quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Entrevista com Albert Piauhy - Parte 2

Continuação da entrevista com Albert Piauhy, por Bernardo Aurélio

Pergunta nº 31, Bernardo Aurélio: Como você se enxergava naquele movimento cultural da década de 70? Você se enquadrou em algum movimento?
Albert Piauhy: Quando eu cheguei em Teresina, era uma cidade muito fechada, muito provinciana e Teresina nunca se abriu muito pra ninguém E a vida cultural de Teresina era a churrascaria Avenida, na Frei Serafim. Não existia charge na imprensa local. Não existia música nos bares como tem hoje. Não existia nada. Teresina não tinha nada de arte. O que você tinha naquela época forte, era a Jovem Guarda, que tinha uma penetração muito grande na sociedade. Então, haviam grupos musicais que tocavam as músicas da Jovem Guarda: Os Metralhas,  Os Brasinhas e dezenas de grupos que tocavam em festas. Então o forte naquela época eram músicas que você tinham desses grupos. E fora isso o que é que tinha? Não tinha um salão de artes plasticas, não tinha museu, não tinha porra nenhuma. Então, eu cheguei numa cidade que, artisticamente, não tinha nada. Esporadicamente tinha o lançamento de um livro de um autor que mandava publicar seu livro, mas não tinha nada. 



32BA: E o grupo Gramma, tu chegou a ter contato com ele?
AP: Então, o movimento cultural do Piauí naquela época, se fazia muita coisa no teatro: Francisco Prado, Gomes Campos, Carlos Santana, Ari Sherlock, Caitano Silva, era um movimento teatral incipiente, mas muito forte. Por que? Porque eram caras do caralho! Entendeu? Pessoas fortes dentro da sociedade. Então tinha um teatro funcionando no Piauí. Naquela época nós estávamos na ditadura muito forte e tava tendo um movimento contracultural no mundo inteiro, entendeu? E tinha um grupo de garotos, de jovens, muito inteligentes, que era o Edmar, o Galvão, o Pereira, o Marcos Igreja e tantos outros, aí eles fizeram um jornal chamado o Gramma. Eles realmente eram muito inteligentes. Eu acho que foram eles que abriram tudo pra cidade, entendeu? Pelo menos pra mim, foram eles. E nessa época eu tava chegando de Luzilândia e não tinha condição de ter acesso a eles. Eu era “menino véi” que tava chegando. Eu fui conhecer eles depois, muito tempo que eles já tinham deixado de fazer o jornal, porque eu namorava com uma menina, que o Edilberto, que era do Gramma, também namorara, aí eu passei a conhecer esse pessoal. O Gramma foi um jornal revolucionário, abriu muito a cabeça do Piauí e que a partir daí, eu acho que muita coisa começou a acontecer na juventude teresinense. Lá desenhava o Arnaldo Albuquerque, ele começou a desenhar ali. E o Arnaldo realmente era um cara fantástico, era bonito, era “americanizado”, usava uma jaqueta, tinha uma moto.

33BA: Você chegou a editar o Humor Sangrento. Como foi conheceu o Arnaldo?
AP: Fui eu e o irmão dele que editamos. Eu conheci o Arnaldo assim: o Chico Viana era do jornal O Dia e namorava uma amiga da minha mãe. E o Chico Viana pra puder conquistar a garota, tinha de me conquistar também. Aí eu andava de carro com o Viana nessa cidade, nos bares, no meio jornalístico e um dia ele passou pra pegar o Arnaldo em casa, pra fazer desenhos para o Segundo Caderno. No jornal O Dia, pela primeira vez se fazia um caderno cultural em Teresina, aos domingos. E o Arnaldo já era chargista e desenhava lá. Aí o Chico Viana disse assim: “vamos ali pegar o Arnaldo”. Porra! Eu fiquei tremendo, porque eu conhecia o Arnaldo de Luzidlândia. Porque o Herculano dirigia o jornal eu Arnaldo fazia xilogravura lá e eu gostava das coisas que o Arnaldo fazia. Aí, de repente, eu tava no mesmo lugar que o Arnaldo. Aí nós saímos dali e fomos pro jornal O Dia. Aí eu conheci o Arnaldo e a partir dali eu colei no Arnaldo. Sempre que ele tava num lugar, eu tava atrás dele. Aí o Arnaldo me levou para as festinhas do pessoal do Gramma, nas casas tinha maconha, bebida. Era engraçado, eu fumava meu primeiro “baseado” eu capotava assim, no meio da noite (risos). Que ele já tinha costume de fumar e eu não, entendeu?
Aí eu conheci o pessoal do Gramma, através do Arnaldo, e aí começou a me dar força. Assim, o cara que não sabia desenhar, eu desenhava ruim pra porra, mas ele tinha paciência, sabe? Aí fiquei muito amigo do Arnaldo, a partir daí. Só que aí o Arnaldo se afastaria do jornal e começaria a desenhar quadrinhos, definitivamente, até ele ter aquele acidente fatídico com a moto. Na verdade, dizem que ele queria se matar. Eu acho que ele tava era doidão. E a partir daquele acidente, o Arnaldo nunca mais foi o mesmo. Porque o Arnaldo tinha liderança, era um cara bonito, simpático, envolvente. Quando ele chegava assim num lugar, ele comandava. “Vamos fazer isso! Vamos fazer assim!”. Ele tinha uma liderança tão grande, cara, impressionante! Aí depois que ele teve aquele acidente, quando passou quase dois anos deitado numa cama se recuperando, quando ele saiu da cama, ele não tinha mais capacidade de liderança. Ele perdeu a liderança, porque não tinha mais vontade. E é uma coisa que envolveu também a Lídia, que ele era apaixonado por ela e não deu mais certo. Uma série de fatores que contribuiu pra isso.



