Por
Bernardo Aurélio,
Mestre em História Cultural pela UFPI
Resumo: Durante o
século XIX e primeira década do XX, o método científico manifestou-se com força
nas diversas áreas do conhecimento, inclusive no estudo da História. Varnhagem
e Capistrano são exemplos de pesquisadores que inauguraram modos de fazer
história no Brasil, entretanto, mesmo influenciado pelas leituras de autores
como Comte e Rank, esse paradigma científico do século XIX foi constantemente
superado na construção dos textos desses autores nacionais, que demonstram
grande força textual subjetiva, fazendo-nos lembrar, inclusive a Escola dos Annales,
que surgiria décadas depois.
Palavras-chave: paradigma científico, subjetivida, história
cultural, Varnhagen e Capistrano.
Abstract: During the
nineteenth century and the first decade of the twentieth century, the
scientific method has manifested itself strongly in the various areas of
knowledge, including the study of History. Varnhagen and Capistrano are
examples of researchers who inaugurated ways to make history in Brazil,
however, even influenced by readings of authors like Comte and Rank, this
scientific paradigm of the nineteenth century was constantly overcome in the
construction of national texts of these authors, who show great textual
subjective strength, reminding us, including the Annales school, which would
emerge decades later.
Keywords: scientific paradigm, subjectivity, cultural history, Varnhagen and
Capistrano.
Se perguntado para um seleto grupo de alunos quem
seria o maior historiador brasileiro, pelo menos meia dúzia de nomes seriam
citados. Com certeza, entre os mencionados, apareceria Sérgio Buarque de
Holanda, Gilberto Freyre, Caio Prado Jr. e, talvez, Capistrano de Abreu. Todos,
inquestionavelmente, grandes historiadores. A maioria deles, hoje, pode
dialogar bem com a história cultural francesa que tanto influencia a produção
historiográfica brasileira desde a década de 1980. Mesmo Capistrano de Abreu,
que nos impressiona por ser autor de textos produzidos entre os séculos XIX e
XX que já se preocupava com o espírito e a cultura brasileira, permite um
diálogo harmonioso com a onda do paradigma cultural francês vinda da europa
pelo menos 60 anos depois.
É curioso perceber isso porque, ao tempo em que se
desenvolvia na europa e que se espalhava pelo mundo os métodos científicos e
racionais do século XIX, no Brasil, alguns dos maiores historiadores daquele
período, desenvolviam obras canônicas da nossa literatura histórica que, mesmo
influenciadas por esse meio objetivo, científico, hermético, eram cheias de
"eus", declaradamente expostos em suas posições narrativas. Meu
objetivo aqui é mostrar que, desde a primeira grande obra da história
brasileira, desde Adolfo Varnhagen, estudou-se a história cultural brasileira
sob um ponto de vista declaradamente subjetivo. Não é minha intenção, e nunca
seria inocente ao ponto, de dizer que se fez "história cultural" no
Brasil, como ela é entendida hoje, naquele final do século XIX e início do XX.
Mas afirmo que grandes autores como Varnhagen e Capistrano de Abreu, que
pretendo trabalhar aqui, de maneira nenhuma, seguiram à risca aquela cartilha
cientificista, de temáticas e objetos "limitados", que tanto os Annales
questionaram, e por isso, esses narradores contaram histórias cheias de
personalidade que nenhum Ranke seria capaz.
Sobremaneira procuro aqui diminuir a importância dos
métodos científicos desenvolvidos pelos racionais do século XIX, nem louvar os
autores brasileiros em detrimento à escola francesa, quero apenas dizer que,
como fizerem esses europeus e tantos outros pelo mundo depois deles, nossos
primeiros grandes historiadores nacionais, pelo viés da cultura e da
subjetividade, deram alguns dribles estilosos no paradigma científico,
"misturando-se gostosamente" (2006, p.70), como diria Freyre, aos seus textos.
PRINCÍPIOS DA
HISTÓRIA CULTURAL NA ESCOLA DOS ANNALES
Para entendermos o quanto os autores
brasileiros distanciavam-se desses paradigmas científicos históricos é
importante lembrarmos o porque dessa escola francesa ser tão influente para a
produção histórica atual.
A história cultural de hoje é fruto
de uma construção, inicialmente, mais voltada para o campo econômico e social,
que ganhou força e popularidade depois da crise de 29 devido à publicação da
revista chamada Annales d´histoire économique et sociali, lançada por
Lucien Febrev e March Bloch, considerados representantes da primeira geração da
École des Annales.
