Daytripper: Não, não quero falar da música dos
Beatles. Quero falar de um gibi criado pelos irmãos gêmeos brasileiros Fábio
Moon e Gabriel Bá. Na verdade, não terminei de ler o livro deles ainda e nem
sei se tem alguma ligação do quadrinho com a música homônima dos besouros. Mas
normalmente é a primeira coisa que vem a nossa cabeça se conhecemos um pouco
dos rapazes de Liverpool quando pegamos esse livro em nossas mãos. Como sou
muito mediano em inglês, usei o Translete Google e não vi ligação nenhuma, mas
deve ter, com certeza. Entretanto, o que realmente importa é que se há ou não
ligação, e se você percebe isso ou não, de nada interferirá no prazer da sua
leitura.
Daytripper é um desses trabalhos onde percebemos que
os artistas que nós gostamos realmente amadureceram, perderam os excessos
artísticos e encontraram o caminho do sucesso criativo. Os irmãos Bá e Moon
faziam fanzines, pequenas crônicas em quadrinhos, muitos num clima bem
nostálgico, blazé, algo meio indie
rock, sabe? Poesias e reflexões sobre a vida? Umas das histórias desses
fanzines, que eles chamam de 10 Pãezinhos (aliás, um nome muito fofo, fala a
verdade?) era sobre um grupo de amigos que se encontram no aniversário de um
amigo morto para lembrá-lo. A alma do falecido aparece e todos saem pra si
divertir, beber e escutar rock. Esse é o tipo de coisa que os irmãos fazem
muito bem.
Eles entraram no mercado americano há um bom tempo e
Bá já estava fazendo um sucesso danado nos Estados Unidos com a série Umbrella
Academy (escrita por Gerard Way,
vocalista da banda My Chemical Romance). Ele deveria estar muito ocupado então otimizou
o tempo com o irmão de alguma forma que o Fábio tomou a dianteira nesse projeto,
pelo menos nos desenhos (que são sensivelmente diferente dos do irmão, que tem
um estilo muito parecido com os de Mike Mignola, autor de Hellboy) e produziram
a série em 10 edições de Daytripper, publicadas originalmente pela DC Comics
(de Batman e Superman) pelo selo Vertigo, e que a Panini lançou encadernada. Bá
faz as capas e poucas páginas internas, mas os dois dividem toda a autoria do
livro.
Enfim, do que trata? Cada
uma das edições que já li é uma história fechada, com um tema específico. Numa
visão ampla, temos: discussão sobre família, relação com os pais, amigos, amor,
infância e trabalho. Brás de Oliva Domingos, o
protagonista, é filho de um grande e premiado romancista nacional e sente o
peso de querer continuar o ofício do pai. Como escritor, Brás consegue lançar
um romance e se torna o autor das colunas diárias sobre os mortos nos jornais,
algo de que ele parece não se orgulhar muito... Daytripper é sobre todos os “e
se...” que podem acontecer em nossas vidas. E se eu tivesse decidido fazer
aquela viagem louca pra Salvador? E se eu tivesse falado com aquela garota
linda que olhou pra mim no supermercado? E se meu melhor amigo enlouquecesse?
São essas coisas que levam a história de Brás pra frente, numa falta de
cronologia e continuidade absurdas que transformam esse livro em algo único.
Quando lemos, sentimos aquele impulso de: “Porra! Aproveita a vida!”. Cada
instante pode ser o último e você não sabe, definitivamente, quando a morte
poderá te levar. Inclusive, a morte é um tema recorrente da série e está
presente em praticamente todos os capítulos.
Moon e Bá fazem parte do top da
renovação dos quadrinistas nacionais, dos quais estão presentes também autores
como Rafael Coutinho, Rafael Albuquerque e Rafael Grampá, que fazem sucesso no
exterior e que também já tem obras publicadas no Brasil. Pode procurar!
Garanto!
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