terça-feira, 20 de outubro de 2009

Foices e Facões - Entrevista

Essa entrevista foi feita comigo durante a 10ª Feira HQ pela amiga e jornalista Layani Prado e também está em seu blog (http://notas-de-rodape.blogspot.com/search/label/Quadrinhos). Dêem uma lida!


O que o levou a escolher o tema da Batalha do Jenipapo e porque retratá-la em Quadrinhos?
O que me levou foi que eu trabalhei na Fundação Cultural do Estado há quase três anos e lá na fundação eu tive acesso a vários ensaios e apresentações da peça de teatro de Aci Campelo que é executada sobre a Batalha. Então, eu vi essas apresentações, vi os personagens dialogando e interagindo e vi uma boa história, eu achava que tinha todo um apelo que uma boa história de quadrinho precisa ter, era uma boa história pra ser contada. Também sou formado em História pela UESPI e tive contato com alguns textos sobre a Batalha ainda no meu meio de formação e gostei muito dos textos do Monsenhor Chaves. Achei a literatura dele muito boa, a forma como ele relatava era bem interessante. E a Batalha é um tema recorrente aos piauienses, é um tema que enaltece a gente, é um tema que muitos artistas procuram trabalhar e eu já tinha escutado o próprio Amaral falando de trabalhos em artes gráficas da batalha, então achei que daria pra fazer um bom trabalho. Em quadrinho porque é minha área, onde eu trabalho e resolvi trabalhar com quadrinho porque é o que eu faço de melhor.

Como foi fazer a revista? Você se encarregou de todo o processo?

Eu fiz um projeto e eu trabalhava na Fundação Cultural ainda, se eu não me engano em abril de 2008 e eu apresentei o projeto direto pro governador e pra Sonia Terra e de imediato eles aprovaram a revista. O processo foi muito simples, foi basicamente eu e meu irmão que fizemos a revista. Eu fiz o roteiro meu irmão fez todos os layouts das páginas, eu fiz toda a arte final e editoração. Basicamente um trabalho a dois, mas no final da revista eu convidei várias pessoas conhecidas, desenhistas chargistas que participaram, então tem mais 15 convidados que produziram a ilustração e preenchem a revista. Além de meu primo Pedro Victor e o Antônio Victor que são os desenhistas que fizeram a capa, foi muito importante a capa deles, fiquei muito satisfeito com a capa que eles fizeram.

O fato de ser historiador te ajudou a fazer o roteiro da revista?

Muito. O que eu mais gostei no meu curso de História foi da não ilusão de uma história total ou da busca da verdade. Então eu tive essa consciência de que eu ia contar uma história oficial, uma historia pro governo, de que é uma historia vendida pro governo, mas eu tinha consciência de que eu queria algo autoral também. Autoral e verdadeiro, por isso eu criei um núcleo fictício pra historia, eu tentei humanizar os personagens. Inclusive o próprio Fidié que é pintado como um grande vilão pela historiografia oficial. Na verdade eu não culpo a historiografia, mas eu culpo o senso comum que as pessoas têm do Fidié. Até vulgarmente falando, chamam ele de “fidiégua” e pelo contrario, achei um personagem excelente, o personagem que eu mais gostei de trabalhar na história. Acho que porque eu tinha essa intenção de mostrá-lo como um bom soldado.