Da
produção intelectual, no campo da historiografia, no século XX, uma importante
parcela do que existe de mais inovador, notável e significativo, origina-se da
França. La nouvelle histoire, como é freqüentemente chamada, é pelo
menos tão conhecida como francesa e tão controvertida quanto La nouvelle
cuisine (Le Goff,1978). Uma boa parte dessa nova história é o produto de um
pequeno grupo associado à revista Annales, criada em 1929. Embora esse grupo seja chamado geralmente de
a “Escola dos Annales” (...) O núcleo central do grupo é formado por
Lucien Febvre, Marc Bloch, Fernand Braudel, Georges Duby, Jacques Le Goffe e
Emmanuel Le Roy Ladurie. (BURKE, 1991, p. 07).
O princípio desse movimento era se opor à história meramente
política e factual dos pensadores marxistas e positivistas. Os outros
historiadores que se uniram aos editores dessa revista passaram a se aproximar
cada vez mais de um movimento interdisciplinar, buscando parcerias entre
história e outras áreas do conhecimento. Essa história econômica e social
também observava as estruturas, mas preocupava-se com processos de longa
duração que explicassem mais profundamente os acontecimentos históricos.
A nova história
é a história escrita como uma reação deliberada contra o “paradigma”
tradicional (...). Será conveniente descrever este paradigma tradicional como
“história rankeana” (...) Poderíamos também chamar este paradigma de a visão do
senso comum da história, ao invés de ser percebido como uma dentre várias abordagens
possíveis do passado (BURKE, 1992, p. 10).
Ao longo das gerações seguintes às de Febvre e Bloch,
o campo histórico foi se abrangendo e os objetos históricos sendo
reconfigurados. A ideia de uma história total (não no sentido de uma história
que conta tudo plenamente, mas que se interessa por todo o produto da atividade
humana) foi consolidando a percepção de que tudo possui uma história que pode
ser escrita, um passado que pode ser vasculhado, inclusive no campo imaterial,
como as próprias “ideias”, surgindo então a possibilidade de uma história das
mentalidades. Nesse ponto, o cruzamento da história com a antropologia foi
fundamental. O estudo antropológico do comportamento humano e sua concepção do
que é a cultura do homem permitiu ao historiador observar um campo de objetos
de estudos praticamente infinitos. A história da cultura que era praticada
pelos historiadores era aquela história tradicional, clássica, erudita,
elaborada como cânones da arte em suas diversas expressões. A concepção antropológica
da cultura permitiu aos historiadores enxergar a cultura dos homens em um
âmbito bem mais profundo que apenas a arte produzida por ele. A cultura
torna-se:
(...) “um
padrão, historicamente transmitido, de significados incorporados em símbolos,
um sistema de concepções herdadas, expressas em formas simbólicas, por meio das
quais os homens se comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas
atitudes acerca da vida” (GEERTZ. apud BURKE, 2005, p. 52).
A ampliação do entendimento de cultura dá outro viés
para a concepção de uma nova história cultural, uma história da vida cotidiana,
dos comportamentos e das tradições desse homem na sociedade. Burke faz uma
série de perguntas que podem exemplificar melhor essa nova forma de entender a
história, uma forma onde se observa as diferenças e pluralidades dentro das
classes onde se organizavam e definiam as sociedades:
Por exemplo, se
a cultura popular é a cultura “do povo”, quem é o povo? São todos: o pobre, as
“classes subalternas”? (...) São os analfabetos ou os incultos? Não podemos
presumir que as divisões econômicas, políticas e culturais em uma determinada
sociedade coincidam. E o que é educação? Apenas o treinamento transmitido em
algumas instituições oficiais como escolas ou universidades? As pessoas comuns
são ignorantes ou simplesmente tem uma educação diferente, uma cultura
diferente das elites? (BURKE, 1992, p. 21).
Então, essa história cultural que surge dentro da nova
concepção histórica dos Annales é também uma história vista de baixo pra
cima, que procura entender as outras concepções do mundo que não a história dos
vencedores e dos eruditos. Uma história que entende que existem outras versões
e não uma história definitiva e absoluta. Dessa forma, a história cultural
passa a buscar outras fontes e não apenas os documentos que expressam os pontos
de vistas oficiais. A nova história preocupa-se com uma variedade de evidências
em outras fontes, como dados quantitativos, tradições imateriais e a própria
oralidade. Tudo isso colocou em xeque a cientificidade da evidência e do ofício
histórico em comparação aos métodos dos profissionais rankeanos que buscavam a
objetividade. De acordo com Georges Duby “a ideia de verdade em história
modificou-se porque o objeto da história se deslocou, porque a história passou
a se interessar menos pelos fatos que pelas relações” (1993, p. 59). A história
cultural considera as diversas possibilidades de interpretação e de percepção
da História, numa busca muito maior de verossimilhança do que da verdade da transcrição
dos fatos, portanto, ela afasta-se do ideal científico de apresentar ao leitor
o que “realmente aconteceu”, como pretendiam os positivistas e marxistas.
