Foto de Yala Sena ou Evelin Santos
A questão é muito mais complexa do que parece. Apontar um culpado é sempre a primeira coisa que fazemos. Normalmente esse peso cai sobre as costas do Albert Piauhy, que desde o começo da década de 1980 luta pelo humor gráfico levando o nome do nosso Estado pra fora do país: na minha opinião, o Salão de Humor do Piauí faz parte da construção da nossa identidade cultural e só pode ser comparado em importância e longevidade ao Encontro Nacional de Folguedos, e isso se deve, principalmente, pela iniciativa do Albert.
Para mim, a luta do eterno presidente da Fundação Nacional do Humor é prova do seu carinho e dedicação inquestionável...
Entretanto, as pessoas criticam a "administração" do Albert e o acusam por deixar a Fundação Nacional de Humor às traças, mas esquecem que uma luta não se trava só.
Talvez esse seja o verdadeiro problema... A Fundação Nacional de Humor foi abandonada, e não apenas pela administração de um ou de outro, mas por todos aqueles que poderiam ter tomado aquele prédio pra si e sonhado junto com o Albert.
Falo por experiência própria: muitas vezes o Albert pediu que eu fosse presidente da Fundação, ou que eu levasse o Núcleo de Quadrinhos do Piauí para lá, naquele prédio que recentemente teve as portas arrombadas e os desenhos roubados e vendidos por R$ 10,00 pelas esquinas de Teresina. Eu até tentei: já fui vice-presidente daquela instituição e em 2004 fiz o Theresina HQ Festival, um evento de quadrinhos na praça Ocílio Lago, onde está o depredado prédio, sede da Fundação. No ano seguinte, fiz uma exposição de quadrinhos dentro do Salão de Humor, coisa que não acontecia há décadas... Infelizmente, ficou apenas nisso mesmo.
Acontece que as pessoas não se juntam, não se entendem, não sonham juntas, afinal, "o Núcleo de Quadrinhos do Piauí não poderia acabar e ir pra debaixo das asas da Fundação de Humor". Esse era o medo.
Há dez anos, a Fundação funcionava. Tinha funcionários e expediente. Tinha algum recurso do Estado (ou da prefeitura), tinha um ponto de cultura em Água Branca e projetos como o Picoler (carrinhos de picolé com livros dentro). Algo acontecia que poderia germinar... Mas as pessoas não se apropriaram daquilo. Tinham medo de "uma má administração" e não se esforçavam para participar dela. A Fundação foi perdendo, um a um, seus colaboradores e ficando abandonada. Albert Piauhy era como uma assombração escrita por Edgar Allan Poe vivendo naquele prédio aos escombros, inacabado, agarrando-se a um sonho que suspirava uma vez por ano quando conseguia juntar meia dúzia de pessoas para realizar esse evento que as pessoas batem no peito, orgulhosas, chamando de principal salão de humor do Brasil, comparável somente ao primo rico de Piracicaba.
Recentemente, antes do Salão de Humor do Piauí migrar para Parnaíba, onde parece estar sendo bem acolhido pela prefeitura, pelo público e pelos alunos dos cursos de turismo, Albert novamente pediu que eu assumisse a presidência. Eu, como qualquer cidadão medroso, elenquei um número incontável de problemas e deveres pessoais: eu casei, voltei a estudar, tenho meu emprego, enfim... O prédio continua lá, disponível pra quem quiser continuar sonhando e ter muito trabalho a fazer.
Talvez o problema seja muito maior e eu enxergo na Fundação Nacional de Humor um retrato "bem batido" de determinado ângulo do cenário cultural piauiense: onde temos cada um no seu canto, gestando em seu intestino uma criança que nunca nasce, que pode ter um pai, ou uma mãe, mas não tem uma família. É o retrato dos problemas que envolve o descaso da iniciativa privada e do interesse público.
Não! Não dá pra simplesmente apontar para o Albert e colocar nele uma majestosa coroa de espinhos e julgá-lo um bobo da corte.
Simplesmente, não dá!
Desejo ao Albert, antes de qualquer crítica precipitada ou bem feita, muita sorte, saúde, descanso e todos louros de sua batalha.
Por fim, gostaria de deixar algumas perguntas: quem realmente se preocupa e faz as artes plásticas e visuais acontecerem no Piauí? Há quanto tempo não temos um Salão de Artes Plásticas do Governo do Estado? Quantas galerias de arte nós temos? Há quanto tempo esperamos o Centro de Convenções voltar a funcionar? Onde está nosso Museu de Arte Contemporânea? Quais as empresas privadas do nosso Estado que tem projetos de incentivo a políticas culturais?
Para saber sobre o assalto, clique aqui.