No processo criativo foi seu irmão quem fez as ilustrações, mas você deu opinião e disse como deveria ser tal personagem, alguma coisa do tipo?
Foi um processo de criação interessante porque a gente praticamente não fez layout dos personagens, a gente não criou a priori os personagens, não concebemos assim. Foi desenhando, fazendo e mostrando. Na hora que o personagem aparecia agente discutia rapidamente como seria e normalmente eu fazia uma referência. Muitas pessoas não sabem, mas a cara de nordestino do Teobaldo é inspirado num personagem que não tem nada a ver com os nordestinos que é um personagem Lance Henriksen que é o ator de Millenium, uma serie norte americana, então quando eu vi o lance eu disse pô o Teobaldo tem a cara do Lance que é uma cara fechada, uma cara com rugas, riscada seria. Então, eu fiz algumas referencias assim. O personagem Português, que é o personagem que faz o par romântico, o Thiago diz que ele é parecido com o Felipe Dylon. Algumas referencias haviam, mas a gente não tinha imagem nem nada parecido pra nos basear. É muito difícil, não existem recursos visuais desse período no Piauí, é praticamente inexistente. Fotografia se existisse no Brasil, não tinha chegado ainda aqui no Piauí. Então, as referencias foram assim. Em alguns momentos o roteiro foi sendo adaptado para a necessidade do Thiago de quadrinizar. O Thiago não fez somente desenhar o roteiro, ele adaptou o meu texto, o meu texto não era o roteiro técnico, e nessa adaptação ele cortou algumas coisas tirou outras, claro que a gente sempre ia conversando. Em alguns momentos eu fiz layout de algumas páginas porque em alguns momentos o texto era pouco descritivo ou era muito descritivo e ai era complicado de quadrinizar. Então 3 ou 4 paginas o layout quem fez fui eu. É um processo muito híbrido, inclusive eu nem queria determinar quem fez o que na história em quadrinhos, eu ia colocar só Bernardo e Thiago, pronto! A gente fez tudo.

Quanto tempo levou desde a idéia da revista até tê-la publicada?
O projeto foi apresentado em Abril de 2008 e se a gente contar a partir do momento que eu fiz o projeto já ta com um ano e 5 meses, mas eu só fui começar a desenhar de fato em Setembro do ano passado então eu digo que foi um ano. Em Setembro do ano passado eu saí da FUNDAC, comecei a fazer o roteiro e foram 4 meses de roteiro e nesses 4 meses foram 8 meses desenhando as 152 páginas que dá quase 20 páginas por mês que é uma media razoável.

Quais foram os recursos gráficos que você usou para confecção da revista? Foi tudo manual?

Foi tudo manual. Houve um tratamento final das páginas no computador, o tratamento foi feito pelo Pedro Victor. Ele quem escaneou todas as paginas. Havia um ou outro erro na pagina, tipo uma caneta que passava do ponto na hora de fazer o quadrinho, então ele retocava a linha, um borrão de nanquim que saia do quadrinho, então esse tratamento visual foi feito depois, esse tratamento é como uma limpeza na página ela não interfere tanto assim na revista. É um retoque. Então, eu diria que 99% da revista foi feito toda manualmente mesmo. Todo o texto foi colocado posteriormente pelo computador no Corel Draw.

Você acredita que esse livro contribui em que aspectos para a história do Piauí?
Bom, a história de forma geral é uma coisa que precisa ser sempre buscada, precisa ser sempre revista. Eu não nego que, de certa forma, essa minha história é muito auspiciosa. Eu tinha a necessidade de fazer a história auspiciosa e didática então, não tenho grandes pretensões de releituras da história da batalha do jenipapo, minha intenção não era essa. Mas ela tem um caráter fundamental que é de popularização da historia tradicional, eu apresento os fatos que delinearam a história numa linguagem que é mais comum, mais acessível. Então o fator fundamental dessa revista é a facilidade de apresentar algo que o Estado e que o povo do Piauí precisa conhecer mais e quer conhecer. O estado tem interesse, tem reverenciado cada vez mais a batalha do Jenipapo, e a história em quadrinhos só tem a acrescentar na totalização da temática. Inclusive outras edições em tiragens mais simples, com o formato mais barato pra distribuição gratuita a gente espera que aconteça.