Burke afirmou ainda:
(...) não
podemos evitar os preconceitos associados a cor, credo, classe ou sexo, não
podemos evitar olhar o passado de um ponto de vista particular. O relativismo
cultural obviamente se aplica, tanto à própria escrita da história, quanto a
seus chamados objetos. Nossas mentes não refletem diretamente a realidade. Só
percebemos o mundo através de uma estrutura de convenções, esquemas e
estereótipos, um entrelaçamento que varia de uma cultura para outra. (BURKE,
1992, p. 15).
Então, a objetividade histórica passou a ser
questionada devido a essa nova interpretação do campo e dos objetos históricos.
Os historiadores começaram a enxergar esses “preconceitos”, dos quais Burke
fala, nos textos de história e passaram a fazer análises de discurso nesses
textos e perceber a intencionalidade subliminar de quem conta a história.
Assim, o ofício do historiador acaba sendo subjetivo.
Há quarenta
anos, uma primeira crítica do “cientificismo” desvendou na história “objetiva”
a sua relação com um lugar, o do sujeito. Analisando uma dissolução do objeto
(R. Aron), tirou da história o privilégio do qual se vangloriava, quando
pretendia reconstruir a “verdade” daquilo que havia acontecido. A história
“objetiva”, aliás, perpetuava com essa ideia de uma “verdade” um modelo tirado
da filosofia de ontem ou da teologia de ante-ontem; contentava-se com
traduzi-la em termos de “fatos” históricos... Os bons tempos desse positivismo
estão definitivamente acabados. Desde então veio o tempo da desconfiança.
Mostrou-se que toda interpretação histórica depende de um sistema de
referência; que este sistema permanece “filosofia” implícita particular; que
infiltrando-se no trabalho de análise, organizando-o à sua revelia, remete à
“subjetividade” do autor (CERTEAU, 2006, p.67).
Isso ainda hoje causa
muito desconforto entre historiadores que continuam buscando a exatidão
científica em seu ofício. Muitos historiadores passaram a estudar essa nova
condição do fazer histórico, Michel de Certeau foi um deles. Em seu livro “A
Escrita da História”, debruça-se sobre três elementos que influenciam
diretamente nesse fazer histórico: 1º) o lugar social de onde e quando o
historiador escreve, que envolve-o sobremaneira; 2º) a prática do historiador
que artificializa a natureza, que transforma o natural em utilitário, ou seja:
na sua prática, o historiador transforma os elementos do meio social em
história propriamente dita e 3º) a escrita “a operação que faz passar da
prática investigadora à escrita (...) pois a fundação de um espaço textual
provoca uma série de distorções com relação aos procedimentos de análise”
(2006. P 94) no ofício de fabricação de um conhecimento histórico. Esses três
elementos, que são também condições inerentes do fazer históricos colocados por
Certeau, estão intrinsecamente ligados, “de fato, a escrita histórica permanece
controlada pelas práticas das quais resulta; bem mais do que isto, ela própria
é uma prática social que confere ao seu leitor um lugar bem determinado”
(CERTEAU, 2006, p.95).
O MÉTODO CIENTÍFICO COM "JEITINHO" BRASILEIRO DE ADOLFO
VARNHAGEN
O século XIX foi marcado no campo das ideias pela
busca constante do método cientifico na produção do conhecimento, influenciando
profundamente inúmeros pensadores em suas diversas áreas de atuação. A
construção do conhecimento humano a partir de linguagem prática e exata, livre
de erros de julgamento e subjetividades era determinante naquela metodologia
oitocentista. Esses métodos científicos, entretanto, começaram a se tornar “via
de regra” desde o século anterior, XVIII, devido a presença influente dos
iluministas e da revolução industrial. Neste cenário de certezas, seria preciso
surgir uma história elaborada para um ofício prático e objetivo na construção
do conhecimento. A história precisava se firmar como ciência.
Na busca pela verdade histórica, o século XIX nos
presenteou com duas fortes escolas historiográficas: o positivismo e o
marxismo. A primeira, mais ligada à história das grandes narrativas épicas,
fatos e heróis, baseava-se principalmente na verdade inquestionável dos
documentos e registros oficiais. A segunda, entendia a história de maneira mais
coletiva e no âmbito das estruturas e lutas de classes. Ambas acreditavam no
método científico e no sentindo progressivo da organização social humana.
Naquela primeira metade do século XIX, o Brasil,
invariavelmente, estava inserido neste cenário do campo das ideias rankeanas,
mesmo assim, de acordo com Vainfas, a problemática da cultura há muito tempo já
ocupava a nossa historiografia em trabalhos de autores como Couto de Magalhães,
Silvio Romero e Mello Moraes Filho, entre outros, que "deram
contribuição inestimável para o resgate
da poesia e festas populares de várias regiões" (2009, p. 218). Ainda em
meados daquele século houve a fundação do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, um marco para a historiografia nacional.