34BA: Como foi que surgiu a ideia e a oportunidade de fazer a revista Humor Sangrento?
AP: Naquela época a gente fazia um jornal chamado “Chapada”.

35BA: Foi antes, né? Vamos começar como Chapada, então. Como surgiu a ideia, como foi tua participação n'O Chapada do Corisco? Depois a gente volta lá pro tempo cronológico...
AP: A gente tinha a ideia de fazer o jornal. E naquela época todos nós eramos muito “fodidos”. Assim, naquela época não tinha mercado de trabalho pra nós. Nós todos éramos garotos que nos virávamos com muita dificuldade e os únicos caras que tinham uma posição assim mais organizada era o Dodô Macedo e o Cineas Santos. O Cineas era professor, dava muita aula, então ele tinha uma vida organizada, entendeu? E nós, não. Aí surgiu a ideia de fazer esse jornal. Juntou eu, Cineas, Dodó Macedo, Paulo Machado, Assai Campelo...

36BA: Eu vi que teve participação do Torquato...
AP: Não! Torquato não teve nada a ver com essa coisa do jornal. Ele já tinha morrido. E o Arnaldo tava no Rio de Janeiro. O Etim, que publicou, morava no Ceará, que era do Gramma. Aí a gente começou a fazer o jornal que quem diagramava era eu, aliás, quando olho pro jornal hoje, porra! Mal diagramado pra porra! Que vergonha, aquele jornal. Eu diagramava e fazia ilustrações. Ruim pra porra, as ilustrações. Quando eu olho, é impressionante.

37BA: Tinha uma linha editorial? Tinha uma proposta, o jornal?
AP: Tinha não. Eram as preocupações que a gente tinha naquela época. Era época da ditadura militar, então a gente tentava colocar no jornal aquilo que a gente tava sentindo, mas que não tinha filosofia não, assim definida, uma linha editorial. Era um jornal muito “ruinzinho”, eu acho. Era mal diagramado, a tipologia... Até porque ele não tinha recursos. Era feito em máquina de datilografar, a gente colava os textos no papel, mas ali desenhava o Arnaldo, o Dodó, o Fernando Costa. Ali escreveu Carlos Zé Cunha, o Etim, o Cineas, Alberone Lemos. E ele durou enquanto foi possível fazer, sabe? Ele se acabou porque nós fizemos uma reunião como Antônio José Medeiros e o Manoel Domingos e as pessoas que estavam envolvidas com o Chapada resolveram fazer uma livraria chamada Corisco. Aí as pessoas que tinham dinheiro entraram como sócio e as que não tinham dinheiro... Quem tinha dinheiro era o Cineas, Antônio José Medeiros, Manoel Domingos e outras pessoas. Aí quando eles começaram a fazer a livraria, deixaram de fazer o jornal, viraram capitalista. Depois, o Antônio José sai da Corisco e o Cineas chama o cara do grupo de ensino “Andreas”.

38BA: O Antônio José Medeiros participava como do jornal?
AP: O Antônio José Medeiros morava no Canadá, ele foi estudar lá um tempo, se auto-exilou. Quando ele voltou pro Piauí, ainda hoje me lembro, teve uma reunião na casa do Santana e Silva, que era um cara que fazia teatro, pra reapresentar o Antonio José pra sociedade. Ainda hoje me lembro que o Antonio José fez um discurso na casa do Santana, onde ele dizia que tinha de fazer a revolução burguesa no Piauí, que no Piauí não adiantava! Tinha que ser feito a revolução burguesa antes de fazer a revolução de qualquer tipo. Só que ele tava certo, naquela época. Não sei se ele admite isso hoje. E ele se entrosou com a gente e começou a escrever artigo no Chapada, mas aí eles decidiram rever o jornal e nessa discussão eles decidiram abrir a livraria e não fizeram mais o jornal.

