terça-feira, 11 de novembro de 2008

Essa Merda Toda...

Essa Merda Toda...

Por que nem tudo é poesia e nem todo texto presta, mas, pelo menos, tem algo a dizer...

01

Deus,
Pai, mãe.
Senhor,
Sei lá...
Alá!

Todos os nomes,
Todos os rostos,
A mesma alma.
A alma do criador,
Aquele que conversa com cada homem, animal, ser...
Aquele de várias faces,
De várias “fés”.
Quando falo, você escuta?
Quando escrevo, você lê?
Quando estou sozinho no banheiro,
Estou sozinho?
Quando o senhor chora?
Eu choro... Imagem e semelhança.
És tão tolo quanto nós?
Ou tem apenas cara de bobo?


02

A estrela brilhou forte
A lua crescente arrastou a chuva passageira,
Abriu caminhos para o céu.
O vento trazia a cura
O farfalhar das folhas acalmava a alma
A magia da noite estrelada
A todos nos envolvia.
Eu crescia dentro de mim.
Animal antigo, coroado com a sabedoria do espírito milenar em comunhão com Deus e com o passado.


03

Como tem coisas este mundo.
Cheio de mistérios invisíveis, de fatos corriqueiros e impossíveis.
Uma só verdade ramificando-se em várias mentiras.
Mentiras recheadas de fé e é só!
Só o que basta.
Completa.
Repleta onde está.
Fé em tudo e em todos.


04

Minha vontade foi de ficar no fundo da rede até...a morte. Limpar meu espírito onde quer que fosse. Voltar noutra vida tentando corrigir tudo com todos que também ainda estariam por aqui. Recomeçar.
Me sinto sujo, impuro, castigado.
Já tinha ouvido falar,
Nunca tinha dados ouvidos.
A vida machuca mesmo,
Ela realmente veio.
Justiça divina,
Erro humano,
Chame do que quiser,
A merda tá feita,
Conviva com ela.


05

Pés enfeitados por sandálias com paetês coloridos. Pequena boca em forma de coração. Pele com maciez e cor de jambo. Seio e jeito de menina, alma de mulher. Linda em cada defeito e perfeição. Dona de si, decidida, que sabe dizer não.
Te amo, te amo.
Estúpido bufão sou eu, perdido, enfeitiçado por uma angústia vazia fantasiada de liberdade, que não passa de solidão.
Quero te ter plenamente, mas odeio imaginar te fazer sofrer.
Beijar sua testa, morder sua orelha, cheirar tua nuca, te ouvir dizer, pois mal sei falar. É contigo que quero estar, por toda minha vida.


06

Tentei dizer em versos...
... Não sou tão poeta assim.
Perguntei pra você se valeu a pena,
Mesmo sabendo que, talvez, não...


07

Preciso desenhar alguém morrendo,
Alguém numa situação podre,
Sem inspiração alguma.
Preciso desenhar uma pessoa que precise mais que tudo no mundo morrer de uma maneira terrivelmente angustiante.
Preciso exorcizar esse querer que me inunda a mente cadavérica, fria, distante, ausente...


08

Eu quero chorar, gritar a dor, enfeitar meu rosto com lágrimas e expressões tristes, cantar o medo, a angústia e a separação, mas cantar bem alto, avisar sem roubar atenção. Alto o suficiente apenas para escutar o aviso.
Soluçar, engasgar, apertar suas cartas contra o peito, sentindo ali o peso do mundo.
Eu não soube dar amor,
Você não aceitou minha incapacidade de demonstrar meu querer.
Nem tudo conseguiu fluir
Nem eu nem ti
Nem o cotidiano chegou a existir
Nem o palco da vida
Nem o caminho trilhado
Nem a nova oportunidade cansada pôde-se discutir.
Só eu sem ti,
Só eu e o por vir.
Só eu, treinado, vivido, mas despreparado e retardado,
Sem saber como sentir.


09

Inconsistente erro humano
Persistente desejo de segurança.
Desejo de segurança que faz perder,
Que faz testar o amor e faz cair.


10

Me permita agora cantar o amor,
Me permita cantar o desconhecido,
Me perder no gesto,
Me encontrar na dúvida.
Me permita ser o centro do mundo
Me permita errar sem culpa
Me jogar na vida
Me calar agora.
...


