quinta-feira, 29 de março de 2018

Arquivo X terminou. E agora?


Por Bernardo Aurélio
Essa semana, fiz um experimento: carente de Arquivo X, como estou, já que a 11ª temporada acabou com um gostinho incômodo no final da língua, fui até meu armário. Tenho algumas caixas das temporadas antigas lá, então decidi sortear uma delas e assistir alguns episódios aleatoriamente. Veio a 4ª temporada, peguei o disco 3 sem saber o que teria nele. O objetivo aqui é falar um pouco sobre esses episódios randômicos que desfrutei.

Só pra gente se situar, no encarte da 4ª temporada vem a seguinte sinopse: “as proféticas palavras do alienígena Caçador de Recompensas ecoam por toda a Quarta Temporada, que se inicia com a mãe de Mulder à beira da morte e o assassinato do misterioso X. A volta de Alex Krycek e o óleo negro alienígena ficam em segundo plano devido ao câncer da Scully. O trágico reaparecimento de Max Fenig leva à morte de um colega agente do FBI. E apesar desses acontecimentos fortalecerem a crença de Mulder em uma conspiração cada vez maior, uma desconcertante verdade revelada por Scully o leva a uma crise de fé que pode ser seu fim”. Esse é o cenário geral, mas eu não lembrava, não fazia ideia exata do que iria assistir. A coisa começa a se descortinar com o primeiro episódio do disco:

Terma, a pedra da morte (“Terma”, s04e09), nota 4 de 5.


O episódio é continuação direta do anterior, chamado “Tuguska, a pedra da morte”, onde Mulder vai para Rússia investigar as origens do óleo negro alienígena. O backgroung estava em algum lugar da minha memória, porque, em Terma, Mulder já começa preso em um campo de concentração e já havia participado de experimentos com o óleo. Ele estava atrás de Krycek e uma das suas maiores motivações era o ódio que sentia por ele. O foco de Mulder é conseguir fugir do campo e voltar para os Estados Unidos, enquanto lá acontecem as melhores cenas: Scully sendo sabatinada por uma comissão do Estado em um tribunal que queria saber do paradeiro do seu parceiro. 


A agente usa toda sua perícia e inteligência para esfregar na cara da comissão que o mais importante não era revelar a localização do Mulder, o que poderia representar um perigo para ele, mas investigar os motivos que o fizeram invadir a Rússia e reacender uma brasa da guerra fria, envolvendo espionagem e assassinatos para queima de arquivo. Grande episódio da mitologia, Krycek que o diga!

Corações de Pano (“Paper Hearts, s04e10), nota 5 de 5

Este episódio havia ficado marcado em minha lembrança quando assisti em uma das reprises da Record, e agora eu lembro o porquê. Nota 5 de 5. É aquele tipo de episódio com final em aberto onde você acredita ou não baseado em suas opiniões.

John Lee Roche é um assassino serial que Mulder ajudou a prender traçando seu perfil psicológico anos antes da série começar. Ele matava crianças e recortava pequenos corações de pano como lembrança das roupas que elas usavam. Teria feito 13 vítimas, até Mulder descobrir, revelado em seus sonhos, o paradeiro do 14º corpo, que o FBI não fazia ideia da existência. Com o desenrolar desta nova investigação, os agentes descobrem que há mais dois corpos desaparecidos e um deles pode ser Samantha, irmã de Mulder.

Trata-se de um excelente triller, que permeia o sobrenatural, mostrando como Mulder e Lee Roche influenciam-se mutualmente, focando sempre na impulsividade do agente, capaz de burlar as condutas do bureau, seja socando um criminoso preso, seja pondo-o em liberdade, para chegar aos fins.

Entraria facilmente em um top de todos os tempos de Arquivo X. Incrível como esses episódios antigos pareciam saber utilizar muito melhor aqueles 43ou 44 minutos de exibição.

O mundo gira (“El mundo gira”, s04e11), nota 3,5 de 5


O que poderíamos ter quando Arquivo X envolve-se com uma das maiores lendas da ufologia da América Latina? Se você lembrou do Chupa-Cabra, está certo! O episódio tem praticamente todos os elementos que tornaram a série um sucesso mundial: fenômenos naturais incomuns (como enormes clarões no céu e chuva amarela), elementos patogênicos estranhos (pessoas morrendo de forma instantânea com seus corpos sendo corroídos inexplicavelmente), a crença irrefreável de Mulder, o ceticismo coerente expresso de maneira tão técnica que apenas Gillian Anderson poderia deixar interessante e... possíveis alienígenas!


Apesar de tudo isso, o episódio escorrega um pouco na dinâmica das cenas no começo e tudo só torna-se mais interessante do meio para o fim, quando começa a dialogar com a veia dramática latina. Afinal, o Chupa-Cabra existe ou é apenas uma forma de um povo de sangue quente, temperado a novelas shakespearianas baratas, justificarem seus atos ou aumentarem suas histórias, maquiando os fatos?

No meio disso tudo, ainda somos apresentados à problemática da imigração ilegal e a discriminação que esse povo sofre na fronteira entre Estados Unidos e México.

O Homem do Câncer (“Leonard Betts”, s04e12), nota 4,5 de 5.

Para todos aqueles que adoram Eugene Tooms, mítico vilão que ajudou a cunhar o termo “monstro da semana” em Arquivo X ainda na primeira temporada, recomendo que assistam Leonard Betts com o coração aberto, mas cuidado!

Existem semelhanças entre Tooms e Betts, mas longe de incomodar, elas são um bálsamo para quem gosta de um assassino bizarro com uma pequena tendência para se alimentar, de alguma forma, de suas vítimas.

O grande lance desse episódio é que Betts, a princípio, não é um monstro da semana. Na verdade, ele é, literalmente, um salva-vidas, um excelente enfermeiro que atende urgências em ambulâncias. Tudo começa quando o carro onde está sofre um acidente e ele “morre”. Mas não é uma morte discreta. Sua cabeça saca e ele torna-se um corpo sem cabeça fugindo do necrotério. Na tentativa de recomeçar nova vida, Betts regenera-se (sim! Nasce nova cabeça!) e procura outra identidade, mas tudo é atrapalhado, tanto pela investigação dos agentes quanto pela sua ex-parceira da ambulância.

O episódio consegue mesclar muito bem o humor cínico de Mulder, a descrença de Scully e cenas nojentas, envolvendo tumores, cistos e lixo orgânico cancerígeno hospitalar.

Conclusão!
Se você tem uma memória fraca como a minha, sempre poderá se divertir pescando qualquer episódio entre as nove temporadas anteriores, principalmente se escolher da quinta temporada para trás, anteriores ao primeiro filme, que mudou consideravelmente a estética da série.

Obs: Os episódios estão na sequência da caixa no DVD, ou seja, o disco 3 reúne do nono ao décimo segundo episódio, seguindo as datas de exibição originais na TV americana (de dezembro de 1996 a janeiro de 1997). Mas se você for procurar o código de produção os episódios serão, respectivamente, 4x10, 4x08, 4x11 e 4x14.

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