39BA: Era um jornal de “esquerda”, o Chapada?
AP: Rapaz, o Chapada não era porra nenhuma. Ele nunca atingiu ninguém, o público que ele atingia era mínimo. Ele nunca arranhou nada, não contribuiu com nada. Mil exemplares! O que eram mil exemplares para um jornal? Colocava na banca e ninguém comprava. A gente dava pras pessoas. Eu acho que ele não teve importância nenhuma dentro da cultura piauiense, sabe? A não ser o fato de que nós nos esforçamos em fazer.

40BA: Vocês tiveram algum problema com a polícia, durante a ditadura?
AP: Eu, quando fazia o jornal O Dia, fui chamado algumas vezes na polícia federal, por causa das charges que eu fazia. E uma vez eu tava em Luzilândia e eu fui chamado pra depor, porque alguém tinha visto eu falar uma coisa que era contra o sistema. E a gente recebia muita advertência, no jornal. Eu cheguei a ser preso. Eu, o Antonio José Medeiros, Jorge Riso, que é baiano, nós fomos presos pela ditadura.

41BA: Como foi essa história? Pode contar?
AP: Pode, cara! A gente conta qualquer hora. A gente tava sobre a ditadura e o Antonio José tinha vindo do Canadá, ele tinha se casado com a Rita, “Ritinha”, Cavalcante. E a casa do Antonio José começou a ser um local de discussão de política, entendeu? Eu era de dentro da casa do Antonio José e das reuniões, e lá começou a se fazer um grupo de estudos onde a gente estudava Fernando Henrique Cardoso (risos). Rapaz, Fernando Henrique Cardoso naquela época era revolucionário! É Celso Furtado, Otaviane, alguns autores assim daquela época que estudavam a sociedade brasileira. Aí um dia chegou um cara do Ceará, veio passar uns dias aqui e participou do grupo com a gente. Aí, o que é que acontece? Eu andava no meio da rua, ainda hoje eu me lembro, eu estava com o José Leite e um amigo meu, e eu fui a vários bares de Teresina, fui num bar, aí eu vi que tinha um pessoal seguindo a gente. Aí, depois, a gente foi no Luxor Hotel pra um evento sobre arte, e tinha um grupo seguindo a gente. Aí ele me deixou na casa de Antonio José Medeiros. Eu fiquei lá. Conversei um pedacinho, quando eu saí pra ir pra casa, uns cinco quarteirões depois, aí vários homens armados saíram de um volks e me prenderam, rasgaram minha calça, eu era magrinho, aqueles homens fortes assim, super-armados, me puseram no carro e tcham! (gesticula com a mão, um carro saindo em disparada). Aí me levaram pra polícia federal. Quando eu cheguei lá eu tive a surpresa de ver vários amigos meus lá, sabe? Revolucionários de porra nenhuma! Como eles eram desinformados, sabe? Aí tinham vários amigos meus lá presos. Cada pessoa que tinha contato ali na casa de Antonio José Medeiros, começaram a ser presos. Aí começaram os interrogatórios, eu fui colocado num quarto escuro e ele era “estreitim”, sabe? Era “estreitim” assim, sujo! Porque acho que era uma dispensa. Sujo. Ainda hoje eu me lembro, que eu tava de roupa clara. Aí eu fiquei lá, em pé, no escuro. E eu tinha bebido a noite todinha e eu tava numa ressaca da porra. A minha vontade mesmo era dormir, sabe? Aí eu me sentei naquela porra daquela sala escura, aí pensei: “sabe de uma coisa, vou me deitar”. Mas me deitar significava que eu ia ficar todo sujo. Era essa exatamente a ideia: ficar sujo e você perder a auto-estima, sabe? Porque ninguém foi torturado. Eu sei que quando, foi assim, quatro horas da tarde, que eu fui dar meu depoimento, eu tava todo sujo e com fome, porque eu não consegui comer a comida que tava lá. Eu sei que depois que eu fui libertado o Antonio José ainda foi levado pra Fortaleza, pra ser interrogado lá. A notícia saiu no Estado de São Paulo. Você pode olhar o Estado de São Paulo que tá lá a notícia da gente.  E a coisa interessante, é que quando eu fui interrogado na polícia federal, eles estavam com todos os desenhos que eu tinha publicado até então.