11

...
O ponto reticente irritava a calma.
...
O ponto reticente enganava a alma.
...
Reticências, eterna dúvida.
...
Bem-aventurado os absolutos.
Bem-aventurado os que sabem.
Não convém duvidar,
Mas se a dúvida há, é bom saber que o risco é inerente à vida.
Conviver na certeza da dúvida pode ser, talvez, a maior certeza da prova.


12

Tou me sentindo mau me sentindo mal me sentindo.
A vontaque que dá é de gozar no olho de qualquer uma, de esporrar a vida na cara, fazer sangrar o ânus. Quero fazer sangrar o ânus! Foder os peitos em espanhola, esconder meu pau entre os peitos.
Me sinto mau minto mal minto.
Quero abdicar de tudo isso. Quero encontar o amor que tive.
Como o criei, onde o perdi?


13

O cigarro entrou nos meus pumões.
Eu não engasguei.
A fumaça saiu pelo nariz.
Minha mão pegava na sua cintura fina.
Eu queria fudê-la, ao menos beijá-la.
Ordinária garota brincalhona dos infernos,
Queria que você explodisse!


14

A noite decepcionante cambaleava para um alvorecer pior.
Maldita vida de vontades inquietas.
Sexo matinal que não vai acontecer,
Afagos abafados enrolados no lençol, perdidos na vontade.
PUTA! VADIA!
Vida vazia preenchida de desejos alheios roubados de qualquer um.
Buceta castigada que não abraça a rola entorpecida por alguma angústia macabra que vem do coração.
Maldita noite desperdiçada comigo mesmo, sem sentido, sem pretexto, reflexo grotesco de um parque de horrores de uma alma desgarrada... Sem sabores.


15

Explode na minha virilha uma dor da alma castigada: crime sem vilão.


16

A gente falava coincidências demais
Unindo o tempo, gastando a gente, proveitosamente.
Sorriso meio calado, contido
Vivendo uma longa noite contigo.
Um, dois encontros apenas.
Procurando entender,
o que os beijos calavam.
Procurando entender,
o desejo crescente, crescente, subindo...
...Meu corpo caiu do alto,
bem fundo na densa relva do encantamento.
Perdido na minha certeza de um próximo passado,
De um futuro reconciliado,
Nem vi a roda girar,
Nem senti a sutileza da flor se abrindo,
Nem senti que sou de novo um novo perdido,
Pedindo apenas o mundo pra nós.


17

Sou uma maldita montanha-russa
Pequena, é verdade, mas cheia de curvas.
Repleta de angustia besta.
Repleta de dúvidas triviais, de soluços, de sussurros, de vontades inquietas.
Sou uma montanha-russa de frases ditas e não-ditas, do que foi afirmado e não se deveria.
Sou um “loop” ininterrupto que dá náuseas e ânsias tristes.
Sou uma pequena montanha-russa, sem direção, de sensações e sentimentos acolhidos ou reprimidos.
Sou um trilho vazio, às vezes repleto, carregando comigo apenas os mais fracos que eu...


18

Só quando gozei, percebi.
Foi só quando do clímax,
Percebi a merda toda.
...Essa merda toda!
Toda vez que não dá pra agüentar.
Toda vez que algo ou alguém,
Às vezes nós mesmos,
Não conseguimos parar,
Algo nos cerca o peito
Alguém nos submete a alma.
Foi só depois que gozei
Que o prazer ficou amargo
Como no fundo da língua...
Intenso dentro do corpo,
do consciente perdido,
querendo sem querer.
No fundo, amingua!


19

Será que está sendo infantil?
De que vala essa vida?
O que vale nessa vida?
Fazer o que realmente te importa te sustentará?
De quantas tentativas faz-se o amor?
De quantos “sins” constrói-se felicidade?
Quantos “nãos”, quantas ausências são necessárias?
Quando dizer sim, quando não, quando simplesmente gritar?
Aquele que escreve é apenas aquele atormentado por um sentimento ou sensação.
O que tu sente?
De onde vem tua péssima inspiração?


20

O brilho incesante do olho úmido recortado pela pálpebra cansada, enxergava na penumbra desfocada do pôr-do-sol a silhueta desenhada no laranja do céu.
O aceno de mão seguido do virar de costas confirma ao olho: o fim, revolto em lágrimas contidas, repetidas.


