segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Mangá e Animê: Como a Cultura Pop Japonesa chega ao Brasil.



Mangá e Animê: Como a Cultura Pop Japonesa chega ao Brasil.
 Por Bernardo Aurélio

Parte 01: Introdução


A China foi uma grande influência para o Japão desde o século II. O Budismo, religião oficial de muitos países do oriente, se espalhou pela terra do sol nascente por volta dos séculos VI e VII. Em alguns desses templos budistas foram descobertos desenhos considerados caricatos e profanos, datados por volta do século VII, eram os Ê-Makimono, que mostravam animais antropomorfizados e pessoas em traços exagerados, narizes grandes, e foram considerados a origem direta dos mangás. Dessas ilustrações surgiram os Ê-Kimono, pinturas sobre rolos que contavam uma história qualquer, geralmente satirizando as condições sociais da época.
Ao final do xogunato Tokugawa (1660-1867), depois de 200 anos de um regime feudal que pregava o isolacionismo do Japão com o resto do mundo, voltaram a chegar influências externas àquela cultura. Alguns editores e artistas ingleses e franceses lançaram no Japão as primeiras revistas sobre charge e Cartum. Só no inicio do século XX acontece um certo interesse dos artistas orientais pela produção artística norte-americana. Esse interesse levou Rakuten Kitazawa (1876-1955) a criar as primeiras histórias em quadrinhos (hq) seriadas e a adotar o termo mangá para designar a arte seqüencial que produzia.
O período entre guerras permitiu ao mangá desenvolver seu estilo, criando vertentes e deixando de ser apenas a caricatura e a charge, passando a ter temas infantis e de ficção-científica. Durante a Segunda Guerra Mundial o Japão expandiu-se, formando colônias e agora começava a influenciar culturalmente seus vizinhos, como Coréia e a própria China. Entretanto, ao final desta guerra, o Japão estava arrasado, principalmente devido às duas bombas atômicas jogadas sobre Hiroshima e Nagazaki. Era preciso reconstruir. Os Estados Unidos, país responsável pelas explosões nucleares, decidiram apoiar essa reconstrução. O apoio financeiro norte-americano foi seguida de ocupação comandada pelo general Douglas MacArthur, que desmantelou as ideologias militares imperialistas que havia se formado no período pré-guerra, mas não conseguiu apagar os sentimentos de reconstrução daquele povo. Nessa entrada, dos EUA no Japão, vários aspectos de sua cultura conseguiram fixar-se: os comics (quadrinhos norte-americanos) e os desenhos Disney, por exemplo, entraram com força no Japão, o que causou significativas reformulações no modo japonês de produzir quadrinhos.

Ossamu Tezuka (1926-1989) é atualmente considerado o Deus do Mangá, foi ele quem renovou e criou as características do mangá moderno, moldando influências de desenho animado e quadrinhos ocidentais, que chegariam ao Japão no final da segunda Guerra, com o teatro (Takarazuka) e outras tradições japonesas[1]. No final dos anos 1950 seu estilo já era copiado por uma nova geração: “olhos grandes, speed lines, traços simples e ação, muita ação”[2].
(Ossamu Tezuka)
Na década de 70, após uma impressionante política de reconstrução, de esforço mútuo e de intensas jornadas de trabalhos, o Japão já impressionava o mundo com sua reconstrução.
Muitos imigrantes japoneses chegavam aqui desde o início do século XX. De acordo com censo feito em 1987, o Brasil é o local do mundo onde há mais descendentes nisseis, cerca de um milhão de pessoas. A década de 1950 e 1960 é considerada um momento de ouro para a indústria dos quadrinhos nacionais. Grandes artistas surgiram e foram publicados em nossos gibis, alguns deles eram descendentes de famílias de samurais, como Cláudio Seto e Julio Shimamoto. Ambos foram pioneiros na utilização de técnicas e conceitos dos mangás no Brasil. Vários fatores contribuíram para essa fase áurea dos nossos gibis: na segunda metade dos anos 50 aconteceu nos Estados Unidos um grande movimento anti-comics, que inclusive envolveu o Senado norte-americano, repercutindo no mundo inteiro. Isso promoveu um abalo suficiente para artistas nacionais organizados em cooperativas e grupos pudessem ocupar algum espaço que os comics dominavam no Brasil. Infelizmente, com a política da ditadura militar a partir de1964, o movimento brasileiro foi abafado e começaram a chegar os heróis da editora Marvel para sufocar de vez nossa produção. Muitos artistas, pioneiros e talentosos quadrinhistas, como Cláudio e Julio, tiveram de trabalhar em publicidade para viver de arte. O Brasil perdeu uma oportunidade histórica de desenvolver o estilo mangá na América.
Antes do mangá, um dos indícios mais antigos da introdução da cultura de massa japonesa no Brasil se deu a partir da exibição de séries televisivas chamadas “Tokusatsu”. A TV Tupi exibiu o National Kid nos anos 60, na década de 70 foi a vez de Ultraman fazer grande sucesso, na década seguinte surgiram produções como Jaspion e Changemen. Todos foram verdadeiros ícones pop para um grande público infanto-juvenil. A partir desses seriados, o público brasileiro também conhecia algumas particularidades nos modos e costumes nipônicos, bem como suas fantasias: heróis lutando contra monstros e criaturas do espaço, contra McGaren e incas venuzianos. Godzila, através do cinema, trouxe sua contribuição para que muitos países do mundo sentissem o horror que a radiação atômica pode produzir[3].
Na década de 1970, além do Ultraman, o Brasil iria conhecer uma leva de excelentes animês, os desenhos animados japoneses que, geralmente, são produzidos em cima de mangás de sucesso. Ossamu Tezuka criou um estúdio de animação chamado Mushi Produções, e muitos dos animês que chegaram por aqui neste momento eram obras suas, como Kimba, o Leão Branco e A Princesa e o Cavaleiro (Ribbon no Kishi). Também foram exibidos por aqui desenhos como Dom Drácula, Fantomas e Super Dínamo. Já a década de 1980 trouxe outros animês interessantes para a televisão, como Rei Arthur, Peter Pan, Doraemon, Honey-Honey, Jace, Nick-Nack e Zillion, que foi o maior sucesso daquele período.
No Japão há uma fórmula que funciona como tripé[4]: as indústrias de mangás, animês e jogos eletrônicos interagem entre si para darem sustentação um ao outro, promovendo um mercado milionário. Zillion foi a primeira grande experiência no Brasil que poderia ter aderido a este tipo de atividade: veio o animê, veio jogos para videogames e até pistolas lazers que se assemelhavam às armas do desenho, mas o mangá não apareceu. Ainda não havia interesses no mercado de quadrinhos japoneses, pois os comics estavam muito bem nos anos 80.


(JJ, personagem principal de Zillion e uma pistola com peitoral de brinquedo, lançada no Brasil)

Apesar de mangás de sucessos que chegaram ao Brasil, como Lobo Solitário (em 1988), Akira (1990), Crying Freeman ou May, A Garota Sensitiva, a indústria dos comics estava em alta nos Estados Unidos. Muitos dos considerados “melhores quadrinhos de super-heróis de todos os tempos” foram produzidos nesta década, como por exemplos pode-se citar: Watchmen, Cavaleiros das Trevas, Crise nas Infinitas Terras, A Piada Mortal, A Queda de Murdock, A Última Caçada de Kraven, Electra: Assassina, Monstro do Pântano, Miraclemen, V de Vinganga, Sandman. Ou seja, o mercado brasileiro, que se abastecia de quadrinhos com os Estados Unidos desde a década de 1930 (Suplemento Infantil, Mirim etc. Publicavam Flash Gordon, Mandrake, Tarzan), não tinha necessidades de buscar novidades em outro local, como o Japão. Um movimento contrário viria acontecer na década de 1990. De acordo com Sonia Luyten, doutora em Ciência da Comunicação pela Universidade de São Paulo: “a entrada dos mangás nos EUA e o recente sucesso que [os mangás] vêm obtendo podem ser explicado (...) pela combinação do desgaste da imagem dos super-heróis americanos aliados à crescente curiosidade e ao exotismo que o Japão representa[5]”.
Segundo a revista Wizard[6], após a publicação de Lobo Solitário nos EUA, várias outras editoras começaram a trazer seus próprios títulos em mangá. “Quando aprodução baseada no gênero, como Akira, Ranma ½ e Apleseed, começou a aparecer nas lojas de vídeo, a invasão japonesa realmente se lançou”. Os principais trabalhos consumidos são de pessoas como Katsuhiro Otomo (Akira) e Masamune Shirow (Ghost in te Shell), e isso é fácil de se entender porque os dois “se especializaram em histórias pesadas de fantasia ou ficção científica”, e na América já existe uma base estabelecida de público consumidor deste tipo de temática. “Além disso, ambos, Otomo e Shirow, desenham de uma maneira mais realista do que é tradicionalmente mostrado no Japão”.
Analisando-se essas informações pode-se chegar a conclusões específicas de como o animê-mangá chegou aos EUA e depois ao Brasil.
Muitos dos heróis que conhecemos hoje, como Homem-Aranha, Batman, Super-Homem, Hulk e outros foram criados a mais de 40 anos. Apesar de estarem sendo sempre adaptados, reformulados, depois de tanto tempo acabam enfrentando um certo desgaste. Quando Frank Miller (autor de Cavaleiro das Trevas e Sin City) conheceu a obra Lobo Solitário, ela ainda não havia sido publicada nos Estados Unidos. Frank folheava um mangá original: “Uma amiga, Laurie Sutton, me deu uma lista telefônica com a pintura de um Samurai na quarta capa. Bom, o livor era grosso como uma lista telefônica. Laurie então me contou que os japoneses gostam de seus gibis bem gordinhos e me poupou horas de confusão dizendo que aquilo que julguei ser a quarta capa, era, na verdade, a primeira. ‘Os japoneses lêem da direita para a esquerda’, ela me esclareceu, ‘não da esquerda para direita, como nós’. Portanto, devidamente orientado, eu me sentei pra passar os olhos num capítulo de o Lobo Solitário...250 páginas depois, eu estava babando como um idiota”(MILLER. 1987).  Frank gostou tanto do que via que criou a hq considerada por alguns como o primeiro mangá norte-americano: Ronin, lançado em 1983, foi um grande sucesso para o autor, a revista vinha cheia de simbolismos, linguagens e narrativa nipônica.