42BA: Como foi o interrogatório? Eles mostravam o desenho e perguntavam?
AP: Não foi desse tipo, não! Eu cheguei lá e tava toda minha coleção de desenhos e ele começou a folhear sem dizer nada, aí fechou. Aí eu disse assim: “Caramba! Eu mesmo não guardei! Agora eu já sei quando eu quiser fazer um livro eu venho aqui pedir emprestado”. Aí eles começaram a perguntar: “Você é comunista? Você tá participando de alguma cela?”. Aí começaram a me fazer pergunta sobre o Antonio José Medeiros. “Você tava no dia tal, local tal?”, eu digo “tava”. Eles sabiam onde eu tava no dia que o Antonio José tava. Aí eles começaram a fazer pergunta sobre o Antonio José Medeiros: “Antonio José é comunista?”, aí eu disse que ele não era, porque ele nunca foi, cara. Antonio José nunca foi comunista. Sempre foi de direita, ou melhor: não de direita, mas nunca foi de esquerda, entendeu? Quando o Antonio José foi pra reunião de Biuna, que ele era da Igreja, ele era um cara conservador. Ele nunca quis fazer a revolução. Aí eu disse assim: “eu me lembro que o Antonio José Medeiros tava na casa do Santana e ele disse que era preciso fazer a revolução burguesa no Piauí”. É diferente comunista, entendeu? Aí eles faziam pergunta assim: “E fulano de tal?”, eu dizia: “Coisa nenhuma!”, “Baiano? E a mulher do Antonio José?”, “coisa nenhuma!”. E aí eles começaram a fazer perguntas desse tipo e é claro que eu respondia com toda seriedade. Todo mundo era de esquerda, claro! Todo mundo era contra o sistema, mas ninguém quis ser contra o sistema jogando bomba, matando gente, entendeu? O grupo ali era pra estudar e eu nem estudava porque eu não tinha saco pra estudar os estudos que tinham na casa de Antônio José. Eu só era um frequentador. Porque lá era frequentado pela Helena e Helena, eu me interessava por ela, e depois eu casei com ela. Mas todo mundo naquela época, era envolvido com cultura e todo mundo fazia muita coisa naquela época: um era poeta, outro era cenógrafo, outro pintor, outro era músico. A gente se reunia e fazia as coisas juntos. Havia muita interação. Então, acho que era uma coisa muito importante para a cultura piauiense. Todo mundo que hoje faz cultura no Piauí de maneira sólida, começou ali.

43BA: Agora eu volto lá para a pergunta: como foi que surgiu a ideia de editar a Humor Sangrento?
AP: O Arnaldo mandava as histórias do Rio de Janeiro pra cá, as histórias que ele fazia deitado. E a gente queria fazer algo pelo Arnaldo. Era o único cara que desenhava quadrinhos no Piauí e fazia um quadrinhos inteligente. E a gente achou que aquelas histórias mereciam revista. E ele tinha um irmão que tinha uma gráfica, que era uma da maiores do nordeste.

44BA: Era a Gráfica do Povo?
AP: Não, era a gráfica do povo não. Ficava lá no centro industrial, vou já me lembrar o nome dela. Mas ele era dono da gráfica, mas não queria fazer de graça, não. Se não arrumasse um patrocinador... Aí o irmão dele era perfeccionista e o Arnaldo queria fazer as pranchas de vários tamanhos, sabe? Aí na hora de fazer a revista o irmão dele disse assim: “Vamos cortar e vamos juntar.” Ele me obrigou a cortar as histórias do Arnaldo. Ele dizia assim: “Enquanto os quadrinhos não ficarem todos iguais, eu não publico.”  Aí naquela época não tinha essa coisa da fotocópia, eu sei que eu tive de refazer todas as histórias do Arnaldo, remontar os quadrinhos. E eu fiz isso com o irmão dele. Então nós fizemos a revista Humor Sangrento. Ele mandou tudo do Rio de Janeiro pra cá. A revista foi feita aqui sem a presença do Arnaldo.

45BA: Teve alguma repercussão importante que você colocaria, sobre a publicação dessa revista?
AP: A revista teve importância no Brasil inteiro, cara. Foi muito importante porque foi a primeira revista em quadrinhos publicada assim, que eu saiba, não é? De um autor local, com desenho autoral, por um cara que sabia o que tava fazendo, que gostava de quadrinhos, que era o Arnaldo.

46BA: Chegamos aqui no Salão de Humor. Como foi que tu iniciou tua participação no Salão?
AP: Rapaz, eu vou te contar a minha história, que é a verdadeira. Tem a história do Kenard, mas quem quiser acreditar no Kenard, que acredite! É o seguinte: Eu era amigo do José Elias e do Kenard e ambos trabalhavam na Fundação Cultural do Piauí. Arnaldo Albuquerque, José Elias... Nessa mesma época, você pode ir fazer a pesquisa, a secretária de finanças da prefeitura, a Veroca Conde, que era “assim” com o Zé Elias, amiga de infância e amiga da gente. Aí eu disse: “Zé Elias, porque é que a gente não aproveita e faz o Salão de Humor do Piauí, aproveitando que a Veroca Conde é secretária de finanças da prefeitura? Que ela pode financiar, cara”. Foi uma ideia minha. Aí disseram: “Aaah! Mas não dá certo. Não sei o que, não sei o que, não sei o que...”. E eu fiquei insistindo, entendeu? Aí, quando foi um dia eu abro o jornal e tá lá o regulamento do primeiro Salão de Humor do Piauí. Aí eu disse: “Porra! Essa ideia é minha. Eu não fui nem convidado”. Sabe o que foi que o Zé Elias e o Kenard fizeram? Levaram a ideia pro professor XXX Mourão. E ele topou. Agora tu imagina! Bernardo, eu não entendo de quadrinhos, agora tu imagina eu fazer um regulamento de história em quadrinhos. Entendeu? Eu que não entendo de quadrinhos? Mas naquela época, só quem entendia de desenho de humor no Piauí era eu e o Dodó. Aí eu disse assim: “Porra Zé Elias e Kenard! Vocês não me chamaram pra discutir o regulamento”. Eles disseram: “Não, o regulamento já tá aí. A gente já mandou pro Brasil”. “Legal”. Aí, quando os desenhos começaram a chegar, tinha desenho desse tamanho, tinha desenho desse tamanho (gesticula tamanhos diversos com as mãos). Porque o regulamento não constava regras básicas. Aí quando eles foram montar, colaram tudo num estande aí botaram um plástico por cima. Só pra você ver como foi amador. E naquela época eu briguei muito com eles e eu fiquei muito puto porque nem pra ser jurado eu fui convidado. Pô, quem mais entendia de desenho de humor naquela época, era eu e mais duas pessoas. Nenhum foi convidado pra ser jurado. Foi convidado um fotógrafo, gente que não tem nada a ver com humor: “personalidade”, entendeu?
No segundo Salão foi a mesma coisa. Só que no segundo eu fui convidado pra ser jurado. Eles não me chamaram pra discutir o Salão ainda. Eles ainda fizeram um terceiro e foi um fracasso.

47BA: De participação?
AP: De tudo! Foi tão ruim os três Salões, assim desorganizado, sem método. Aí o Jesualdo Cavalcante assume a Fundação Cultural do Piauí, pra secretário de cultura. Aí o Jesualdo resolveu acabar com tudo que não dava certo. E tava o Salão de Humor na lista. Aí eu disse: “Kenard, não vamos deixar o Salão de Humor acabar. Ele pode ser um Salão mal feito, mas ele agrada a cidade”. Porque desde o começo ele agradou, sabia? Ele é uma coisa que agra a cidade. “O que a gente tem que fazer é organizar o Salão “direitim”, colocar regras e fazer outras coisas paralelas”. Aí o Kenard marcou reunião com o Jesualdo, ele disse: “Eu soube que você não quer que acabe o Salão”. Eu disse: “Secretário, o Salão de Humor, ele é feito de maneira desorganizada. Dá confusão todo ano”, porque os artistas piauienses tentavam colocar os desenhos deles e não eram classificados, sabe? “Mas nós podemos transformar o Salão de Humor num dos melhores eventos do Piauí e do Brasil, desde que a gente estabeleça um regulamento compatível e a gente fazer vários eventos paralelos a ele”. Aí eu expliquei todas as ideias, sabe. O que eu achava. A gente tinha que fazer feira de livro, música, teatro... Aí ele disse “eu vou pensar”. Eu fui pra casa. Quando foi no outro dia, de manhã, chegou um carro da secretaria. “O secretário mandou lhe chamar”.  Rapaz! Só um cara desses! Só-um-cara-desses, rapaz! Ele mandou me chamar. Ele disse: “T'áqui duas passagens, pra você ir a Brasília e Rio de Janeiro. A Brasília pra você conversar com o Ministério da Cultura e a outra pra você ir na Funart e conversar com os cartunistas do Rio de Janeiro”. Por acaso, quem dirigia a Funart era o Ziraldo. Aí eu disse: “Pô! Esse cara é do caralho!”. Aí eu viajei, quando cheguei lá no MinC, eu conversei sobre o Salão, ninguém deu atenção. O MinC era uma coisa pequenininha assim. O MinC, ele veio se abrir agora. Era fechado pra porra. Aí de lá eu rumei pro Rio de Janeiro aí fui conversar com o Ziraldo, lá na Funart. Aí o Ziraldo me disse uma coisa, cara, que norteou o Salão pro resto da vida. Ele disse: “eu não vou dar dinheiro pra porra de Salão, não”. Aí eu disse: “porque Ziraldo?”. “Porque todo salão que tem nesse país, só tem gente no dia do coquetel, depois fica abandonado. No coquetel todo mundo vai. Não vou dá dinheiro, não”. Aí eu disse: “pois eu prometo pra você que o Salão de Humor não vai ser um salão desse tipo”. Aí foi a partir daí que a gente começou a colocar o salão na rua. O salão começou a ser popular, diferentemente de Piracicaba, sabe? E a partir daí o Salão de Humor começou a se desenvolver de tal maneira, que ele chegou ao estágio que nós temos hoje, que o Governador Wellington Dias não tá nem aí pra ele, sabe? (risos) Eu tou desde o começo do ano tentando liberar R$ 20 mil só pra começar o Salão e não consigo.

48BA: Acho que aqui cabe a pergunta: porque fazer a Fundação Nacional de Humor?
AP: A Fundação a gente tentou fazer porque é o seguinte, a gente viaja pro Rio de Janeiro e São Paulo e a gente percebeu que todos os salões que se fazia no Brasil eram ligados ao Estado, ou órgão ligado à esfera municipal, estadual ou federal. E a gente percebeu que não havia autonomia de se colocar ideias. Então, no Piauí era muito difícil de se fazer o Salão, porquê? Porque naquela época era o Zé Elias era não sei quem, porque o Jesualdo já tinha saído, que era um cara muito aberto.  A gente conseguia convencer ele. Tinha muita hierarquia no meio. A gente chegava e propunha uma ideia aí “não, a vai consultar o secretário” aí o secretário “não, a gente vai consultar o governador”. E a gente achava que tinha muito intermediário nas ideias. As ideias que a gente tinha eram amplas e não funcionavam. Por exemplo: essa ideia dos túneis (que expunham trabalhos nas praças) a gente teve e só conseguiu fazer dez anos depois. A ideia de fazer os túneis, a gente não conseguiu implantar.
            A Fundação foi a primeira ONG cultural do Piauí. A gente queria uma instituição onde nós mesmos planejássemos, fizéssemos e fossemos atrás. E que a gente enfrentasse nossas dificuldades. Tudo isso que tem aí, de dificuldades que a gente tem, tem ano que a gente não consegue fazer direito, já tava previsto. Aí eu comecei, a gente começou uma fundação que não tinha prédio. E eu consegui esse prédio com o Firmino. E eu venho tentando há mais de 10 anos terminar ele. Porque não consigo sensibilizar o governo, nem municipal, nem estadual, nem federal que é importante terminar aquele prédio ali. Aquele prédio funcionando a gente pode fazer muitos projetos ali dentro.
            O importante é que a gente pense por nós mesmos. No ano que não dê certo, é porque não conseguimos sensibilizar ninguém. Como esse ano não conseguimos, ano passado não conseguimos porque eu caí numa armadilha do Wellington Dias, sabia? Quero registrar aqui. Porque antes nós fazíamos o Salão com facilidade. Ele era dentro do período eleitoral. Aí o Wellington disse assim: “Olha, nós queremos que você faça sempre o Salão fora do mês eleitoral”. “Tá bom, governador.” Só que é o seguinte: toda vez que a gente faz o Salão de Humor, depois do mês eleitoral, ele não recebe ninguém porque sabe que o Salão é carta fora do baralho. Então a gente tá na discussão agora: ou a gente faz o Salão em setembro, ou faz em maio ou em junho. Porque em maio é antes do processo eleitoral. Ninguém consegue conversar com nenhuma autoridade na época eleitoral. Porque como o Salão vai ser feito depois da eleição...

49BA: Pelo menos antes tá...
AP: É! Aí o Wellington Dias, ele pediu isso e eu deixei fazer, só que agora... Ele é sabido demais, cara, aquele governador. Esse ano, por exemplo, eu fiquei o tempo todo assim: “Governador, me dê uma audiência.” Ele disse: “Na hora que você quiser. Vá lá no palácio marcar”. Aí quando eu cheguei lá um cara disse assim: “Não adianta que o governador só vai receber depois da eleição. Porque ele tá andando no interior. Aí você não consegue, porque uma parte do dinheiro do Salão de Humor vem do Governo e você não consegue.
Agora, eu posso dizer uma coisa aqui, cara? Eu acho que a Fundação do Humor ela tem que ser rediscutida e eu acho que várias pessoas que fazem a cultura piauiense, que fazem o humor, todos nós, sabe? E a gente dar um novo direcionamento pra ela. Porra! Nós temos um prédio maravilhoso. Nós temos um acervo maravilhoso. Nós temos um acervo de exposição que ninguém tem no Piauí. E eu acho que nós temos que ter uma diretoria que funcione. Nós temos que ter um grupo que bote a Fundação pra frente. Não só interessado no dinheiro do Salão. Porque na época que o Salão de Humor tem dinheiro, todo mundo vai pra Fundação. É bom poder elaborar projetos, eventos. A interiorização do Salão do Humor. Nós temos um acervo fantástico. Ninguém tem mais condição de ir pro interior do que nós. Eu acho que a Fundação deve passar por um novo direcionamento. Eu até saio da presidência.