21

Até quando eu devo cair?
Até onde eu devo ir?
Porque eu sinto que aprendi,
Porque eu sinto a lição em mim.
Quero dizer que não estou pronto,
Mas quem está?
Peque esta trilha,
não acredite que sabe o caminho.
Porque você não sabe,
Não sabe, meu amor,
Ninguém sabe...
Desejo tanto que você tivesse
toda a razão do mundo,
Para que eu pudesse pedir rastejando,
Mas sinto que não é assim.
Quero viver toda a vida
Preciso dividí-la com alguém.
Porque ela só cabe em dois,
De dois em dois.
De dois em dois
Até escurecer,
Porque de nada vale o dia se não tivermos nosso “Boa noite”.
Mais que o dia-a-dia,
eu quero a noite para mim,
A noite toda para poder dividir.
Seu lugar ao lado do meu,
Seu lugar amargo ou doce,
Porque é seu lugar e a vida é assim.
Até onde nós chegamos,
Não quero passar de novo com ninguém,
Quero ir mais fundo do que o nosso fim.


22

Continuo eu mesmo: diferente a cada dia.
Diferente e igual, como o mar.
Como a noite e a sua brisa,
Como o bêbado de volta ao bar.
Continuo eu mesmo,
Só o que não muda é essa fraqueza que me prende os braços, que me cala a linguá, que me paralisa as pernas...


23

Quando acordei,o amargo já não era de todo mal.
Talvez eu tenha me encontrado ou perdido, finalmente.
Percebo que o mundo gira, mas não sinto o tempo passar.
Quando acordei, o amargo sou eu e me sinto bem.
Talvez eu tenha me encontrado na perdição.
Percebo que o mundo tem cores, mas todas elas são opacas, sem sabores.
Tenho medo de minha vida ser como ela é, uma obra rodrigueana.
Ao tempo que me perco numa liberdade solitária desacredito mais num romantismo parnasiano.
Não enxergo nem sinto mais os avisos líricos do simbolismo, me vejo frio como o carbono D’augusto dos anjos.
Minha poética é pouca para comparações, só sei que ela não tem mais a alegria que tem o cordel e seus bordões.


24

Essa semana teorizamos sobre a impermanência,
Essa ciência precisa na sua insegurança.
Concluímos que tudo passa, os coletivos passam, os indivíduos passam, as idéias passam...
Pra onde vai tudo isso?
Onde é que cabe essa merda toda que criamos, que somos?, que sonhos vão?, quais ficam um pouquinho mais?
Quem passam juntos, se é isso que importa na impermanência?
Quem passam juntos, diariamente na inconsistência?


25

A ocasião foi tão assim,
Tão decidida, tão certa do fim
Que não sobrou, na hora da partida,
Tempo ou querer suficiente,
Para um último beijo de despedida.


26

Você diz que conseguiu se libertar e que deseja o mesmo para mim. Eu não queria precisar acreditar que tudo aquilo para nós chegou ao fim.
Meu sentimento à pouco era de perpetuar, de manter a coragem e a luta. Mas pra quê lutar a derrota? Pelo romantismo de folhetim?
Quero minha vida de volta. Você acredita que conquistou a sua para si, com outra vida, com Outro caminho.
Vou lutar, mas não por uma derrota heróica.
Te dei de presente de despedida uma promessa de Tróia, uma porta que estaria aberta para o futuro.
Vou gritar como Mel Gibson em Coração Valente: uma morte pela liberdade, sem esperar nada, nem reviver nos mesmos ou em outros braços.


27

De repente, percebi que entrei na caça ao rato.
De repente não sei se sou o roedor ou o gato.
Serpenteando na espiral da vida, preparado para dar o bote.
Mergulho mais fundo no mundo da falta de certezas.
Perdi a inocência de acreditar e o romantismo barato do fundo da lata do meu corpo.
Acho que perdi até a amargura dos últimos dias.
Sem esperanças,
Sem expectativas.
Apenas um alvo no peito.
Que atire a próxima flecha
todas as pecadoras.
Azar de quem acertar...


28

Deus da Inspiração, uma última poesia, por favor!
Uma última tentativa de superar essa dor.
Uma boa inspiração que não me obrigue a sofrer na rima.
Um último angustiante lamento para entrar na vida, nas ondas...
Uma última poesia para exorcizar,
Uma última poesia para abandonar,
Para acreditar na próxima chance.
Uma última poesia que me permita não odiar, que me permita não adiar. Não adiar o cotidiano bom, de novo.
Uma iluminação que me encha, que me lance, que me rogue na experiência de que tudo valeu a pena.
Uma última poesia para todas as crianças bobas como eu, que precisam escrevê-la.
Uma última poesia para que alguém leia e acredite que após uma, virá outra cena...

Amém!

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