De onde veio o interesse pelos quadrinhos?
É bem antigo. Eu sou o caçula de uma família de 3 e nós 3 desenhávamos. O meu pai desenhava. Nosso pai, na verdade, sempre foi envolvido com arte e desde criança ele nos envolvia de alguma forma. Levava-nos ao teatro, quando tinha, então a gente via espetáculos cênicos, ele nos levava a shows musicais, nos presenteava com brinquedos musicais e nos presenteava justamente com histórias em quadrinhos. Então, a gente sempre teve um leque de profissões artísticas pra escolher e a história em quadrinhos venceu todas elas, foi a mais atrativa. Desde criança a gente desenha com o nosso pai, que também rabiscava, desenhava e pintava. Foi daí. Minha inspiração foi mesmo o Thiago, que desenha comigo. Ele era uma pessoa mais próxima de mim que desenhava bem melhor que eu. Eu ia aprendendo com ele, à medida que ele ia aprendendo também.

Nada mais oportuno que lançar a revista numa feira de quadrinhos, como foi a realização da feira?
São 10 anos. A décima edição precisava ser especial, não só por ser a décima em si, mas esse ano a gente tinha a necessidade de fazer alguma coisa diferente. Porque inclusive, de uns três anos, a feira vinha decaindo de público, vinha decaindo de atrativos. Apesar de a gente premiar e selecionar a feira em editais públicos como o BNB. A gente premiava, conseguia melhorar a feira, do ponto de vista competitivo tinha publicação, mas de público a feira vem caindo. A gente necessitava fazer uma feira que melhorasse de público, e esse ano foi muito especial. A gente conseguiu esse objetivo, a gente lotou a galeria com atrações não só de quadrinhos, de exibição de desenhos, de shows, de teatro, então foi uma feira muito interessante pra estar aqui nesse momento com essa revista sendo lançada aqui. Inclusive, eu acho a revista mais importante para a história do quadrinho no Piauí do que pra história do Piauí.

Com a realização da feira e dessa revista, como que você avalia a produção cultural de quadrinhos no Piauí?
No ponto de vista dos quadrinhos, a feira vem melhorando nos pontos de publicação e premiação. A gente tem feito isso bem, tem republicado os premiados, e essa é uma publicação importantíssima que marca um selo. Um tipo de publicação que a gente quer dar continuidade. Inclusive, o núcleo de quadrinhos ajudou o Edinaldo Carvalho, que é um autor que foi premiado com a lei Tito Filho, com um romance gráfico, que é uma forma mais pomposa de realizar quadrinho, o Graphic Novel do Cabeça de Cuia. A gente vai lançar esse ano. Então é um momento marcante, é um momento que a Batalha do Jenipapo tem que ter uma vitrine, que as pessoas que fazem quadrinhos no Piauí vejam que podem publicar obras densas, que só os quadrinhistas podem trabalhar, e se superar fazendo. Deixar de fazer coisas pequenas pra deixar guardado na gaveta e apresentar propostas mais grandiosas, eu acho que esse momento serve pra isso, pra mostrar. Eu tenho outro projeto, já estou desenvolvendo outros projetos e eu acho que o momento é daqui pra frente, tentar não parar.

O mais prazeroso e mais trabalhoso, foi a feira ou o livro?
A feira com certeza. Desenhar a história em quadrinho foi muito gostoso. Trabalhar com meu irmão e a gente escolhia o dia que trabalhava, a hora que trabalhava e ser seu próprio patrão é muito bom. A feira de quadrinho demanda outros fatores muito maiores que seu próprio prazer, a sua hora de decidir o que vai fazer, a feira é muito mais complicada.




A revista Foice e Facões - A Batalha do Jenipapo está à venda e custa 30,00. Para comprar a revista e recebê-la em casa basta depositar o valor na conta de CAIO THIAGO de Andrade Oliveira BB Conta Poupança 26.661-2 AG 3285-9 e mandar uma cópia do comprovante de depósito para bernardohq@hotmail.com juntamente com seus dados e endereço completos.

Read more...

Nenhum comentário: