquelas linhas de várias cores e eu achava bonito aquela mistura. Era uma coisa meio como Van Gogh, que para pintar as telas dele, pegava novelos e mais novelos e misturava tudo para se inspirar. As cores do Van Gogh vem dos novelos de fios, como ele pinta, como ele descreve as cenas... Então, tem muito dessa coisa, essa minha primeira infância na zona rural foi muito marcante porque foi muito lúdica e tomando banho de barreiro e andando em lombo de cavalo sem cela, essas coisas, né? Sendo que quando eu tinha 3 para 4 anos chegou um grupo de mais ou menos 20 vaqueiros encourados e aquilo foi uma cena muito marcante. Era como se fosse pessoas de outro mundo que estavam chegando ali. Era aquela coisa do cavaleiro medieval, que meu pai gostava de contar histórias e, apesar de ser um homem simples e agricultor, ele tinha uma leitura muito vasta. Lia de tudo e lia sempre muito pra gente. Ele acabou, sem intenção nenhuma, formando uma família de leitores, dando exemplos. Até hoje ele é leitor. Largou a agricultura porque a saúde já não é mais tão boa, mas ele continua leitor. Isso influenciou muito.
                Em 1980, eu tinha 7 anos, e nós fomos embora pro Canindé porque eu tinha mais 4 irmãos e nós tínhamos necessidade de estudar, e a escolinha rural lá só tinha até o terceiro ano, aí não teria pra onde seguir.  Lá foi um choque cultural muito grande, porque a gente acostumado a morar numa casa, onde o vizinho mais próximo ficava a 1km de distância e, de repente, você vai murar numa cidade com quase 100mil habitantes... E outra coisa, quando chegava o período dos festejos de São Francisco a cidade era milhões de visitantes, gente de toda parte do Brasil. Caldeirão cultural. Sem precedentes. Penitentes. Curiosos. Turistas. Então, eu cresci dentro dessa efervescência. Quando chegava nesse período, vinha os vendedores de folhetos e de toda sorte de bugiganga que camarada possa imaginar que exista na face da Terra. Se torna uma grande Medina, né? Um grande mercado. Aquilo ali foi muito importante.
                Já em Canindé eu passei a me juntar com outros meninos que gostavam de desenhar e, na escola mesmo, eu usei muito isso pra ganhar merenda. Às vezes, o cara tinha dinheiro pra comprar merenda e dizia: “Desenhe aqui o Popeye pra mim que eu lhe dou um lanche (risos). Desenhe o Superman que eu lhe dou um lanche!” Então os meus primeiros cachês foram esses.
                Até quando foi em 1985, por aí, eu passei a desenhar com mais frequência. Quando foi em 1988 meu irmão mais velho criou uma revista, um fanzine chamado “Tramela”, aí eu estreei nesse fanzine com uma tira, que era de um pedinte, chamado Negativo. Aí, quando o fanzine acabou, eu não me conformei e criei um só pra mim, chamado Arapuca, que teve várias edições, até uma em offset.
O Arapuca abriu muitas portas, já naquela época eu ficava muito atento a publicações como o PQP, que era um jornal importante na região norte, o jornal da Puta Que Pariu, que publicava muito quadrinho, cartum, humor. Tinha também o Torre de Babel, que era um jornal dos mineiros, o pessoal do Planeta Diário, do Casseta Popular, da revista Mad, tudo isso aí influenciou bastante. E já nos anos oitenta eu gostava muito de quadrinhos do Daniel Azulay, dos quadrinhos do Eli Barbosa e, principalmente aquela equipe dos grandes cartunistas que trabalhavam nos Trapalhões, como Cárcamo, o Bira Dantas... Então, aquilo alí foi o que forjou, em parte, o que eu sou hoje. Foi muito importante para minha formação. E a Mad também, que foi uma descoberta tardia, mas que eu passei a comprar e esperar ansiosamente todo mês nas bancas. Quando você mora numa cidade que só tem uma banca de revista, se a revista não vem, o cara esquece de trazer, é uma tragédia, você não tem outra opção. Às vezes a gente até escrevia para a editora, para comprar, e vinha pelo correio.



Aí eu criei a Arapuca e comecei a produzir meus próprios trabalhos sem depender de ninguém pra publicar, aí ela foi tomando forma. Quando eu tava com 16 anos, sendo o irmão mais novo, eu ganhava dinheiro com fanzine. Eu fazia 200, 300 cópias e botava debaixo do braço e ai nas repartições públicas, nas agências bancárias e vendia aquele produto ali e era uma coisa viável pra mim. Porque a família batia muito de frente, meu pai queria que eu trabalhasse no comércio, aquela pressão, mas quando ele viu que eu tava ganhando alguma coisa ele recuou e me deixou à vontade. Eu entendo a preocupação, porque meu pai é uma pessoa que passou dos 70 anos mas ele passou a vida inteira doente, então ele pensava sempre assim: “se eu faltar, você tem que saber se virá”. Então, depois ele ficou tranquilo quando percebeu que você ganha alguma coisa e pode bancar sua própria despesa... Engraçado que essas pessoas doentes vivem muito porque elas passam a vida inteira cuidando da saúde, né? Quando os muito saudáveis morrem de repente! (risos)


BA: Quando você percebeu que era um profissional dessa área, dos desenhos e publicações?
KV: Eu sempre quis ser profissional. Nunca me vi como amador. Diferentemente de muitas pessoas que mesmo quando se profissionalizam continuam com a cabeça de amador. Eu sempre pensei a coisa profissionalmente. Pra mim, a arte é aquela que se autofinancia. Essa coisa de que o Estado tem de ficar sempre colocando dinheiro é... Eu tava lendo uma entrevista com o Fagundes, numa revista da TAM, e ele tava dizendo que “eu faço sempre questão de ter lucro ou prejuízo, mas não vou atrás de patrocinador, porque se eu for atrás de patrocinador o meu trabalho cai de qualidade, porque a maioria dos profissionais dizem, isso aqui já tá pago mesmo, eu faço de qualquer jeito”. Tá entendendo? Só pra prestar contas. Mas quando você tem que agradar a simpatia do público e conseguir êxito no que você tá fazendo, aí você tem que se virar, tem que fazer o melhor que você é capaz de fazer. Nesse aspecto, eu não tiro as razões dele, porque o incentivo nessas leis pode lhe ajudar muito, mas eu vejo também que o dinheiro é muito desperdiçado por isso. Porque excelentes profissionais pegam dinheiro, mas como é dinheiro público ele não se esforça pra fazer uma coisa melhor. Isso não é regra, né? Tem aquelas pessoas que utilizam o dinheiro muito bem e, às vezes, com dinheiro público, chega a fazer milagre. Mas eu acho que se você consegue fazer um trabalho que se sustente, é melhor ainda, e essa é apolítica que eu levo até hoje. Tenho uma editora desde 1995 e meu trabalho não tem subsídio público, e se mantém. Acho isso bacana.