(Ronin de Frank Miller)

Ronin havia sido diretamente influenciado por Lobo Solitário, mangá que Sonia considera como uma “linha de história que mais desperta o interesse no ocidente[7]”. O interesse foi tanto que Frank, já um respeitado artista da indústria dos quadrinhos norte-americanos, estimulou a ida do título aos EUA. Lobo Solitário foi publicado, ele escreveu todas as introduções e desenhou todas as capas. Algumas dessas edições chegaram ao Brasil. Na edição nº 2 (editora Cedibra), diz o seguinte:
“Lobo Solitário (...) transporta o leitor para outra época, para uma terra estranha e assustadora, cinzenta e varrida pelo vento (...) Seus autores valeram-se do tempo para contar o que tinham a dizer, momento a momento, freqüentemente dedicando muitas páginas para cenas que não tomariam três quadros num gibi americano de super-heróis. O leitor é levado a conhecer os personagens, pequenos ou grandes, assim que se revelam para ele”.


(Lobo Solitário, ilustração de Frank Miller)

Lobo Solitário mostrou para muitos americanos a qualidade do mangá, diferente de muitas maneiras da forma como é feita os comics. No editorial da edição 4, “as 6 ou 7 pinceladas que constroem o jovem Daigoro [filho de Itto Ogami, o lobo] são tão bem executadas que nós chegamos a reconhecer o menino, não como parceirinho secundário do herói (...), mas como um ser humano tridimensional, inocente, curioso e corajoso”. Ou seja, o mangá havia cativado os americanos. Na edição 3, diz mais: “Sua trama, envolve um grande guerreiro samurai e seu anseio de vingança, se estende pelas raízes da história e cultura japonesas (...) Por exótico que possam parecer aos olhos ocidentais, suas instigantes sequências de ação e poderosos contextos emocionais tornam a revista uma leitura vigorosa até mesmo para aqueles que consideram os japoneses um povo estranho e desconcertante”.
O desgaste sofrido pelos comics somados à qualidade inegável das principais características do mangá, sejam da maneira específica encontrada em Lobo Solitário, seja nas linhas gerais criadas por Ossamu Tezuka, somado a um exotismo que se criava em torno da cultura oriental, foram fatores mais que suficientes para a entrada em massa do mangá no mercado norte-americano de revistas em quadrinhos. Logo, não é difícil ter certeza do que aconteceu: os mangás ganharam muito espaço no fim dos anos oitenta nos EUA, por motivos já citados. O mercado brasileiro está completamente submetido à produção norte-americana. Se lá, os comics vão mal, aqui, os mesmos quadrinhos teriam os mesmo problemas. Entretanto, há uma demora nesta lógica, porque a nossa publicação dos comics geralmente estavam 3 ou 4 anos atrasados em relação à publicação em seu país original. Esse atraso editorial foi um dos motivos para que o mangá não estourasse no Brasil antes da década de 1990, já que essa invasão aos EUA só viria ocorrer na segunda metade dos anos oitenta. Ainda assim, chegavam mangás ao Brasil nos anos de 1988, 1990, mas ainda sofriam forte concorrência com comics de qualidade da década de oitenta que começavam a chegar aqui.
Em 1990, quando Akira chegava ao Brasil, outra grande saga dos mangás, considerada uma das maiores obras dos quadrinhos mundiais, Lobo Solitário passava por dificuldades, mudando de editora e de formato, não se estabilizava em nosso mercado e em pouco tempo sendo cancelada. Akira manteve-se com grande estabilidade até sofrer de um problema editorial iniciado no Japão: a série estava fazendo tanto sucesso que a produção desenho animado e de brinquedos atrasou bastante a produção da revista. Consequentemente, atrasaria a edição brasileira, que vinha dos EUA depois de ser adaptada aos padrões ocidentais e colorizada. Aconteceu que a edição n° 33 saiu em setembro de 1993 e a 34 apenas em dezembro de 1997. Este atraso foi terrível para os fãs da série e do mangá em particular, que amargavam a saída de dois excelentes títulos de nossas bancas.
O fôlego só seria retomado em setembro de 1994, quando a rede Manchete começou a transmitir Cavaleiros do Zodiaco, animê que se tornaria febre nacional, carro-chefe de inúmeras outras produções e, ainda hoje (2005), vendendo muito nas bancas do Brasil e do Japão.


Parte 02: A Fase Cavaleiros do Zodíaco


Em 1º de setembro de 1994 estreava na extinta TV Manchete o desenho animado Cavaleiros do Zodíaco (CDZ), animê que fora sucesso na Europa, começando na França, e nos Estados Unidos. Na verdade era um grande sucesso mundial, iniciado em 1986, a partir do mangá de Masami Kurumada. Como é costumeiro no Japão, quando um quadrinho se destaca pelo público, não tarda se produzida uma animação.
Os 114 episódios que contavam as três primeiras fases de CDZ (Saga das 12 Casas, Deuses Nórdicos e Poseidon) foram exibidos aqui entre 1994 e 1997. Nesse período, em menos de quatro anos, foi vendido no Brasil 800 mil bonecos baseado nos personagens da série. Só no mês de estréia foram 80 mil[8]. Definitivamente, o Brasil começou a abrir os olhos para o mercado japonês de animação: grandes audiências e dezenas de produtos que estavam sendo consumidos pelos fãs. A partir de então aparecem várias revistas especializadas em mangá e animação nissei. As locadoras e a TV começam a trazer os animês de sucesso garantido, com: Robô Gigante (Flashstar. 1996), Dragon Quest (SBT. 1996), Oitavo Homem (1996), US. Mangá (Manchete. 1996), Yuyu Hakushô (Manchete. 1997), Meu Amigo Totoro (Flashstar), Porco Rosso, Golgo 13, Samurai Warriors, Shurato, Super Campeões “Oliver Tsubasa” (Manchete), Sailor Moon (Manchete), Rayearth (SBT), Ghost in the Shell etc.
Foi um momento de grande interesse pelo mercado japonês, mas o mangá ainda não havia ancorado no cais brasileiro.
Depois da estréia de CDZ, várias editoras lançaram-se à caça dos fãs dessa produção no mínimo diferente, que atraía tantos consumidores. Ainda em 1994, a revista Herói nº 1 chega às bancas, anunciando: “Depois dos Cavaleiros, o Japão vai ao mundo uma explosão de heróis, em seriados e desenhos!”. Disse também que CDZ “é um dos desenhos mais vistos da TV. E já chegou ao horário nobre: todos os domingos, os Cavaleiros são exibidos às 19:30 hs”, em um capítulo especial, resumindo os acontecimentos da semana.
Ainda no início da febre, ao analisarem o enorme sucesso de vendas de brinquedos afirmaram que “a Bandai sempre faz isso. Vai chegando de mansinho, mostra seu desenho na TV e lança os brnquedos. Foi assim que eles fizeram com o Jaspion, Cybercops, Changeman, Jiban e todos os heróis japoneses que passam aqui no Brasil com bastante freqüência”.[9]
Os comentários nos corredores dos colégios, em casas, em grupos eram feitos diariamente sobre cada episódio. Todos os jovens e crianças ficaram encantados com a fórmula do animê, com a trama contínua, com a animação — mesmo ultrapassada em comparação aos padrões nipônicos — agradava muito o público brasileiro, acostumado a He-Man, G.I. Joe e Ursinhos Carinhosos. A violência, a sensualidade, a sensibilidade e o misticismo mitológico da série, que trabalhava com os signos zodiacais e os deuses gregos, eram ingredientes que não eram encontrados ou tão bem trabalhados em praticamente nenhum outro material exibido na primeira metade da década de 1990.
Em 1995 surgi a revista Japan Fury (ed. Nova Sampa), no editorial da 5ª edição diz o seguinte:

Dezenas de milhares de exemplares de Japan Fury são impressos a cada número. E todos eles são vendidos!!! Isso significa que a revista vai bem e, claro, não vai acabar tão cedo.
Mas também significa uma coisa muito importante que você, leitor, talvez não tenha percebido: VOCÊ NÃO ESTÁ SÓ! Existem, espalhados pelo país, outras dezenas de milhares de fãs de animação japonesa, doidos por informação... como você. É como se você fizesse parte do maior clube de fãs do país.”

Os editores da Japan Fury eram Sérgio Peixoto e Zé Roberto, dois nomes que vieram a ser muito conhecidos nessa fase CDZ. Segundo eles, nesse mesmo editorial, os poucos fãs de animê, que assistiram muito material na década de 1970, eram isolados, solitários, não formavam grupos, “éramos vistos com desconfiança por nossos amigos e parentes, que achavam que estávamos bem das idéias (...) éramos desprezados por nossa paixão peculiar por quadrinhos japoneses”.
Peixoto e Roberto foram grandes formadores de opinião e estimuladores da arte pop japonesa no Brasil, mas sempre com interesses de desenvolver a produção nacional. Ainda antes de estrear CDZ, eles haviam fundado a ORCADE e o Estúdio PPA. A Japan Fury foi a realização de sonhos de dois fãs da “velha guarda” que estavam felizes por verem suas admirações pelo universo pop japonês espelhados em um número incalculável de brasileiros.
Devido a problemas editoriais, os dois pararam de produzir a Japan Fury logo na sexta edição, mas pouco depois, em 1996, voltam com uma revista melhor ainda: Animax, O máximo em animação Japonesa. Ler Animax promove um belo retrato de como estava a situação do animê-mangá no Brasil. Diferente de títulos como Herói, que abordavam vários temas infanto-juvenis da TV brasileira e dos quadrinhos publicados por aqui, a Animax era específica, direcionada unicamente à produção japonesa. No editorial da número 1, lê-se:

No dia 1º de setembro de 1994 começou a ser exibido pela Rede Manchete um desenho animado que seria uma febre em todo o Brasil: é esse mesmo, Cavaleiros do Zodíaco.
De lá pra cá, apareceram várias revistinhas espertalhonas que falavam de Flintstones a Pica-Pau, de X-Man a Garfield. E, no meio, uma outra matéria sobre Cavaleiros do Zodíaco.
Todas essas revistas tinham como principal atração qualquer coisa com o nome dos Cavaleiros do Zodíaco. E o leito mais esperto reparou que muitos redatores alienígenas e editores safardanas fizeram fama em cima dos Cavaleiros. Teve até frustrado na vida que se meteu a escrever sobre um assunto que nunca ouviu falar...
De todas essas revistinhas, apenas uma falava exclusivamente de produção japonesa... e apenas uma falava ao coração do leitor inteligente, sem precisar apelar pra resumos, cascatas ou besteiras sem interesse.
Essa revista se chamava Japan Fury.

            Enquanto outras revistas falavam de qualquer assunto fácil, Animax tornava-se a maior fonte de informação sobre não apenas cultura pop, mas sobre a própria maneira de viver e de ver a arte que os japoneses produziam. Animax não criava apenas massa consumidora, ela instigava e fazia pensar, fazia agir.
            Ainda na 1ª edição, depois de um editorial que atacava violentamente a concorrência, fizeram uma matéria sobre CDZ que chocou muitos fãs: mostraram o que havia sido censurado na adaptação do mangá para o animê, muito mais leve que a versão original. Naquelas páginas, viu-se pela primeira vez Cassius arrancando a cabeça de um adversário com um simples tapa, Nashi, de Lobo, com o tórax explodindo e espalhando tripas e pulmão, pôde-se ver também Mu segurando a cabeça degolada do cavaleiro de Dragão, Shiryu, além de Ikki de Fênix cravando seu braça até o cotovelo no peito de seu mestre. Aquilo era diferente de todas as outras abordagens que já haviam feito sobre a séria. Foram feitas também boas matérias sobre Rayearth, Robô Gigante e ficção científica no cinema japonês, apresentando Godzila a uma nova geração. Por fim, criticaram muito algumas produções japonesas de baixa qualidade que chegavam ao Brail, como a série Patrine, que de tão ruim não caiu no gosto do público e saiu do ar em pouco tempo.
Animax exerceu grande influência sobre seus leitores, e foi fundamental para uma nova fase dos quadrinhos brasileiros que surgiu após CDZ. Nas edições 3, 5 e 9, os editores praticamente disseram em letras garrafais: “FUNDE UM FÃ-CLUBE!” Eles estimulavam este tipo de organização e o consideravam de vital importância para a consolidação no Brasil de uma nova forma de consumir e produzir cultura e entretenimento. Na edição 11, por exemplo, dizem:

Não adianta ficar num canta e se lamuriar. Não adianta dizer que as editoras não dão espaço, que a vida é uma bosta, que ninguém te entende. O negócio é ir à luta e fazer o que se quer e o que se gosta!
Foi assim que fizeram os dois grupos de fanzineiros que audaciosamente foram onde nenhum outro fanzineiro jamais esteve.

Estavam falando de um grupo que produziam o fanzine chamado Hipercomix. Tamanha a novidade em satirizar os personagens de CDZ levaram o zine profissionalizado às bancas de todo o Brasil através da produção dos Estúdios PPA: uma vitória! Mas antes disto, na nº 9, a matéria “Quadrimania, taí um exemplo!” fala sobre um evento de Porto Alegre – RS, organizado pelo grupo VISUART. Eles fizeram um encontro de quadrinhistas e lançaram o zine Dojinshi. Naquela revista saíram desenhos de Daniel HDR, que já havia produzido para a Marvel, DC e Image, as três maiores editoras norte-americana de quadrinhos. Pouco depois, Daniel iria desenhar duas edições brasileiras de Megaman e também começaria a exportar trabalho para o Japão.
Voltando à edição 11, aparece na seção de cartas “yuubin” um desenho do piauiense Willians de Almeida Jr. Na edição 16, a Animax recomendava, antes de sete outros trabalhos, o fanzine do grupo Clube de Amantes de Mangá – CLAM, que tinha o talento de Willians em destaque estampado na primeira página da matéria. A partir de iniciativas como essas, a Animax conseguia atrair a atenção e o trabalho de fãs do Brasil inteiro. O pessoal do Hipercomix, por exemplo, é de Manaus.
De acordo com o editorial da segunda edição da Animax, eles advertiam: “se eles não nos dão gibi, façamos o nosso!” E foi bem isso que fizeram. Na edição 13, duas matérias anunciavam o lançamento nacional da Hipercomix e de um novo título chamado Megamen, famoso personagem de videogame da empresa japonesa Capcom e que seria totalmente produzido por brasileiros.
A Megaman é, na verdade, o ponto de origem da profissionalização de uma geração madura, mas que foi completamente tocada pela febre dos CDZ. Das páginas do Megaman saíram alguns dos melhores desenhistas nacionais que passaram a publicar periodicamente nos anos seguintes, como: Paulo Henrique (PH), Rogério Hanata, Lídia Megumi, Daniel HDR, Edu e Érika Awano. O pessoal da Animax fizeram um trabalho heróico para o quadrinho nacional! Edu e Érika foram os que mais se destacaram, fizeram pouco depois minisséries de Mortal Kombat e Street Figther (também personagens estrangeiros originados dos videogames), além de Holy Avenger e Victory, dois dos maiores sucessos editorias da história dos quadrinhos brasileiros: Holy foi a primeira série nacional que chegou à edição 42, e só acabou porque a história (escrita por Marcelo Cassaro) teve fim, foi finalizada. Mesmo assim ainda tiveram 6 edições especiais. Victory foi importada para os Estados Unidos pela editora Image e ocupou a posição 129 ª no ranking de vendas, o que é um bom número no enorme mercado norte-americano, que possui meia dúzia de títulos mensais de um único personagem. Victory ficou empareado com títulos como Hellblazer (sucesso inquestionável da linha de quadrinhos adultos da editora DC) e Promethea (de Alan Moore, considerado um dos três melhores escritores de quadrinhos ocidentais de todos os tempos).
Outro destaque foi a participação de PH na revista infanto-juvenil Combo Ranger, um sucesso estrondoso que surgiu na internet criado por Fábio Yabu. PH desenhou a série durante várias edições, que mudaram de editora até chegar à Panini, onde foi cancelada. Importante destacar que atualmente a Panini publica mais de 20 títulos mensais e nenhum é brasileiro. A série Combo Ranger chegou a ter uma linha de brinquedos de seus personagens.

Parte 03: Por que não temos mangás nas bancas?!?

No editorial da edição trinta de Animax, Orlando Tosetto, que entraria a partir do nº 20 no lugar de José Roberto, diz o seguinte:

Isso tem de acabar. Enquanto as idéias não prevalecerem sobre o traço, o quadrinho nacional nunca vai deixar de ser essa babação de ovo em cima das besteiras da Image. Vai ser sempre essa coisa torta de texto encaixado à força no traço de algom decalcador de fortões. Meu conselho é simples: antes de você se sentar para copiar Jim Lee, O Romia ou o Otomo, gaste um tempinho antes tentando arranjar uma idéia legal. E faça seu quadrinho de acordo com ela.

Com essa citação, observa-se não apenas uma formação ideológica, da maneira de construção de arte do leitor, mas também a aparição de um novo sujeito nesta história: a Image.
No editorial da edição 4, José Roberto diz o seguinte:

O Brasil não tem mangá porque as editoras não querem mangá, porque não gostam de mangá ou não sabem que catso é mangá (...) Você não teve mangá porque os japoneses nem conhecem o Brasil e a maioria das editoras daqui só se importam com o lucro fácil e rápido! E mais nada!
Você é manipulado, sabia? Você faz parte de um esquema safado que há anos vem tomando seu dinheiro e nem se liga!
Isso vai mudar! Se você quiser!


Em 1996, ano em que a maioria das edições de Animax foram lançadas e também período que a febre de CDZ atingia altos níveis de audiência e vendas, e a indústria de animês inundava as TV’s e locadoras, ainda não haviam os quadrinhos japoneses nas bancas brasileiras. E porque? Por mais que os super-heróis dos comics estivessem desgastados, em 1996 chegava ao Brasil os títulos da nova editora norte-americana Image.
A Image foi fundada por alguns dos mais talentosos e populares desenhistas dos comics. A editora alcançou o topo do ranking de vendas em poucos meses nos EUA. O auto nível de popularidade da nova editora deu-se também porque os artistas apresentaram criações próprias, como Wildcats e Gen-13 (de Jim Lee e Scott Campbell), Spawn (Todd Mcfarlane), Yongblood (Rob Liefeld), Savage Dragon (Erick Larsen), Cyberforce (Marc Silvestre), Strikerforce (Marc Silvestre) e Darkness (Marc Silvestre e Garth Ennis). Todos esses títulos chegaram ao Brasil primeiramente pela editora Globo, depois pela Mythos e Abril.
A Image foi a opção mais fácil de se alcançar e mais certa de lucros. Não havia motivos para arriscar em um mercado como o japonês, que faziam muitas exigências, como manter o sentido oriental de leitura (da esquerda para direita). Algumas editoras exigiam até que seus textos fossem inseridos verticalmente nos balões, como o original japonês, para que seu formato não fosse prejudicado. Sem contar que não havia grande certeza de retorno financeiro.
Entretanto, ainda em 1996, mais precisamente dia 19 de agosto, estrearia Dragon Ball no canal SBT. Foi o maior sucesso depois de CDZ. Poucos anos depois estrearia sua continuação, Dragon Ball Z (DBZ), tornando-se o novo animê do momento, juntamente com Pokemon, que estrearia em 10 de maio de 1999.
Apenas em 1998, após o surto da Image, chegaria ao Brasil pela pequena editora Animanga o título Ranma ½. Logo depois seria a vez de uma minssérie de Pokemon. Materiais de qualidade, mas que estavam apenas ocupando a primeira rachadura ou sinal de fraqueza de um mercado que começava a ousar mais, afinal, os animês àquela altura, já estavam definitivamente consolidados, ocupando um bom espaço nas programações infantis das grandes TV’s brasileiras.
A Image foi uma febre momentânea que passou de mãos em mãos e que atualmente (2005) mantêm-se com um único título, Spawn, que está beirando a edição nº 150, pela editora Abril.
A partir do ano 2000, a editora Abril, que publicava praticamente todos os títulos Marvel e DC (Homem-Aranha, Batman, Superman etc...) começa a sentir dificuldades em manter um padrão em sua linha de revistas. Em agosto daquele ano a Abril reduz sua linha de super-heróis de 12 para apenas 5 títulos mensais, chamadas de série Premium, que tinham um acabamento luxuoso, em formato americano, papel couchê, capa cartonada e lombada quadrada. Isso tornou o preço de capa de suas revistas três ou quatro vezes mais caras do que eram anteriormente. A Premium manteve-se nas bancas apenas até março de 2002, quando a Abril volta ao formatinho, com preço mais popular, tentando manter os títulos em sua casa, mas isso não acontece e os heróis acabam indo parar na editora Panini.
Esses problemas podem ser explicados pela própria exaustão da Abril, que passara 22 anos detentora dos direitos de publicação dos personagens norte-americanos no Brasil, que não conseguiam mais atrair novos leitores e colecionadores, para que renovassem seu público.
A confirmação dos animês na TV e as primeiras experiências do mangá em nossas bancas a partir de 1998 deram sustentação a uma nova fase editorial dos quadrinhos no Brasil.