No
Brasil, como se sabe, foi com a fundação, em 1838, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e,
sobremaneira, com a obra de Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878) que os
esforços de disciplinarização foram agilizados e uma retórica da nacionalidade passou a operar no sentido de
“convencer os brasileiros de que compartilhavam um passado em comum assim como
um presente com a mesma identidade” (CEZAR apud SANTOS, 2010, p. 4).
O IHGB foi o instituto oficial criado no governo de
Dom Pedro II que tinha como objetivo principal criar uma identidade nacional a
partir da escrita da história e foi exatamente Varnhagen quem tomou para si
essa tarefa, realizando com esforço hercúleo sua História Geral do Brazil,
entretanto, o autor não se enquadrava perfeitamente nas escolas
historiográficas ou de influencias sociológicas como Ranke ou Comte, na
verdade, apresentou apenas algumas noções gerais das principais correntes
historiográficas oitocentistas: como a busca quase interminável em arquivos por
documentos originais, fontes primárias e objetividade narrativa (CEZAR, 2007,
p. 161). Varnhagen buscava essa verdade inquestionável dos fatos corroborada
pela apresentação dos documentos-provas, entretanto, era um autor
imparcial. "A distinção entre
sujeito e o objeto de pesquisa, fundamento teórico de emergente ciência
histórica, era uma premissa que Varnhagen tinha muita dificuldade em
respeitar" (CEZAR, 2007, p. 161), dessa forma, o autor apresentava-se como
um monarquista, patriota, católico, antiindianista entre entre outras
qualidades que estão fortemente marcadas em seu texto (CEZAR, 2007, p. 162).
Tudo isso são exemplos de que na raíz da construção da historia do Brasil,
mesmo com todo um suporte para pesquisa, projeto estatal e proposta de uma
clara história documental dos fatos, a subjetividade do historiador já ganhava
seus contornos ao redor de um paradigma científico duro e impessoal.
Devido a esses qualidades, Varnhagen não pode ser
enquadrado dentro de um positivismo ou marxismo, as duas escolas que definiram as
linhas-mestre do fazer histórico no mundo ocidental naquele período. Hoje,
procurar entender a produção do conhecimento histórico de escritores como
Varnhagen apenas via os conceitos empregados por uma ou outra dessas escolas
seria uma visão limitada sobre esses autores. A proposta atual de se construir
a história mudou drasticamente ao longo do século XX, com o desenvolvimento dos
Annales, por exemplo, apesar de não negar por completo essas escolas
anteriores. Com essa mudança no fazer histórico também alterou-se o modo de
perceber como ela foi elaborada anteriormente, buscando outras referências e
perspectivas que podem ser percebidas quando observado o percurso
teórico-metodológico dos grandes historiadores brasileiros já citados aqui,
antes mesmo da propagada Nova História Cultural desenvolvida pela Escola dos Annales.
Ora, imaginem Varnhagem estudando a história do Brasil
em meados do século XIX dizendo o quanto o processo de colonização contribuiu
para o desenvolvimento do espírito humano, da lingua e da literatura
portuguesa!
O domínio da
maior parte dos litorais da Ásia que, segundo alguns, concorrera à
desmoralização dos Portugueses, produiu por outro lado nos ânimos tal energia
que, além da glória marítima e militar que a nação adquiriu (e que será
perdurável para sempre nos fastos da História universal e no progresso do
espírito humano) talvez que a essa energia deveu o grande desenvolvimento que
então tiveram a sua literatura e língua. Os escritores quinhentistas (...) são
ainda os mais lidos e preferidos pelos melhores puristas. Desta época é o
primeiro escritor português (...), o grande Camões. O argumento capital de sua
epopéia é a navegação do oriente; e Camões não houvera produzido tal poema
(...) se não tivesse perigrinado até a China "novos perigos vendo e novos
danos" (VARNHAGEN, 1978, p. 22).
Quem entre
nós pode dizer que o estudo da literatura não é um dos maiores temas da
história cultural de um país? Quem pode dizer que Varnhagen não foi sensível o
suficiente para perceber isso? Quem dirá que ele limitou seu trabalho ao estudo
frio dos documentos arquivados quando na verdade demonstrou interesse em
entender a expansão marítima, em seus desdobramentos sociais, que levara ao
progresso do espírito, da língua e da literatura? Quem pode negar que para
contar sua história, Varnhagen citou Camões e outros literatos de sua época? O
gigantesco trabalho de Varnhagen contem questões que vão além do catalogar de
datas e nomes, de uma história seriada (como se isso fosse pouca coisa) a que
ele é injustamente reduzido.
E o que dizer de um autor que escrevendo a História
Geral do Brazil converte os personagens numa “trama novelesca, cujo autor
principal é seu pai, e que ocupa perto um capítulo” inteiro (CEZAR, 2007, p. 166)? Varnhagen teve
a liberdade de contar a história do seus país narrando a partir do ponto de
vista da própria família. Não se limitou a considerar a literatura como objeto
histórico, lançou mão também do uso da subjetivação do próprio pai como sujeito
histórico, características bastante curiosas para um autor do século XIX.
Ainda
falando sobre Varnhagen, Vainfas vai dizer, corroborando com o que estamos aqui
afirmando sobre historiadores do século XIX, que ele “dedicou capítulos
preciosos, em termos de informação etnográfica, à cultura dos índios tupis na
sua História Geral do Brasil” (2009, p. 219). Diz também que autores como
Gonçalves Magalhães e Gonçalves Dias dedicaram-se, como dizia o projeto de Von
Martius, aprovado pelo IHGB, a estudar os povos indígenas empenhados em encontrar
ali nossas originalidades em detrimento da herança portuguesa (2009, p. 219).
Esses autores estavam preocupados em compreender a cultura indígena, porque
“cultura”, em qualquer significado que se dê ao termo, sempre foi um objeto
interessante de estudo, “não seria exagero, portanto, dizer que nossos
historiadores do século XIX, ainda que não o fossem de ofício, salvo raras
exceções, deram contribuições importantes no campo da cultura brasileira,
investigando inúmeros aspectos da sua diversidade em perspectiva histórica”
(2009, p. 219).
CAPISTRANO DE ABREU, SUBJETIVIDADE E CULTURA ANTROPOLÓGICA
E o que dizer de um autor como Capistrano de Abreu?
Sua obra mais significativa é Capítulos da História Colonial, livro de 1907 que
preocupa-se em compreender o Brasil a partir da construção do povo brasileiro
nos sertões de dentro, significativamente afastados da influencia portuguesa
dos litorais. Diferente de Varnhagen, autor de obra volumosíssima, Capistrano
fez um livro pequeno, enxuto, que "respondia às incertezas, satisfazia as
dificuldades, colhia, informava, concluia e resumia o que de melhor se sabia da
nossa formação colonial"
(RODRIGUES, 1969, p. 29). Mas afinal, o que tem em Capistrano que pode
ter, assim como à metodologia da escola dos Annales, arranhado o
paradigma científico do século XIX que influenciava agora o XX? José Honório
Rodrigues, em suas "Explicação" que introduz a quarta edição do
Capítulos da História Colonial, nos dá algumas pistas:
Não é um livro
que se compara; é um livro que se destingue na historiografia brasileira,
escrito numa linguagem simples, branda, enxuta, onde havia doutrina que
persuadia, compreensão que se fazia perceber e novidade apertada, colhida na
vastidão sem fim de suas pesquisas. Não acumulava fatos, mas com sua intuição
compreendia os homens e suas atividades, tornando vivo o recontamento.
A história não
é só fato: é também a emoção, o sentimento e o pensamento dos que viveram (...)
Os sentimentos, as especulações, os pensamentos do povo, suas aspirações são uma
coisa que nunca se repetirá, que viveu e que interessa ao historiador tanto
quanto aos fatos materiais (1969, p. 29).
Então, o método
desenvolvido por Capistrano antecipou em muitas décadas aquilo que só se
começaria a si consolidar a partir década de 1960 através da Escolas dos Annales.
De acordo com José Honório, Capistrano já não valorizava tanto o paradigma
cientifico da história factual e seriada das escolas tradicionais
materialistas, procurava libertar-se das datas, nomes e cronologia que sufocavam
mais que informavam nesses estudos de grossos e vários volumes, como os de
Varnhagen (1969, p. 30). Para ele, valia mais a capacidade da síntese,
preocupado em entender um tempo longo, de proporções psicológicas que revelasse
e permitisse compreender internamente o sentimento do povo. Já em 1875,
buscando entender esse sentimento que preparou os brasileiros para nossa
independencia, era fundamental para Capistrano considerar a longa passagem dos
tempos (assim mesmo, no plural: "tempos") e "pela primeira vez
apresentava-se uma concepção psicológica do suceder histórico e se revivia a
vida da alma popular" (1969, p. 33).
Seria errado dizer que
Capistrano era um subjetivista que não se preocupava com os fatos como
realmente aconteceram por se dedicar mais à compreensão do tempo de longa
duração e psicológico, ou por "colocar-se em simpática comunhão com o
espírito dos atores e autores do drama, reconstruir o processo do pensamento,
penetrar as conclusões e motivos que ditaram a ação e fizeram acontecer o acontecimento"
(RODRIGUES, 1969, p. 35). Seria errado porque Capistrano tem uma formação de
amplas leituras teóricas que vão desde o positivismo ao historicismo alemão,
como nos lembra José Carlos Reis:
Ele optou pela
pesquisa documetal e pelo método crítico alemão que, aliás, ainda hoje é
chamado impropriamente de positivista (...) A influencia alemã o retirou do
positivismo e o levou à hemenêutica. Mas, não foram leituras teóricas que o
retiraram do cientificismo, como quer J. H. Rodrigues, afirma Wehling. Para
este, foi o estudo de documentos, o primado do objeto, que converteu Capistrano
do cientificismo à ciência (1998, p. 68).
Capistrano
deixou de ser positivista quando se tornou ledor de Ranke e outros alemães, mas
não seguiu a catilha à risca, pois "seria incapaz de adotar aquela atitude
e estilo objetivos que apagavam todo o eu, para poder ver os acontecimentos tal
como aconteceram. Nunca seus adversários, como os de Ranke, poderiam comparar
seu comportamento ao das esfinges da segunda parte do Fausto" (RODRIGUES,
1969, p. 29), que contemplam a vida dos povos sem pestanejar, porque para
Capistrano a história "não é somente uma questão de fato; ela exige
imaginação que penetre o motivo da ação, que sinta a emoção já sentida (...)
Ser desapaixonado é perder alguma verdade vital do fato; é impedir-se de
reviver a emoção e o pensamento dos que lutaram, trabalharam e pensaram"
(RODRIGUES, 1969, p. 13). Ou seja, Capistrano era um autor que se deixava
transparecer no texto, que se colocava e que poderia ser encontrado em suas
subjetividades onde escrevia, nem por isso deixou de fazer ciência. Era um
autor que tinha consciência da necessidade e da rigidez do método científico,
da pesquisa documental, do questionamento e do cruzamento das fontes,
entretanto não tentou esconder a si mesmo debaixo de um manto de isolamento e
neutralidade científicos.
Um dos grandes méritos
de Capistrano é compreender as diferenças entre os povos mais no ambito
cultural, antropologicamente falando, do que no viés de raças. "O conceito
de 'cultura' subistitui o de 'raça' e neste aspecto ele é precursor de G.
Freyre, assim como de S. B. De Holanda" (REIS, 1998, p. 70), dessa
maneira, Capistrano inaugurou uma forma de enxergar a relação entre as culturas
brasileiras e perceber a miscigenação no âmbitos das práticas híbridas e do
surgimento do povo verdadeiramente brasileiro no interior de nosso país, fruto
de uma mistura que também era imaterial e que transpassava a barreira da cor da
pele.
Já que falamos de
"povo", a participação popular no texto de Capistrano é
importantíssima e também se distancia dos grandes nomes e feitos. Mesmo sem
falar abertamente de uma "história do povo", compreendida das camadas
sociais de baixo para cima, Capistrano claramente escreveu uma história dos miscigenados,
dos caboclos e mulatos dos sertões do Brasil, esse que seria, de fato, o homem
brasileiro, nascido das misturas e distante da influencia direta do português.
Como disse no início,
meu objetivo aqui é trabalhar apenas Varnhagen e Capistrano e suas influencias
subjetivas no início da históriografia brasileira, mas já dissemos agora há
pouco que Capistrano é precursor de
Freyre, é providencial citar o texto de Peter Burke intitulado "Gilberto
Freyre e a nova história" para entendermos mais profundamente o quanto
Capistrano adiantou-se nessa questão da cultura. Burke preocupa-se em relatar
que a Nova História Francesa dedicava-se ao estudo de uma psicologia histórica,
de uma história das mentalidades, estudados de um ponto de vista cultural no sentido
mais amplo do termo, entretanto, como se sabe, todos esses tópicos foram
discutidos uma geração antes por Gilberto Freyre (1997, p. 14). Burke deixa
claro que a visão antropolígica de Freyre, influenciada por Franz Boaz, na
década de 30 antecipou-se em 30 anos aos estudos de Braudel & Cia. É de
causar grande admiração perceber que Capistrano teve essa percepção
antropológica da cultura e de uma história espiritual, no âmbito psicológico,
quase 30 anos antes de Freyre, em um mundo onde o historicismo, o positivismo
ou o marxismo ditavam as regras da narrativa histórica.
POR UMA HISTÓRIA CARNAL
Pelo que dissemos até
aqui, pela necessidade que um ou outro dos autores trabalhados sentiram de não
tentarem apagar-se em seus textos, quando entenderam ainda no século XIX que a
prática da história é demasiada subjetiva, que sua pessoa está impregnada no
produto histórico que ele cria, mais ainda: quando ele percebe que existe um
caminho criativo em sua elaboração dos textos na relação que tem as fontes e os
objetos de pesquisa, o historiador liberta-se do profissionalismo rankeano e
dessas escolas que propunham a verdade científica inquestionável. O historiador
adquire novos parâmetros para sua pesquisa científica que essas escolas antigas
não propunham e aproxima-se de uma linguagem mais pessoal, diria melhor: uma
linguagem mais carnal, como defendeu Georges Duby:
Muito mais
carnal, saborosa e útil que a concepção superficialmente centrada nos
indivíduos excepcionais, príncipes, generais, prelados ou financistas cujas
decisões parecem governar a efervescência dos fatos, era pra mim a história do
homem comum, do homem em sociedade (DUBY, 1993, p. 13).
Essa história “carnal” a qual Duby se refere não era
apenas aquela que contava sobre o homem comum, ela falava também da relação da
carne com o sentido do prazer que sentimos em nosso ofício histórico ao mesmo
tempo em que questionava essas escolas tradicionais do século XIX, afinal
“realizar uma investigação com todo o rigor necessário não impõe a obrigação
(...) de escrever com frieza, que o cientista cumpre tanto melhor sua função na
medida em que agrada ao leitor prendendo-o e conquistando-o pelos encantos de
seu estilo” (1993, p. 14). Duby acredita que o historiador deve escrever com
paixão para tornar sua leitura prazerosa, e isso é percebido nos textos de
Capistrano e Varnhagen, quando eles defendem suas crenças, sua posição política
ou até mesmo quando escrevem sobre si, partindo do estudo da própria famíla
para contar a história do país.
Interpretando as leituras de autores como os Varnhagen
e Capistrano aos olhos de hoje, percebemos que no momento do processo da
escrita há distorções com relação aos procedimentos de análise e Duby acredita
que a sensibilidade toma à frente nas palavras do narrador:
Pelo menos no
meu caso. Pois eu não pretendia simplesmente oferecer um inventário do que
encontrara ao examinar a documentação, estabelecer um mero processo verbal, um
relato de minha exploração. Propunha-me também a compartilhar com os leitores
uma emoção, aquela mesma que eu experimentara no momento em que, vasculhando
entre os vestígios mortos, julgara ouvir novamente vozes extintas (DUBY, 1993,
p. 61).
É óbvio que compartilhar emoções com os leitores não é
um objetivo isolado do Duby. Dessa forma, a história escrita por autores que
não tem receios de se apresentarem autores presentes no texto, aparentemente,
afasta-se da ciência e aproxima-se mais ainda da arte literária, de saber
prender um leitor pela sua força e atração narrativa. Essa história, então, se aproxima
da habilidade de narrar, o historiador como um narrador, mas não aquele que
conta a narrativa tradicional que valoriza as estruturas e passa por cima das
experiências individuais, mas sim aquela narrativa onde o autor pode ser
percebido, onde ele se coloca e cria a história unindo suas informações e
construindo um cenário, apresentando os personagens e desenvolvendo uma trama.
"É quase um consenso que Varnhagen não é um bom
escritor (...) Não escrevia, redigia" (CÉZAR, 2007, p. 162), apesar da
grande e importante obra, mas não podemos negar nem ignorar sua presença
marcante no texto que produziu, sua relação com Dom Pedro II, com o império e
com a história da própria família na escrita da história do Brasil. Apesar de
não apelar para um estilo literário e belo, Varnhagen tinha outras qualidades
subjetivas que o afastam do paradigma científico vigente na época.
Capistrano, entretanto, é autor de um estilo de
síntese fortemente ligado à literatura, principalmente em ensaios como A
Literatura Brasileira Contemporânea, onde descreve a paisagem brasileira:
"esta natureza exuberante, estas matas sombrias como os árcanos do coração
e perfumosas como as ilusões de um cérebro de quinze anos, as magnificências
que nos circundam, as grandezas que nos esmagam", ou mesmo quando diz em Capítulos
de História Colonial, ainda sobre a natureza: "a luta pelo ar e pela
luz arremessa as plantas para cima, repelem-se nas alturas as copas do
arvoredo, árvores possantes viram trepaeiras, cruzam-se lianas em todos os
sentidos" (1969, p. 45), trechos notadamente dotados de leveza e
sensibilidade narrativa.
É importante que percebamos que essa história contada
através de uma narrativa agradável ou de perspectivas um tando subjetivas, não
se esquece das técnicas. Podemos e devemos nos aproximar da literatura, como
fizeram Varnhagen e Capistrano, ou utilizando-a como objeto de pesquisa ou
aprendo a narrar com ela, porque a literatura sabe contar histórias e as
pessoas as leem e as perpetuam continuamente porque elas são interessantes.
Duby fala do seu posicionamento como e narrador, diz que é função do
historiador construir um palco, plantar o cenário e comunicar o texto,
dando-lhe vida, mas que não deve se iludir, pois ele teria por missão instilar
sua própria vida no discurso, controlando suas paixões, mas sem estrangulá-las,
desempenhando bem seu papel permitindo-se às vezes ser levado pela emoção e
outras vezes não, pois “à história seca, fria, impassível, prefiro a história
apaixonada. Inclinar-me-ia mesmo a considerá-la mais verdadeira” (1993, p.
61-62).
Tanto Burke quanto Duby acreditam que essa nova
história tem regras e técnicas. Existe uma diferença entre a arte literária e a
produção de um texto histórico baseado em provas e evidências, e que o
historiador deve sabe dosar suas paixões durante sua pesquisa, afinal,
historiadores não querem nem devem deixar de fazer ciência.
As técnicas e os processos de pesquisa, análise e a
escrita histórica desenvolverem-se proporcionalmente juntos às novas concepções
de objetos e pontos de vista históricos. Posso dizer que desde Varnhagen e
Capistrano, as grandes e frias narrativas tradicionais das estruturas materiais
foram sendo substituídas pela narrativa analítica de novos objetos e novas
fontes e do estudo da formação dos povos, o que abriu caminhos para o estudo
dos esquecidos, dos marginalizados, dos comportamentos e das mentalidades.
Entretanto, essas técnicas de pesquisa revelam apenas uma pretensão científica
da história, do ponto de vista de uma ciência galileana. Foi o próprio Ginzburg
quem disse:
Como é óbvio, a
cesura decisiva nesse sentido é constituída pelo aparecimento de um paradigma
científico centrado na física galileana (...) Ora, é claro que o grupo de
disciplinas que chamamos de indiciárias
(incluída a medicina) não entra absolutamente nos critérios de
cientificidade deduzíveis do paradigma galileano. Trata-se, de fato, de
disciplinas eminentemente qualitativas, que tem por objeto casos, situações e
documentos individuais, enquanto individuais, e justamente por isso alcançam
resultados que tem uma margem ineliminável de casualidade (...) A ciência
galileana tinha uma natureza totalmente diversa, que poderia adotar o lema
escolástico individuun est ineffabile, do que é individual não se pode
falar. O emprego da matemática e o método experimental, de fato, implicavam
respectivamente a quantificação e a repetibilidade dos fenômenos, enquanto a
perspectiva individualizante excluía por definição a segunda (...) Tudo isso
explica por que a história nunca conseguiu se tornar uma ciência galileana
(GINZBURG, 2002, p. 156).
Logo, toda a nova
história que enxerga o valor do discurso do narrador na construção de um texto
bem como o estudo de casos individuais, está fora desse paradigma científico
das exatas, e o historiador de hoje parece continuar sofrendo como sofreram os
historiadores rankeanos do século XIX tentando validar suas técnicas dentro de
um paradigma onde não lhe cabe.
Gostaria de concluir
citando mais uma vez as palavras de Duby:
Há algum tempo
que emprego cada vez mais a palavra “eu” em meus livros. É a maneira que tenho
para advertir o leitor. Não tenho a pretensão de comunicar-lhe a verdade, mas
de sugerir-lhe o provável, colocando-o diante da imagem que eu mesmo tenho,
honestamente, do real. Dessa imagem participo em boa doso aquilo que eu
imagino. Cuidei, entretanto, para que as elasticidades do imaginário
permanecessem solidamente presas a esses ganchos que em caso algum, em nome de
uma moral, a do cientista, ousei manipular ou negligenciar, e que testei em todos
os casos minuciosamente, para confirmar-lhes a solidez. Estou falando dos
documentos, minhas “provas” (DUBY, 1993, p. 62)
Duby defende uma moral científica no
historiador, que deve ser sincera, honesta e posicionar o pesquisador enquanto
autor falível que busca apresentar provas sem manipulação de conteúdo, apesar
do processo e do caráter criativo de um texto. Por uma história subjetiva,
porém sólida. Eu concordo com ele, certeza que Capistrano concordaria também.
Bibliografia
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História Geral do Brasil: antes da sua separação e independência de Portugal.
São Paulo: Melhoramentos, 10ª ed., 1978 (Tomos primeiro e segundo, secção
XXIII).
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Um exame da ética historiográfica no Brasil do
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CEZAR,
Temístocles. Varnhagen em movimento. Breve antologia de uma existência. Topoi,
v. 8, n.15, jul-dez, p. 159-207, 2007.
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brasileira. História: Questões & Debates, Curitiba: UFPR, n. 50, jan-jun,
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BURKE, Peter. A
revolução francesa da historiografia: A escola dos annales (1929-1989). São Paulo: UNESP, 1991.
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BURKE, Peter. O que é história cultura? Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
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CERTEAU, Michel. A escrita da história. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2006.
DUBY, Georges. A história continua. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.
GINZBURG, Carlo. Mitos,
emblemas, sinais. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
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