BA: Que tipo de publicações são?
KV: Eu publico literatura popular e histórias em quadrinhos também. Publiquei um álbum muito bonito do Sérgio Lima, um desenhista importantíssimo daquela geração do Eugênio Colonesse, do Jaime Cortez. Então, o Sérgio Lima morreu na década de 1970 e eu peguei uma HQ dele que havia sido publicada precariamente em papel jornal, negociei com a editora que era proprietária dos direitos autorais, restaurei todinho o trabalho do cara e publiquei em um álbum de luxo: O Pavão Misterioso.
Só depois eu vim saber que o Sérgio Lima foi o primeiro cartunista do Brasil que se vestia de mulher, antes do Laerte.

Peguei essa foto no face do Kenard Kruel, com a seguinte legenda: "I Salão Nacional de Humor de Fortaleza - 1992 Organizado pelo cartunista cearense Klévisson Viana (cartunistas convidados - Paulo Caruso,Carlos Amorim, Atorres Graphic) - via JBosco Azevedo"

BA: E como você começou a participar de Salões pelo Brasil?
KV: Eu comecei a participar de Salões porque nessa época, por volta de 1987, 88, eu peguei um jornal do PQP e eu vi o anúncio do Salão de Humor do Piauí (não era nem internacional). Aí eu fiquei doido pra conhecer esse Salão. Aí tinha um senhor lá que era o professor, muito amigos dos alunos e tal, muito amigo da gente, ele gostava de tá incentivando a gente a desenhar, e às vezes até dava dinheiro pra gente comprar o papel e a tinta, era um mecenas assim, dentro das possibilidades dele ele tava metendo a mão no bolso. Por sinal, ele chama-se Laurismundo e foi um dos fundadores do Salão de Humor de Canindé. Ele tinha um carro velho, botou gasolina, encheu de menino e a gente veio pra Teresina, pro Salão de Humor, com a cara e com a coragem. Aí nós encontramos o Albert Piauhy, um cara extremamente carismático, uma pessoa que, como todo ser humano, tem defeitos, mas ele nos acolheu tão bem, aquilo ali foi tão bom pra gente, tão positivo, porque se a gente tivesse chegado ali e não tivesse tido a menor atenção, eu acredito que muitos ali não teriam ido adiante, teriam desistido e no entanto nós fomos bem acolhidos. Ele não tinha grana pra botar em Hotel, então ele nos botou na casa da mãe dele, tá entendendo? A gente tinha um cômodo lá. De certa forma eu sou um filhote do Salão de Humor do Piauí, porque eu tava começando e o Salão foi muito importante pra mim.
                Aliás, antes disso, tinha caído em minhas mãos um catálogo do Salão de Humor de Pernambuco. Aí eu disse assim: “Rapaz eu vou fazer um Salão de Humor em Canidé”. Aí juntei os meninos tudim que sabiam desenhar, aí tinha uma casa velha lá, nós fizemos uma galeria lá, chamamos de Salvador Daqui, em homenagem a Salvador Dali que tinha acabado de morrer. Aí nós organizamos a “Primeira Mostra Canideense de Humor”. Quando foi no dia da abertura, nós havíamos mandado releases pros jornais, quem aparece lá? O Mino, o Albert Piauhy e o José Elias. Aí eles viram a mostra e nos convidaram para vir o Salão de Humor do Piauí, aí nós viemos nesse carro velho e quando chegamos aqui ele hospedou a gente, muito bem hospedados. Então isso foi um ponto muito bacana, positivo.
Eu trazia uma pasta de desenhos e lembro que esse Salão foi muito impressionante a quantidade de artistas incríveis. O cara trouxe bem uns 60 grandes nomes do Cartum nacional. Lembro que tinha uma mesa assim, gigantesca no Clube dos Diários, só com a nata do cartum nacional. Os maiores nomes estavam ali: Ziraldo, Jaguar, Fortuna, os Carusos, Jayme Leão, Jô Oliveira, só cara fera! Aí eu cheguei ali com a pasta de desenhos, encabulado pra caramba, sentei perto do Ziraldo, mostrei os desenhos pra ele e mineiro é assim: dá tchau com a mão fechada. Uma coisa horrível. Atravessam o canal da mancha com uma sonrisal intacta na mão. Mas Ziraldo foi muito generoso, porque ele pegou minha pasta e olhou desenho por desenho e comentava onde podia melhorar. Aquilo ali foi extremamente importante, porque ele, um cara já lendário nas histórias em quadrinhos e no cartum, parar 60 minutos ou mais para dar atenção a uma pessoa que está começando, eu acho que aquilo ali foi muito importante. Então tenho um carinho muito grande por ele e pelo Albert, porque me acolheram dentro da profissão, do meio. O Mino também, do Pasquim, tenho a revista dele até hoje.
Aí quando foi no início de 90, passou um primo da minha mãe lá em casa, um senhor já, e ele viu meus desenhos e ficou perturbado. Achou que tinha por obrigação de fazer alguma coisa por esse menino. Ele foi pra Fortaleza, conversou com o filho dele que trabalhava numa rede de escolas particulares e conseguiu uma vaga pra mim na gráfica do Colégio Capital e eu fui lá, trabalhar ilustrando apostilhas. Era um trabalho extremamente sacal, porque as vezes você fazia ilustrações mas também fazia gráficos, desenhar mapas, que eu não gostava de fazer. Trabalhei um mês e pouco, e era uma exploração muito grande, não pagava nem um salário, eu ainda tinha que pagar o almoço, e o transporte era do meu bolso e morava muito distante, na periferia da periferia.
Aí um dia eu disse assim: “Eu vou lá no jornal O Povo”. Liguei pro trabalho e disse: “Eu não vou trabalhar hoje não porque amanheci doente e tal”. Dei uma desculpa esfarrapada. Fui bater lá no jornal O Povo. Eu tava passando na praça e, parece a providência, né? Na hora que você está tão desejoso de uma coisa que parece que todo o universo conspira pra dar certo. Na praça eu encontro com o Valber Benevides, um grande caricaturista, disse assim: “olha rapaz, José do Egito, lá no jornal O Povo, precisa de um desenhista. Vá lá conversar com ele”. Aí eu fui, cheguei na editoria de arte do jornal, entrei, mostrei a pasta de desenhos pra ele Aí ele pegou os desenhos e saiu espalhando pra jornalistas. Eu fiquei meio assim angustiado. Demorou uns 10 minutos e ele disse: “Bora aqui na sala do editor”. O editor disse assim: “Você quer trabalhar aqui?”. Eu disse: “Quero”. Ele disse: “Aqui eu só posso pagar tanto. Se quiser, bem, se não quiser...”. Eram quatro salários mínimos (risos).


BA: Tu tinha quantos anos?
KV: Eu tinha 17 anos, nasci no final de 1972. Menino, comecei a ganhar 4 salários mínimos. Meu pai veio do interior pra assinar minha carteira.