Parte 04: E os hentai, não contam?!?

Entretanto, há uma linha de publicação constante no mercado que surgiu desde o estouro de CDZ e que apresentou-se como uma indústria atuante dentro da influencia nipônica: o hentai.
O mangá erótico no Japão representa uma grande fatia de sua produção em quadrinhos. No Japão, os impulsos sexuais e o próprio relacionamento entre namorados são muito reprimidos (em comparação ao Brasil). O hentai é uma maneira eficaz de exprimir os impulsos sexuais da sociedade japonesa. São quadrinhos que abordam, principalmente, a sensualidade, a inocência e as excentricidades de uma sociedade que cultua a pornografia, mas de maneira escondida, “faça o que quiser, mas não com a comunidade observando”.[10] Então, esses tipos de quadrinhos suprem essa necessidade reprimida.
Mesmo antes da chegada de CDZ o Brasil já consumia alguns animês hentai. Na década de 1980, a Everest Vídeo lançou uma coleção de 7 fitas com 14 episódios intitulada “Sonhos Molhados” (Creamy Lemon), com algum sucesso. De certa forma, o mercado pornográfico nas bancas do Brasil sempre existiu e se mantêm com certo êxito. Não é de se espantar que quando a invasão da cultura oriental se tornava um fato inegável no Brasil e no mundo, os hentai foram os primeiros a aparecerem em bancas e locadores nacionais.
Além da publicação de alguns mangás piratas de artistas japoneses famosos, como U-Jin, no Brasil se iniciou uma produção constante de quadrinhos inspirados nos hentais. Alguns títulos como Hentai X e Mangá Sex, da editora Xanadu, inclusive apresentam jovens bastante promissores dentro da arte seqüencial. No Japão, muitos profissionais iniciam seus trabalhos com fanzines ou oem editoreas produzindo os quadrinhos de “sacanagem”. Alguns destes artistas que produzem este tipo de quadrinho podem vir a si profissionalizar e ganhar reconhecimento nesta ou em outra vertentes do quadrinho nacional.
Enfim, dentro da indústria pornográfica, o animê e o mangá já haviam sido bem aceitos pelo público brasileiro a pelo menos, uma década antes da febre do Zodíaco.

Parte 05:

Os problemas de renovação de mercado consumidor no Brasil forçaram a busca de novas fontes, principalmente para as novas editoras que desejavam entrar no mercado, porque mesmo a Abril abrindo mão, todo o legado dos super-heróis foi praticamente entregue à uma única editora, a Panini. Como os EUA não tinham outra Image, a Europa sempre foi bem representada por aqui através de Moebius, Serpiere, Manara e a família Bonneli e o fato de que a cultura oriental está expandindo-se rapidamente pelo mundo, e seus mangás e animês sempre foram um excelente veículo para isso e, ainda por cima, baseando-se nas pequenas experiências que mostravam bons resultados de vendas, como Ranma ½, Pokemon e Akira (um pouco antes), o caminho para o oriente estava mais do que claro.
No início de 2000, a editora Conrad, praticamente desconhecida dos fãs de quadrinhos brasileiros, lança uma revista estranha aos nossos padrões. Era voltada ao público jovem, acostumado a ler super-heróis coloridos como o carnaval, mas sua edição era, com exceção da capa, completamente preto-e-branco e, pior, a leitura era feita da direita para a esquerda, do fim para o início, o inverso da leitura ocidental! Como poderia dar certo? E a Conrad ainda teria de se submeter a outras exigências, como ter de, todo mês, enviar a edição à editora japonesa para que fosse avaliada. Mesmo com dificuldades como essas e com obstáculos culturais do tamanho de oceanos, a Conrad apostou no momento em que se encontrava o Brasil e, com bom trabalho editorial lançou o mangá Dragon Ball (DB) nas bancas. Foi um tremendo sucesso.
A DB custava apenas R$ 3,50 e tinha todo o marketing televisivo que fora construído com a série animada. Uma legião de fãs do animê, mesmo que nunca tivessem lido uma história em quadrinhos antes, tornaram-se ávidos leitores. Para ajudar, a Abril, pouco depois reformularia suas publicações, lançando a série Premium, citada a pouco, inaugurando a fase de quadrinhos de super-heróis luxuosos que custavam R$ 10,00. Isso levou muitos cativos dos super-heróis de colantes a optarem por um material diferente, interessante e barato.
Nesse período, depois da publicação de DB, há uma verdadeira reviravolta no mercado editorial brasileiro: pequenas, médias e novas editoras começam a ganhar bom espaço nos bolsos dos consumidores. DB abriu as portas para que entrassem uma enxurrada de novos títulos nipônicos. A Conrad ainda trouxe Cavaleiros do Zodíaco (inevitável), vagabond, One Piece, Blade, Evangelion, Slam Dunk e os quadrinhos coreanos que seguem linhas muito semelhantes aos mangás, conhecidos como manhwa, Chonchu e Ragnarok. A Japão Brazil Conection – JBC foi responsável pela vinda de sucessos como Samurai X (que teria o animê exibido na rede Globo), Gunnm, A Princesa e o Cavaleiro, Guerreiras Mágicas de Rayearth, Yuyu Hakushô, Bastard, X e vários outros. A própria Panini, percebendo rapidamente que deveria criar sua linha japonesa de quadrinhos, começou a publicar Éden, Slayers, Peach Girl e Lobo Solitário, que também havia sido recentemente relançado nos EUA, sendo recorde de ranking de vendas de encadernados durante três anos (2000-2003). A editora Trama (atual Talismã), ainda em 1998 desempenhou um papel importante no mangá brasileiro, também conhecido como mangá-ijin: publicou as misséries Street Figther e Mortal Kombat, ilustrados por Érika Awano e pela dupla Edu Francisco e Rod Reis, os três revelados aos Brasil através da Animax e da Megaman. A Trama foi responsável também por Lua dos Dragões e Holy Avengar, ambas escritas por Marcelo Cassaro, também autor de Victory, três das mais importantes obras dos quadrinhos nacionais para jovens e crianças desde a chegada de Cavaleiros do Zodíaco.
A editora Escala lançou 4 ediçoes de Jovens Guerreiros, título que infelizmente não perdurou. Teve mais sucesso com a série Desenhe e Publique Mangá, onde, em mais de dez edições, dedicou às páginas de sua publicação à leitores e fãs de mangá que gostariam de concorrer a uma premiação e verem seus trabalhos sendo publicados a nível nacional.
Fabiu Yabu lança Combo Ranger, quadrinho com forte importância na história nacional.

Parte 06:

Os mangás das editoras Panini, Conrad e JBC somam atualmente 14 títulos mensais. Só a Panini publica 16 títulos periódicos de comics. A Mythos ainda publica 6 personagens de quadrinhos italianos, os fumetti, fora alguns outros personagens norte-americanos da Marvel e DC que aparecem constantemente em minisséries. A Globo ainda publica toda a Turma da Mônica. A Abril continua com Spawn e alguns cartoons da Warner e Disney. Ou seja, é inegável a consolidação e força do mangá nas bancas brasileiras, mas em meio a tantas revistas, inclusive algumas de editoras não citadas aqui, como a Opera Graphica, o mangá tornou-se agora uma opção e não enterrou nenhum outro tipo de quadrinho, apesar de ser o mais influente entre os leitores, por conta disso até ajudou de forma bastante significativa a indústria nacional.
De um modo geral, a cultura pop japonesa espalhou-se com força pelo mundo. E mesmo o Japão sendo historicamente um país muito fechado para o resto do mundo, quando fez sua revolução no mangá com Osamu Tezuka, sofreu grande influencia Disney. Dos anos 1950 até hoje, os comics surtiram alguma mudança na forma de se produzir quadrinhos no Japão. Segundo Sônia (Doutora em ciência da comunicação pela USP).

O fato é que hoje em dia nota-se, cada vez mais, um intercâmbio de influencias. Tanto os comics passaram a absorver as características dos mangás como os próprios desenhistas japoneses produzem para mercados específicos, como Europa e Estados Unidos. Todos esses movimentos reforçam a tendência que parece fazer do Japão o ícone da cultura pop do novo milênio.[11]

Essa publicação nacional em estilo mangá que aconteceu durante e depois da febre CDZ é apenas um exemplo de como a indústria japonesa conseguiu, apesar das dificuldades e da demora, influenciar não apenas a indústria brasileira, mas também tantos jovens artistas que ficaram tão umbilicalmente ligados a este estilo.


[1]              LUYTEN. Sonia Bibe. Mangá: o poder dos quadrinhos japoneses. Editora Hedra. São Paulo-SP. 2ª ed. 2001. pgs. 97-132.
[2]              PEIXOTO. Sergio. Animax. 1999. nº 47. pg.7.
[3]              Godzila é uma ficção científica que conta a história de um monstro que surgiu através de testes atômicos com bombas nucleares na ilha Bikini, próxima ao Japão.
[4]              LUYTEN. Sonia Bibe. Bravo. São Paulo. Abril. nº 86. 2004. pg. 51.
[5]              Idem 1. Pág. 186.
[6]              O’CONNELL. Michael. Wizard. Globo. São Paulo. 1997. n° 14. pg. 40 (A revista Wizard é a principal publicação sobre quadrinhos no ocidente).
[7]              Idem ao 1. Pág. 184.
[8]              Animax Reloaded. Ed. Magnum. Nº 1. Out. 2004.
[9]              Herói. Ed. ACME e Sampa. nº 1. 1994
[10]             Revista Japão e Coréia.
[11]             Revista Bravo. Pág. 53

2 comentários:

Oliver disse...

Parabéns pela matéria. (;

Oliver disse...

Parabéns pela matéria. (;