50BA: Tenho mais algumas perguntas aqui que são mais genéricas. Qual é o seu conceito de arte? Como você definiria?
AP: Tem coisas assim como arte, amor, que a gente quer definir e eu acho que não tem uma definição específica, sabe? Eu não acredito em arte que não seja transformadora. Eu vejo a arte assim: primeiro tem a arte que ela já foi feita, que é o patrimônio da humanidade. Eu acho que a história da humanidade é contada pela arte que o homem fez ao longo do tempo. Seja a arte utilitária, seja aquela arte que o homem que o homem tentou fazer representação de alguma coisa. Eu acho que a maior parte desse patrimônio cultural da humanidade ligada a arte ainda tá debaixo da terra. É precisa escavar pelos geógrafos, pelos antropólogos, pelos arqueólogos. Eu vejo a arte como a grande oportunidade que a humanidade tem de fazer reflexão sobre a realidade em volta dela. É essa a função do artista, ele fez um trabalho pessoal, isolado, mas depois que aquele trabalho é feito, já não é mais dele. Ele já é de outra pessoa. Aí quando você olha, ele tem que provocar alguma reflexão em você. Então a arte que não provoca uma transformação e quer ser obra de arte, ela não serve. É verdade que você pode fazer uma obra de arte que seja bonita, mas mesmo ele sendo só bonita ela já agrada quem olha, provoca uma felicidade, mas eu acho que tem que ser uma coisa transformadora.
Uma das coisas mais importantes que eu acho na minha vida é que nós devemos fazer com que a arte seja ensinada para as pessoas nas escolas. Olha, o Salão de Humor é um evento, onde você chega e olha os desenhos, mas uma coisa é você ir pra dentro da escola e ensinar arte, mostrar arte. E nós tamos perdendo um grande espaço no Brasil, porque a arte da humanidade já tá feita. Toda a arte já tá aí! A humanidade acumulou durante todos esses milênios e isso estão guardados dentro de museus, dentro das bibliotecas, na cinemateca, todo essa patrimônio cultural. E como você vai divulgar todo esse patrimônio? O melhor lugar é dentro das escolas públicas. É a gente fazer projetos em que dentro da escola pública a gente possa chegar e difundir a arte. Porque a arte sem difusão, ela não provoca nada. Você faz um evento de quadrinhos aqui, Bernardo, você sabe que só vão os aficionados. Quer dizer, qual a revolução que provoca? Nenhuma! A não ser as pessoas que já gostam e vão lá! Quando você bota na cidade, na rua, o desenho, aí muita gente vê. E eles já veem o Salão há 25 anos. Aí você trabalha com um público que você não tem noção quem é. Quando você leva todo esse acervo pras escolas e você discute ele dentro da rede escolar aí você começa a fazer uma revolução, porque o menino que tá ali ele tá vendo aquilo ali dentro da escola dele, do bairro dele. Então eu acho assim, eu não tenho um conceito pra arte, mas eu acho que a arte que não transforma a humanidade, ela não serve.

51BA: Dentro da tua produção, tu enxerga uma evolução temática, conceitual, dentro do que tu fez, do que tu faz?
AP: Eu não me acho importante dentro da arte piauiense não.

BA: (risos) Era a próxima pergunta...
AP: Eu não me acho, não. Mas eu vou dizer, porque o seguinte... Repete a pergunta!

52BA: Houve uma evolução temática e conceitual dentro do teu processo criativo?
AP: Mas é claro. O meu desenho ele super evoluiu. É porque eu tenho meus desenhos secretos, que ninguém conhece. Eu, por exemplo, deixei de fazer aquela piadinha, de quando eu comecei a desenhar humor, aquela piadinha que você faz a pergunta aí o boneco responde e faz a piadinha. Que é esse o desenho de humor que se faz no Brasil: a piadinha engraçada. E há muito tempo que eu peguei meu desenho e coloquei para o lado filosófico, entendeu? Durante muito tempo eu desenvolvi esse desenho filosófico que questiona o ser humano enquanto ser humano, só que eu irresponsavelmente não continuei. Eu tenho em casa assim, dezenas de esboços pra poder passar a limpo e eu não passo. E eu acho que meu desenho evoluiu. Ele saiu da piadinha, eu não gosto de fazer piadinha... De vez em quando eu faço uma porque eu sou gente também, sabe? Mas o meu desenho de humor hoje em dia é um desenho filosófico, então ele é plástico. Ele é formal. Se você for no meu blog, você vai ver desenhos que são formais assim. Eu desenho um pássaro, a revolução nele, com relação ao meu desenho anterior, ele é formal. Ou então você vê desenho que é filosófico, onde eu faço uma montagem, que eu ponho o pensador. Então ele tá querendo dizer uma coisa que que vai dizer é o leitor. Então eu acho que no Piauí, com relação ao desenho de humor, eu acho que quem mais avançou fui eu, até hoje. Sério. Só que a maioria dos meus desenhos eu não botei pra fora, ele não é publicado e você pode ver alguns no blog, no meu myspace. É myspace que fala?

53BA: Qual a grande contribuição que tu acho que ofereceu pra cultura piauiense? Seria aquela última pergunta.
AP: O meu desenho não contribuiu em nada pra cultura do Piauí, porque eu passei 20 anos sem desenhar. Aí eu comecei a fazer desenhos pra mim mesmo, que eu vou guardando em casa e eu acho que meu desenho não tem influencia sobre a arte nem sobre a sociedade piauiense, sabe? Até porque ninguém conhece meu trabalho, porque depois que eu deixei de ser chargista, que eu deixei de publicar no jornal, eu deixei de ser personalidade da arte. As pessoas me procuram mais pelo Salão e nem conhecem meu desenho, sabe? Elas não conhecem e nem querem, mas elas me adoram (risos). Então é mais por causa das coisas que eu faço, mas não por causa do meu desenho.
Eu tenho um material imenso pra puder fazer. Eu quero botar meu ateliê e quero voltar a ser desenhista. Vou retomar minha linha de trabalho, agora é um tipo de desenho que ainda não se faz no Piauí. Porque a charge que se faz no Brasil hoje é uma droga. Você pode olhar os jornais do país. São maus desenhistas, os caras não sabem desenhar. E no Piauí mesmo, eu vou lhe dizer uma coisa que pode ser chocante pra você, mas no Piauí, na imprensa piauiense, o humor que se faz, no mínimo é nota 2. É sério. Eu acho legal quando o Jota A ganhar prêmio nacional com cartum, mas o trabalho que ele faz no jornal O Dia, não tem uma sequencia de boas charges. Até porque ele quer caricaturá os personagens e ele não é bom caricaturista. O Moisés é fraquíssimo, porque ele é um cartunista municipal e o Amauri faz um desenho tão bem feito no computador que não tem graça. Eu me lembro de um tempo que eu fazia uns desenhos de charge, que era tão bem feito que não tinha graça, sabia? E é o caso do Amauri.
Ninguém consegue ser gênio todo dia. Aí pro Jota A ser gênio ele tinha que fazer uma charge por semana. O Chico Caruso, no jornal O Globo, ele se repete o tempo inteiro.
A geração que inventou a charge no Piauí, e o cartum: primeiro lugar o Arnaldo, aí depois sou eu. Aí teve uns caras assim que é bom você botar: o Neri, não sei se cabe...

54BA: A princípio seria um trabalho biográfico. Mas aqui tem muita matéria-prima pra depois. Meu trabalho será sobre sua via, sobre suas influencias...
AP: Você não perguntou sobre as minhas influencias não, cara?

BA: Eu imaginei que seria o Pasquim...
AP: Não!

55BA: (risos) Tinha uma pergunta aqui, mas eu achei que já tava respondida. Mas tem aqui: quais as mais fortes influencias que teve e por que?
AP: As maiores influencias que eu tive na minha vida, é o seguinte: o Pasquim não foi o desenhista nacional, não. Porque depois da geração do J. Carlos começa a surgir uma geração com o Jaguar, Fortuna, Claudios, Millor e Ziraldo. Aí eles começam a dar uma qualidade artística mesmo para o desenho. Então você olha e são bem desenhados. Então essa foi a primeira influencia que eu tive. Depois, eles começaram a perder essa qualidade. O Jaguar hoje em dia faz um desenho de qualquer jeito. E o Jaguar é o mais genial cartunista do Brasil. Então o desenhista que mais viria me influenciar, e influenciou uma geração de cartunistas no Brasil inteiro... Por que o Jornal do Brasil, ele tinha um caderno chamado Caderno Especial e as matérias eram matérias sobre economia, ecologia, sobre vários assuntos e eles eram ilustrados pelos grandes ilustradores do mundo. Aí tinha um cara lá chamado Rolland Toppor, Eugene Milaresko, Milton Glayse, Saul Stenberg, Half Stidman. Todos tem na internet. Todos eles. Essas pessoas todas influenciavam a gente. Não que a gente fizesse igual a eles, mas essas pessoas colocaram o desenho de humor no suporte da arte. Então, a partir dessas pessoas, eu comecei a fazer desenhos sem palavras. Desenho de humor, que não tivesse palavra e que o leitor é que desse o significado do desenho, entendeu.
Quer dizer, os grandes desenhistas que o mundo já teve, assim como você tem os caras que são importantes pros quadrinhos, esses caras são impantes para o desenho de humor. Ilustradores fantásticos. Os desenhos deles são mais importantes que o texto.

56BA: Eu lembro que seus desenhos publicados num álbum, tem muitas “setas”. Tem alguma influencia direta de algum deles?
AP: Não porque a seta é do mundo moderno, mas o seguinte: é que eles foram geniais e ninguém conhece, na arte. Quando a gente fala de desenho de humor, ninguém conhece esses caras. E outra coisa... (e a bateria acabou).

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