BA: Costumam comparar o Salão de Humor do Piauí com o de Piracicaba. Afinal, qual o mais importante?
KV: Eu conheço o Salão de Piracicaba, é muito bonito, mas eu achei um pouco elitizado, ao passo que o Salão do Piauí, nos seus bons tempos, era o Salão mais lindo do mundo. Porque era no meio de uma praça, democrático, mesmo aquelas pessoas que não eram habituadas com arte iam passando na rua e viam um desenho bonito, paravam pra olhar. E o Salão foi responsável por revelar dezenas de desenhistas bons aqui no Piauí, criou uma geração de bons ilustradores e desenhistas. Foi uma coisa espetacular o que o Salão fez pelo estado do Piauí. Hoje, que ele está numa situação delicada, depois de passar por tantas tempestades, está sobrevivendo. Lógico que o tempo mudou e o Salão não podem mais permanecer naquele formato original, eu até entendo em certo ponto o Albert, ele é um visionário. Às vezes você pensa que o cara está errando [sobre o fato de tirar o Salão de Teresina e trazer para Parnaíba], mas ele pode estar um passo à frente e o tempo prova que ele está com a razão. Eu tava falando com ele ontem e me disse que não tem mais interesse em mostra competitiva, quer fazer salões com mega exposições de grandes artistas convidados, tá entendendo? Eu acho isso aí bacana porque as mostras competitivas, de certa forma, estão um pouco desacreditadas, e são sempre as mesmas pessoas que ganham. O cartunista, como qualquer outra categoria, é meio coorporativista, acaba votando no colega dele. É difícil julgar isso, porque os desenhos são todos assinados e você conhece todo mundo, acaba convivendo com todos eles. Acaba puxando a brasa pra sua sardinha, não tem nem escapatória. Então, eu acho que essa coisa da mostra competitiva não é tão necessária quanto se pensa. Se você faz um grande evento, com apresentações, oficinas, palestras, um grande encontro do humor, com excelentes exposições que você possibilite que o cara aprenda com elas, acho que isso pode dar uma contribuição muito maior. É um novo formato. Um novo conceito de Salão, porque, normalmente a mostra competitiva prevalece. Eu acho que tem margem, espaço para um evento nessa natureza. Você economiza tempo e dinheiro. Porque você não paga prêmio, não gasta com correios, não levará tanto tempo pra selecionar e julgar. Tudo isso é custo. Acho que é como nós fizemos em Canindé: uma mostra.



BA: Quantas vezes você veio ao Salão do Piauí?
KV: Rapaz, não tenho esse dado. Vinha com muita frequência, vim muitas vezes. E raro são os anos que não vinha. Quando não vim tinha de acompanhar pela imprensa. Nos últimos 10 anos foi quando parei um pouco, faltei umas três vezes, porque o Salão entrou em declínio e isso dificultou. Porque o Salão mudou de coordenadores algumas vezes, com alguns a gente se dava muito bem, outros nem tanto. Como minha ligação era mais com o Zé Elias e com o Albert, quando eles se afastavam um pouco eu acabava me afastando também.

Turma que veio para o 30º Salão. Klevisson, segundo na coluna de cima.

BA: Qual a melhor lembrança do Salão?
KV: Ter conhecido o Fortuna, pra mim é uma pessoa que não teve o reconhecimento merecido, pela dimensão e grandiosidade do trabalho dele. Ele era uma pessoa muito calado, na dele... Ziraldo nem se fala, porque é um patrimônio nacional, não cartunista mais famoso do que Ziraldo. Talvez só Maurício, na fama, sendo que o público de Ziraldo é muito mais diversificado, que pega desde a criança ao adulto e o Mauricio tem um foco na criança e no adolescente. Também tive o prazer de conhecer outros artistas, como João Cláudio Moreno, quando ele não era nem humorista, ele é meu amigo desde 88, quase todo dia a gente se fala pelo facebook. E essa ligação profunda que tenho com o Estado do Piauí. Acho assim: primeiro lugar o Ceará e segundo lugar o Piauí. E eu digo sempre, quando vejo as pessoas falando mal de Teresina, falando que é quente: que o calor de Teresina é proporcional ao calor humano, porque não tem povo melhor, mais humilde e hospitaleiro do que o do Piauí. As pessoas são sempre muito agradáveis, gentis. Acho que o Piauí tem muito o que ensinar ao resto do Brasil. Em termos culturais nem se fala, porque aqui a gente tem uma escola fantástica de escultura em madeira e barro, os santeiros, fabulosos. A escultura no Piauí é uma das escolas mais fortes. Um dia eu cheguei no mercado tava um cara fazendo uma escultura lindíssima, e ele tava todo empacotadinho, todo arrumadinho com uma roupinha branca, manga comprida, com o “canivetezim” na mão, uma toalha forrando as pernas Eu disse: “O senhor trabalha desse jeito, todo “arrumadim?”. Ele disse: “É! Eu não me sujo.” O cara era um puta mestre.


BA: E qual a pior lembrança?
KV: Uma lembrança ruim e ao mesmo tempo cômica. É que o Lapi uma vez foi jurado e tinha um cartunista lá de Alagoas, o Manuel Viana, que veio para o Salão e falou muito que era rico que tinha ganho na loteria não sei quantas vezes, e que tinha comprado uma fazenda e colocado os paus da fazenda tudo em formato de lápis e quando foi à noite, o Manuel Viana tava concorrendo e o Lapi era um dos jurados. Só por sacanagem o Lapi disse assim: “Eu não lhe dou o prêmio não porque você já é rico”.  Aaah, meu amigo, saíram os dois nos tabefes em frente ao Theatro 4 de Setembro. Foi Biratan Porto quem apartou a briga. Sabe o que Manuel Viana fez quando a briga foi apartada? Correu no hotel, pegou a mala dele e foi embora no mesmo instante. Nunca mais veio ao Salão.
Muita gente faz humor, mas nem todos tem senso de humor.

Ilustração de Klévisson Viana.

BA: Qual a importância do Estado, dos governos, para a realização do Salão?
KV:É muito importante porque, mesmo que entre dinheiro da iniciativa privada, o governo tem que bancar uma parte. O Salão é um evento que contribui, principalmente, para a educação do povo. Eu vejo com muita tristeza essa escalada da violência no país e o governo investindo cada vez mais em armamentos e o povo gastando o que não tem com segurança e todo mundo apavorado. Como é que você vai combater fogo com fogo? Você vai combater violência com mais violência? Se as pessoas estão violentas você vai bater mais ainda nas pessoas? Eu vejo o seguinte: o policial é maltratado dentro do quartel, ele é cobrado, quando chega no cidadão comum ele faz a mesma coisa. O mesmo tratamento que ele recebeu dentro do quartel ele quer dar ao cidadão comum, ou então quando pega um bandido, desconta nele. Aí o bandido pega o cidadão, que não tem nada a ver com nada, e trata “ôh, seu vagabundo!”. Quer dizer, a inversão dos papeis e dos valores. Isso é terrível.
                Enquanto o Estado não compreender que a educação, a cultura e o esporte é a chave pra livrar a gente dessa situação terrível que a gente tá vivendo, a gente não vai sair do canto e a tendência é só piorar. E eu acho que a saída está, principalmente na cultura. Você acha que uma pessoa que entra para uma escola de dança ou uma orquestra ele vai virar marginal? Dificilmente! Um cara que entra numa escola de pintura, de artesanato, que encontra um meio pra viver dignamente do seu trabalho, que bota a autoestima dele lá pra cima, acho que ele vai se envolver com coisas negativas? Não vai, cara! A arte é a chave, o caminho.
                Então, um evento desse é de uma importância social fantástica. Quando ele traz para uma cidade como Parnaíba, uma cidade bacana, de porte médio, mas que não acontece nada, eu acho que pode ser um caminho pro Salão permanecer.
                Eu acho que o Salão não tem recebido mais atenção dentro da cidade de Teresina porque acabou se tornando uma coisa comum, é tipo um parente próximo, que tá todo dia ali e você não dá mais o devido valor que ele merece, afinal de contas, o cabra já completou trinta anos e já pode se virar sozinho (risos).

Lampião, por Klevisson.

BA: Depois de 29 anos o Salão mudou de cidade. Quais são suas impressões sobre isso?
KV: Eu acho que o Salão está tímido, mas é um caminho, está procurando se renovar pra não morrer. Isso eu vejo com excelentes olhos. Também não era de se esperar uma mega participação popular se é o primeiro [em Parnaíba]. Às vezes também há falha na divulgação, mas também há pessoas que não querem sair de sua zona de conforto para irem ver nada. Mas eu acho que o Salão tá no rumo certo, se ele quiser se manter ele tem que procurar renovar, se modificar, uma vez que o formato que havia sido trabalhado esses anos todos já não estava mais surtindo o mesmo efeito, tava se tornando uma coisa repetitiva. Tem que procurar outros caminhos mesmo. Eu achei meio tímido mas tem muitos méritos nessa nova proposta.


BA: O Albert criou uma fundação para gerir o Salão, tirando-o do Estado. Que acha sobre isso?
KV: A criação da Fundação Nacional de Humor era pra ter acontecido desde o primeiro momento. Acho que o Estado não tem condição de gerir um certame dessa natureza, porque mudam os governantes e os gestores com muita frequência e muitas vezes aquele que entra não tem o mesmo entusiasmo de manter o evento naqueles mesmos moldes. Lembro quando o José Elias Arêa Leão era o diretor da FUNDAC o Salão era um mimo em todos os aspectos, nada faltava para o Salão. O Albert era aquele cara, o curador que imaginava coisas mirabolantes e o Zé Elias ia atrás tentando encontrar a grana para viabilizar esses sonhos. O Albert tinha a cabeça de artista e o Zé Elias era o gestor. Então, esse braço faltou para o Salão. Porque as pessoas envelhecem, vão perdendo o entusiasmo... O Zé Elias tá velhinho, abandonou há muito tempo o Salão. Quando o Zé tava junto, que ele era o braço político do Salão, não houve nenhum Salão no Brasil maior que o do Piauí, nessa fase de ouro. Mas o Salão pode voltar a experimentar outros momentos tão bons quanto esses. Depende de perseverar, de continuar na batalha.


BA: Como funciona a relação de uma iniciativa privada, que é a Fundação Nacional de Humor, gerir dinheiro público para realizar um evento público como o Salão?
KV: O Estado se mete nas coisas com o pretexto de ajudar e, às vezes, até atrapalha, como por exemplo: tem um grupo tradicional lá no Ceará chamado Penitentes, lá em Barbalha, que são beatos, numa comunidade que já tem mais de 100 anos. Aí o Estado pega um elemento daquela coletividade e transforma em Mestre da Cultura. Você já causa um mal-estar, porque outros mereciam também e não recebem o mesmo reconhecimento, e aquele que recebe o reconhecimento fica se sentindo em um patamar mais elevado, superior aos demais, o que vai causando atritos. Ao invés de agregar acaba desagregando aquele grupo. Tanto que o Estado acabou reconhecendo seu erro e agora dá o prêmio para o grupo todo, reconhecendo-o como um tesouro vivo da cultura, o que é mais sensato.
Um projeto com esse do Salão, agora que nasceu de novo, mas sempre tem as coisas que precisam ser ajustadas, na próxima edição já pode ser melhorado tal ponto porque isso aqui não funcionou, elimina umas coisas, cria outras, e vai ajustando até chegar a um ponto que a máquina fique bem azeitadinha pra poder ir adiante. Mas o poder do Estado na cultura é fundamental desde que os gestores não se intrometam tanto no trabalho dos produtores. Porque esse negócio de você dizer como o produtor tem de fazer seu trabalho é de “lascar”. Ou você dá o dinheiro ou você não dá, cara. Porque nem sempre o Estado está qualificado ou tem pessoas corretas pra estarem dando essa opinião, no entanto, eles decidem o que será apoiado e o que não vai, e nem sempre aquelas pessoas que estão lá são imparciais, às vezes elas estão favorecendo alguém que é colega de alguém, que é filho de fulano, tá entendendo? Por vias tortas...


BA: Qual é a melhor maneira do Estado selecionar e decidir o que será apoiado?
KV: Eu ainda acho que os editais é a maneira mais democrática. Porque eu lembro que antes dos editais, os pequenos produtores culturais sequer tinham acesso ao Secretário de Cultura Marcavam uma reunião e jamais eram atendidos e quando levavam uma pautazinha mínima de reivindicações, eles diziam logo que não tinham dinheiro, enquanto pra outras coisas sempre havia dinheiro. Isso acontece muito nas pequenas cidades, por exemplo: o cara traz uma banda pra cá e paga 150mil reais. O cara esquece que com 150 mil reais o cara fomenta durante o ano inteiro grupos de teatro, dança, pintura... Tá entendendo? Ele faria uma verdadeira revolução dentro do município dele com essa mixaria, que ele gasta em poucas horas de um show, muitas vezes com um grupo que se apresenta e se você perguntar 15 minutos pra um elemento daqueles qual o nome da cidade que ele se apresentou ele não se lembra mais.  Ele vai embora e não deixa nada para aquele município.
                Há o interesse muito grande dos gestores por coisas caras. Por que que não falta dinheiro para o cinema, uma arte tão cara? Porque num filme de R$3milhões o cara pode desviar R$500mil. Agora no projeto de um livro, que interesse é que tem um gestor corrupto na impressão de um livro que custa R$15mil? O máximo que ele vai conseguir tirar dali é 3 contos! Então ele quer é projetos grandes, mirabolantes, que envolva grandes montantes que ele possa tirar o dele ali sem ser percebido.

                E a lei do Mecenato no Ceará? Rapaz é uma lei que precisa passar urgente por umas mudanças. Porque você é aprovado na lei e recebe uma carta de captação de R$100mil e eles lhe dão 90 dias pra captar. Esse tempo, às vezes, só a empresa que você pretende que lhe apoie leva para analisar seu projeto. Aí acaba seu prazo e o Estado publica no diário oficial que o Estado deu R$100mil pra instituição tal fazer tal coisa. Não deu porra nenhuma! Porque se o Estado quisesse ajudar de verdade ele arrecadava esse dinheiro das empresas e já destinava logo à cultura, sem precisar que o produtor cultural vá com o pires na mão de empresa em empresa passar por essa humilhação e, muitas vezes não dá certo. Se o Estado tem o dispositivo pra fazer isso, automaticamente. Essa burocracia é tão grande e é criada para que seu projeto não dê certo. 90% das iniciativas naufragam, que é pra esse dinheiro ir para o Estado e não para a cultura. Eles ficam posando: “Olha! Destinamos R$5milhões para a cultura”, sendo que o que é captado ali não dá nem R$1milhão. Nós mesmos não conseguimos captar um projeto de R$100mil, perdemos a carta de captação. 

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

CdZ é ruim!


OBS: CHEIO DE SPOILLERS!

Assisti ontem ao filme dos Cavaleiros do Zodíaco no cinema. Ele é ruim! Entendo que o filme é muito curto e que precisava fazer cortes bruscos, tem apenas uma hora e meia para tentar resumir quase 70 episódios, até achei algumas saídas bem legais, como o fato do Seiya dizer: “Gente, tenho uma ideia pra gente chegar rápido na próxima casa...” e dá um pulo! Isso é ótimo! Não precisam ficar 3 episódios correndo de uma casa para outra. Afinal, porra!, eles são Cavaleiros do Zodíaco que abrem fendas no chão com um chute! E se movem na velocidade do som, ou mesmo da luz!

Também há recursos bons, como a entrada de Shaka e a aparição de Kamus, bem utilizados para ganharmos tempo, algo precioso nesse filme mas que foi muito mal aproveitado. O começo do filme é unânime! Todos gostamos! Os cavaleiros de ouro lutando no espaço! Que show! A introdução do Seiya e companhia são também muito convincentes, apesar do diálogo de Saori com o mordomo (esqueci o nome desse insignificante e irritante personagem), tipo: “Oi, Saori, você completou 16 anos. Vamos dar um passeio de carro que preciso lhe contar que você é uma deusa reencarnada”. E ela responde, tipo: “Como assim? Ok”.

Máscara da Morte é muito péssimo ou você deve assistir até entender?

Como estava dizendo, o tempo é precioso no filme, mais um motivo para não fazer aquela cena na casa de Câncer. Um musical! Meu Deus! Que vergonha! Nem é pelo musical em si, que é um gênero que eu adoro, mas é porque a cena é ridícula de propósito, pra fazer “otacus” de 10 anos gargalharem. E eu nem sei se isso funcionou porque na sessão que eu assisti a idade média devia estar entre 25 e 30 anos. E ficou um silêncio gélido, mortificante e envergonhado na sala durante toda a cena. Eu olhava para as pessoas ao meu lado e eles tinham a angustiante expressão no rosto: “Isso não vai acabar nunca?”

Esse é o grande problema do filme, talvez apenas para nós, beirando a casa dos 30: o humor demasiadamente infantil. O filme tem três cenas engraçadas (Seiya encostando o dedo no leão, Shiryu palestrando sobre as 12 casa e a galera fugindo do seu discurso, o Seiya tentando explicar o plano pra Saori e sendo atropelado pelos colegas), o resto é puro constrangimento pra qualquer público um pouco mais exigente ou menos imaturo (afinal, estamos falando de CdZ, talvez eu esteja apenas velho demais): toda cena em que o mordomo falava eu queria me enterrar na poltrona e o Seiya gritando, abobalhadamente, com a mão enfaixada na cena com a Saori... Meu deus! Meu dinheiro de volta, por favor!



Vi que o produtor do filme queria apresentar os personagens para um novo público, jovem, mas é preciso lembrar que trata-se de uma homenagem aos 40 anos do criador Kuramada e de 25 anos da obra. Ou seja, uma animação que sempre foi  muito mais ação e drama, preferiu focar agora no humor infantil, quando, na verdade, seu público envelheceu. Um legítimo tiro pela culatra. Quer renovar o público? Façam isso primeiro no mangá e na tv. Os produtores tinham de pensar na plateia global. CdZ é um sucesso mundial há mais de 20 anos, ou seja, conquistar o exigente e sempre reciclado mercado japonês com o cinema não deveria ser a prioridade. “Vamos apostar em quem nós sabemos que gostam de CdZ”, essa deveria ter sido a pauta, aí poderiam continuar fazendo um filme censura 10 anos que o resto do público viria pela boa crítica, os pais trariam os filhos e os sobrinhos, despertando uma nova geração.

Outra coisa, se o objetivo era apresentar os personagens principais, seria muito mais inteligente fazer a Saga do Torneio Galáctico tendo o Ikki como vilão e deixar as 12 casas para depois, já que o produtor tenciona fazer outros longas, porque esse filme foi, na verdade, um grande desserviço para os cavaleiros de bronze. Porque o problema do filme não foi só o humor, foram as lutas nas 12 casas (reparem que eu nem reclamo a falta de sangue censura 10 anos). O que os bronze fizeram contra os cavaleiros de ouro? Nada! Shiryu vence Câncer. Ok. Mas aquele Máscara da Morte até mesmo o Shun venceria. Hyoga vence Kamus. Ok. É a única luta onde um bronze realmente valeu alguma coisa. Nas demais lutas, nenhum cavaleiro de bronze faz nada! Nenhum deles desperta, de verdade, o sétimo sentido, afinal, o que é aquela “bazuca” no braço do Seiya? Até o Ikki! Até o Ikki, que chega botando moral, não faz porra nenhuma. Quem salva o dia é o cosmo da Atena e da alma de Aioros de Sagitário, upando o Seiya.


Hyoga salvando o dia (e eu nunca fui fã dele)

Continuando, se o objetivo era apresentar os protagonistas para uma nova geração, fizeram isso muito mal. Nenhum bronze consegue empolgar nas lutas contra os ouro. Não dá tempo de sentir o cosmo subindo. Não há tensão para atingir o sétimo sentido. Não há drama ou sequer esperança de que os bronze possam fazer algo contra Shura de Capricórnio ou Milo de Escorpião (que é uma mulher e não fez diferença nenhuma). Benza deus que aquele Ikki raquítico não teve de lutar contra Shaka de Virgem. Quer dizer, tudo muito frustrante.


Enfim, a grande vantagem desse filme foi corrigir o lance das armaduras dentro dos colares, que vi no primeiro episódio de CdZ Omega (só vi o primeiro episódio). Porque agora elas continuam dentro do caixote de ferro clássico... Ok, o caixote fica dentro do colar, mas agora está muito melhor.

Obs: É ruim mas eu gostei.

sábado, 6 de setembro de 2014

Entrevista com prefeito Florentino sobre o Salão de Humor em Parnaíba

Por Bernardo Aurélio

Prefeito Florentino e Albert Piauhy

Durante o 30º Salão Internacional de Humor do Piauí - Parnaíba, que aconteceu em novembro de 2013, eu estive lá e conferi de perto. Fiz uma série de entrevistas com convidados e com o Prefeito Florentino, que falou sobre calendário cultural, políticas de cultura, SALIPA e projetos de infraestrutura para aquela cidade, além de muita conversa sobre o Salão de Humor. Espero que gostem. 

Entrevista com prefeito Florentino, Parnaíba, 17 de novembro de 2013. Durante o período de realização do Salão Internacional de Humor – Parnaíba.



Bernardo Aurélio: Qual é a importância para o Estado ou a Prefeitura realizarem um evento como o Salão de Humor do Piauí?
Florentino: Eu acho que cabe ao Estado, seja na esfera federal, estadual ou municipal, ser um agente indutor da cultura. Patrocinando, auxiliando os movimentos culturais e aqui em Parnaíba nós temos um esforço hoje para que nossa cidade seja um destino turístico como efetivamente é. Parnaíba hoje é considerada um dos 65 destinos indutores do turismo no Brasil, mas inegavelmente nós temos aqui grandes potenciais naturais que colocam Parnaíba nesse hall de destinos indutores do turismo, mas nós não temos em Parnaíba um calendário cultural que em qualquer época do ano fortaleça esse destino. Porque o turista, ele vem para cá para conhecer o Delta, ver a praia, para conhecer todos os nossos atrativos naturais, mas esse mesmo turista quer e tem direito de conhecer a nossa história, a nossa cultura, participar de eventos e por isso Parnaíba tem de ter esse calendário cultural. Mas não é só por isso, na verdade a cidade precisa ter um calendário cultural. Uma cidade sem calendário cultural é uma cidade que esquece seus artistas, não dá oportunidade para os mais jovens e para as crianças ter acesso à cultura. Então a cidade precisa, por ser uma aglomeração urbana, as pessoas que moram, efetivamente necessitam. A cidade precisa como destino turístico. A cidade precisa porque os artistas precisam, porque as pessoas que fazem a cultura aqui precisam ter um meio de expressão, agora a vinda do Salão de Humor para Parnaíba é uma enorme contribuição para que a gente possa ter mais um evento consolidado, um evento que não é uma tentativa, não é uma experiência nova. Na verdade é um evento consolidado que escolhe vir para Parnaíba e aí eu acho que é muito importante para nossa cidade porque nos ajuda no sentido de sempre termos eventos culturais aqui.
Para o Salão eu acho também que é muito importante porque ele vem para uma cidade que tem um fluxo turístico que é um dos 65 destinos indutores. Então, na verdade, eu acho que é importante para o Salão e muito importante também para a cidade.

Bernardo Aurélio: Você falou de calendário cultural, que é uma coisa fixa, permanente. Como a gente pode imaginar o Salão como uma política de estado, independente de governo? Um evento como o Salão deveria ser construído dentro de um calendário e continuar, independentemente das próximas eleições?
Florentino: As coisas se constituem pela repetição. Nós estamos na 30ª edição do Salão Internacional de Humor do Piauí e esse Salão já deveria ter sido absorvido pelo poder público no sentido, não de o poder público fosse dirigir sua realização, porque na verdade o poder público auxilia, contribui... Você não pode perder a autenticidade do Salão. Mas é impressionante como nós não tivemos ainda a capacidade, no Estado do Piauí, de entender que este é um evento que, se foi realizado por 29 edições, é um evento que a população absorveu. Se ela absorveu esse evento, se ela incorporou-o dentro de seu calendário, automaticamente as pessoas perguntam “quando é que vai ser o Salão?”, então nós não podemos ir contra esse movimento. Então eu quero dizer que aqui em Parnaíba nós, no governo do prefeito José Amiltom, implantamos aqui a realização do Salão do Livro de Parnaíba – SALIPA, que segue o mesmo modelo do Salão do Livro do Piauí – SALIPI, que está em sua 11ª edição sendo realizado em Teresina e o SALIPA teve agora a sua 4ª edição, neste ano, quando eu tive a oportunidade de assinar um projeto de lei, no encerramento das atividades do Salão, em que já enviei para a Câmera, e esse projeto prevê que fica estabelecido a obrigatoriedade da realização anual do SALIPA, que não poderá deixar de ser realizado sob qualquer pretexto. E estabelece que o SALIPA deverá ser incluído no plano plurianual e na lei orçamentária anual. Todo os planos plurianuais vindouros e nas leis orçamentárias anuais. Isso é o que transforma um evento numa ação integrante de uma política pública. Já o Salão de Humor não é uma política pública. Ele é uma ação integrante de uma política pública. E, efetivamente, foi isso que aconteceu com o SALIPA: a partir do próximo ano ele é um evento obrigatório que tem sua realização inclusive regulado por lei, que estabelece que ele deverá ser realizado no período escolar. Então, esse é o passo, com três anos de realização do SALIPA nós o tornamos uma atividade obrigatória e eu acredito que o Salão de Humor do Piauí mostrou já que tem um potencial, que é reconhecido nacional e internacionalmente e às vezes assusta um pouco a gente como é que com 29 edições não houve ainda esse reconhecimento. Mas Parnaíba está muito satisfeita de tê-lo aqui e nós haveremos de no, próximo ano, ontem mesmo eu já falava com os organizadores, de termos atividades de planejamento com maior antecedência... E eu acredito que nós vamos amadurecer muito nesse sentido, fazer a avaliação do Salão desse ano e, efetivamente, a prefeitura pôde ajudar, nós fizemos um convênio com a Fundação Nacional de Humor e vamos evoluir no sentido de que esse Salão também seja uma ação da política pública de incentivo à cultura no município de Parnaíba.

BA: O Salão surgiu dentro do Estado, em 1982 e, depois de alguns anos foi criada a Fundação Nacional do Humor, uma instituição privada que organiza o evento. Como você enxerga essa relação público-privado, uma instituição privada gerindo recursos públicos para realizar um evento?
Florentino: Nós temos uma vasta legislação no Brasil que estabelece a possibilidade de integração de esforços públicos e privados, principalmente quando você tem de um lado o Estado e de outro uma instituição, uma fundação que não deve ter fins lucrativos. Então, nessas oportunidades o instrumento jurídico indicado é o convênio. Na verdade, quando existe um contrato, se entende que de um lado está o Estado, com o seu objetivo público, e do outro lado está uma empresa com o objetivo de servir ali ao Estado, mas mediante a sua remuneração. No convênio, não! A própria terminologia diz que “convênio” na verdade é uma conjunção de esforços do Estado e da entidade, onde o Estado, através do Município, da Petrobrás, da Caixa Econômica, ou do Governo do Estado, esses entes que, de qualquer forma, representam o Estado Latu senso... Eles estão de um lado e do outro está a Fundação. Então eles financiam a realização do evento e a gerência desses recursos, nesse caso, é feita pela Fundação Nacional de Humor. O que ocorre é que esta Fundação, ao final, ela tem de prestar contas das despesas.
A legislação dá amplas possibilidades para esta integração de esforços entre o Estado e as entidades privadas sem fins lucrativos, estabelecendo um instrumento, que é o convênio, a normatização daquela relação é um plano de trabalho que estabelece todas as etapas de realização e de despesas e ao final tem de haver, obrigatoriamente, senão a instituição fica inadimplente com o poder público, a prestação de contas. Então a legislação ampara essas relações do poder público com instituições para a realização de um objetivo que seja de interesse comum da instituição e do estado. Ora, se nós temos um evento cultural aberto ao público, sem cobrar ingresso, que a população tem a possibilidade de absorver cultura, lazer e os alunos de escola pública vão lá e tem acesso a tudo aquilo, então o objetivo do estado é dar apoio a esses eventos.

BA: Qual foi o valor do convênio entre a prefeitura de Parnaíba e a Fundação Nacional de Humor?
Florentino: Foi da ordem de R$ 85.000,00 (oitenta e cinco mil reais), que a prefeitura repassou à Fundação para que ela pudesse realizar uma série de objetivos que estão estabelecidos no plano de trabalho do convênio. Depois da realização do evento, a instituição vai ter um prazo para prestar contas de tudo isso. Essa prestação de contas será avaliada pela controladoria geral do município e será aprovada ou não. Em sendo aprovada, a instituição continua adimplente com o município de Parnaíba. Em não sendo aprovada, fica inadimplente.

BA: Existem muitas críticas de artistas teresinenses e premiados do Salão sobre o evento. Apresentam críticas em rádios e redes sociais, reivindicando problemas da ordem de pagamentos de serviços e de prestação de contas do Salão. Como a prefeitura de Parnaíba pretende lidar com isso?
Florentino: A prefeitura não tem nenhuma responsabilidade com as relações de prestação de serviço estabelecidas pela instituição realizadora do Salão em data pretérita a realização do Salão de Humor do Piauí em Parnaíba. Todas essas relações se deram anteriores a instalação do Salão em Parnaíba. A prefeitura também não tem nenhuma obrigação acessória ou principal em relação às contratações assumidas pela Fundação Nacional de Humor na realização do Salão em Parnaíba. A prefeitura, como a Petrobrás, como a Caixa Econômica, como o governo do Estado, entende que o Salão é importante e por isso enviou um projeto de lei para a câmara, que aprovou esse repasse de recursos para a Fundação e a prefeitura celebrou o convênio e vai analisar a prestação de contas. Mas as obrigações assumidas pela Fundação, são obrigações da Fundação, tanto as pretéritas quanto as relacionadas à realização deste evento aqui. Então, nós somos bastante exigentes com relação à prestação de contas. As prestações de contas da prefeitura de Parnaíba seguem um rito de análise estabelecido pela legislação federal. Nós temos deveres para com o tribunal de contas do Estado do Piauí e nós não pudemos negligenciar isso. Eu não estou fazendo nenhum juízo de valor aqui. Estou dizendo que nós não temos obrigações contratuais com nenhum executor, nem as edições anteriores, nem nessa edição. Nossa obrigação era apoiar o evento com recurso, aprovado, inclusive pela Câmera municipal. Foi isso que fizemos. Agora, a nossa obrigação também é exigir que haja uma prestação de contas que seja dentro dos parâmetros legais normatizadas em âmbitos federal e municipal.

BA: A prefeitura tem um plano voltado para o turismo cultural aqui em Parnaíba?
Florentino: Na verdade, nós estamos no esforço de melhorar nossa política de desenvolvimento turístico da região. Nós já temos alguns eventos culturais aqui que fazem parte do nosso calendário turístico. Por exemplo: o carnaval de Parnaíba é considerado um carnaval autêntico, de escolas de samba, de blocos organizados, é o carnaval de rua. Eu lhe digo assim, com muita tranquilidade, que o carnaval de Parnaíba talvez seja o mais autêntico do Piauí. Aqui você não tem ninguém com abadá, ninguém pagando pra entrar na avenida. O povo que vai pra lá é que faz sua festa: o pai com a mãe e a criança, todos fantasiados. São essas expressões que nós temos aqui. Além disso, a movimentação que nós temos em nossas praias e a riqueza cultural também com a vinda dos turistas pra cá. Então, esse é um grande evento: o carnaval. Nós temos ali, por volta de março, abril, durante a páscoa, quando os grupos culturais de Parnaíba, se reúnem pra encenação desse espetáculo, que é a Paixão de Cristo. Um espetáculo de cunho religioso, mas que nós não podemos deixar de considerar, que pela aglomeração de pessoas que são atraídas por esse evento e pela quantidade de artistas que se congregam nesse momento, nós não podemos deixar de considerar esse evento dentro do nosso calendário cultural.
Nós temos no mês de junho, os Folguedos, que nós denominamos Festival São João da Parnaíba, onde nós unimos os grupos de quadrilha e os grupos de bumba-meu-boi, num evento que a cada ano tem uma dimensão maior e que isso precisa ser pesquisado também, precisa ser analisado. Como aqui no Catanduvas, no rei da boiada, nós temos um boi que há 50 anos faz festa da morte do boi, então, como é que essa organização sobreviveu todo esse tempo? Como é que ela está nesse momento de modernidade? Como está se organizando? Como é que mantem viva uma coisa extremamente vinculada à tradição? E, nesses 50 anos, o apoio do poder público pra essas organizações vem sendo feito apenas nos últimos 7 ou 8 anos. Então a sobrevivência dessa manifestação sem o apoio foi durante um período muito largo.
Então esses eventos, são aqueles que, junto ao SALIPA, fazem parte de um calendário turístico cultural. Nesse momento, nós estamos com uma superintendência de turismo verificando, avaliando, fazendo um diagnóstico para que a gente possa melhorar esse calendário. Quero reconhecer pra você que Parnaíba tem duas deficiências muito grandes na questão de ter um calendário cultural aqui, de um calendário de eventos. Primeiro: a falta, a inexistência de um centro de convenções, de um centro de eventos. Em Parnaíba você tem dificuldade de realizar um evento que venha a congregar 400 ou 500 expectadores. Isso é uma dificuldade que nós não temos como omitir. O que nós temos feito pra minimizar essa dificuldade? Utilizar o espaço do Porto das Barcas. Um lugar onde nós temos auditório, temos um centro de eventos, a área das ruínas, e aquilo a gente utiliza de maneira que venha minimizar essa ausência. Mas a outra grande deficiência daqui é a falta de um teatro. Uma cidade que tem 169 anos (como cidade!). Uma região que tem 302 anos de povoamento. Uma região que na época colonial já tinha um movimento cultural com a Orquestra dos Negros, fundada por Simplício Dias, e com outras expressões culturais. Uma cidade que teve uma efervescência cultural que inclusive motivou os movimentos libertários da independência do Piauí, essa cidade, hoje, ainda não tem um teatro. Então isso é preocupante! Não temos centro de eventos... Abdiquemos do centro de eventos, mas vamos ter um teatro! Se nós queremos um calendário que seja turístico e cultural nós não podemos pensar nisso sem pensar essas duas questões, que são cruciais que eu estou contemplando enfrentar no meu governo. Não podemos considerar a questão do calendário sem considerar a estrutura. Nós temos de ter uma infraestrutura cultural. Não existe possibilidade de uma infraestrutura cultural sem local para realizarmos os eventos, não é verdade?

BA: Já que estamos falando sobre infraestrutura, conversado com alguns convidados do Salão, eles comentaram a dificuldade de se locomover na cidade: o sistema público de transporte. Como você enxerga essa questão do transporte público, se é um problema?
Florentino: Nós temos que dividir a resposta em dois aspectos: 1) A dificuldade de se chegar em Parnaíba. Qualquer evento que você vá realizar em Parnaíba, ou qualquer evento de companhia, ou de teatro ou qualquer outro artista que queira vir para Parnaíba, ele tem de fazer um planejamento que inexoravelmente vai passar por São Luís, Teresina ou Fortaleza. Ele vai ter de vir por uma dessas cidades, de avião ou locar um carro de lá até aqui. Isso, no calendário cheio de atividades dessas pessoas, que em um dia estão em um local e no outro dia elas já estão participando de evento em outro local, isso torna difícil porque, na verdade você precisa de pelo menos 8 horas para que o turista esteja se deslocando para Parnaíba. 8 horas! 4 horas de carro na estrada, vindo e voltando. Isso a gente sabe que é um complicador. Então a primeira questão que nós temos que considerar é que nós temos dificuldade de trazer pessoas para Parnaíba, em razão da falta de voos regulares para o aeroporto de Parnaíba. Nós temos um aeroporto com, talvez, as melhores condições do nordeste. Temos uma pista com condições similares à de Fortaleza e à de São Luís e uma pista de pouso e decolagem que, na verdade, é melhor que a de Teresina. Mas nós não temos voos regulares. O que é que a prefeitura tem feito? Temos dialogado com as empresas aéreas e temos sentido que é possível constituir isso com um incentivo tributário, no ICMS, que incide sobre o abastecimento. Cabe ao governo do Estado, e existe toda uma discussão hoje em torno disso, para que a gente viabilize voos para Parnaíba.
No segundo aspecto, nós vamos adentrar a questão da mobilidade urbana, que não é um problema de Parnaíba, é uma problema do Brasil, das médias e grandes cidades do Brasil. É um problema em Parnaíba, Belo Horizonte, São Paulo. O que ocorre em Parnaíba é que este problema é agravado pela falta de um sistema de transporte coletivo. Está em execução uma licitação para o município escolher os licitantes que venham a ganhar as linhas de transporte coletivo, mas essa licitação está suspensa por ordem judicial em razão de uma ação movida pelos atuais exploradores desse sistema, que é o de transporte alternativo que existe na cidade. Então, é uma situação hoje conflituosa que não está resolvida e que nós estamos enfrentando. Nós enfrentamos, neste ano, 6 audiências públicas na Prefeitura. Nessas audiências nós discutimos com vários segmentos da sociedade sobre transporte e estamos elaborando um projeto que seja alternativo a esta resolução que hoje está suspensa em razão de decisão de ordem judicial. Mas o problema existe e nós estamos enfrentando judicialmente, tomando as medidas cabíveis no âmbito judicial, e enfrentando administrativamente, buscando alternativa pra essa situação.

BA: Voltando a falar, especificamente, do Salão de Humor. Como você enxerga a vinda do evento de Teresina para cá, Parnaíba?
Florentino: Eu acho extremamente importante para a cidade. Eu tenho a compreensão de que o Salão vai contribuir para o calendário turístico e cultural de Parnaíba, eu acho que é muito importante que a gente tenha mais oportunidade de estar congregando aqui artistas piauienses e artistas de renome nacional e internacional. É muito difícil você julgar ou avaliar uma atividade quando ela ainda está sendo realizada, hoje é o último dia de Salão. Eu acho que, depois, tem de haver uma reunião de avaliação para que possíveis fragilidade desse ano não ocorram nas demais edições e para que se comece a esboçar um planejamento do Salão para os próximos anos. Então eu vejo como extremamente positiva, agora nós temos sempre de perseguir e buscar uma excelência que só vamos conseguir com maturidade para reconhecer os problemas, com vontade para resolver esses problemas e, acima de tudo, com a compreensão da importância do evento e que ele possa se perpetuar no calendário turístico e cultural da nossa cidade.

BA: Eu gostaria de agradecer e deixar o espaço para citar algo que considere importante para concluir e que eu não tenha perguntado.

Florentino: Ontem me foi perguntado por um jornalista de Teresina, se essa vinda do Salão pra cá participava de alguma rivalidade era Parnaíba e Teresina. Eu disse pra ele que não vejo a existência de rivalidade entre parnaibanos e teresinenses. Eu acho que teresinenses e parnaibanos, hoje, lutam a cada dia pelo desenvolvimento do Piauí. Não há como negar a importância do trabalho de Teresina e dos teresinenses para o desenvolvimento do Piauí, como não dá para negar a importância do trabalho e do esforço de uma cidade que está buscando de todas as formas lícitas de motivar seu para se desenvolver, tanto é que a cidade que mais cresce hoje no Piauí é Parnaíba. Então Parnaíba e Teresina, como todas as cidades do Piauí, lutam para o desenvolvimento do Estado. Agora, em um Estado como o nosso, carente de manifestações culturais, nenhum de nós pode ficar satisfeito de um evento se deslocar de um local para outro. Então, o que eu quero e vou lutar é pela permanência do Salão Internacional de Humor em Parnaíba, mas eu acho que a maturidade, a temperança, a tranquilidade o planejamento vai permitir que se tenha também uma edição do Salão em Teresina. Eu espero que isso venha a acontecer. Eu acho que o Estado não cresce deslocando as coisas. A gente cresce quando, efetivamente, a gente democratiza, leva o evento pra mais de um lugar. Não quero ser exclusivista. Nós temos de entender que recebemos de braços aberto e estamos muito felizes de receber o Salão de Humor em Parnaíba, mas nós também temos a compreensão de que a população de Teresina adotou e trouxe até hoje, por 29 anos, o Salão. Então eu defendo, intransigentemente, os direitos da Parnaíba, as cores da Parnaíba, a história da minha cidade e vou defender o Salão em Parnaíba, mas eu não deixo de reconhecer o povo de Teresina e que a cidade de Teresina também merece uma edição, porque o Estado não cresce transferindo as coisas. O estado cresce quando a gente democratiza. Que bom que seja em Parnaíba, o Salão. Mas que bom também seria que se tenha um Salão em Teresina, Picos, Floriano... Eu acho que cabe ao Governo do Estado pensar num formato que possa democratizar mais isso, porque é um esforço muito grande, todo esse material que está aí na praça, que está sendo produzido nas oficinas, é um esforço hercúleo para que se tenha só uma edição.